Diminuir a formação de vasos sanguíneos numa área afetada por cancro pode ser solução para o tratamento desta doença. Um grupo de investigadores das universidades de Bristol e Nottingham, no Reino Unido, verificou que inibindo uma molécula envolvida na formação dos vasos sanguíneos a densidade destes diminuía e os tumores dos ratos testados cresciam mais lentamente, segundo o estudo publicado esta segunda-feira na revista científica Oncogene.

As células cancerosas caracterizam-se por um crescimento descontrolado – dividem-se sem regras, não morrem e invadem outros tecidos não relacionados. As células perdem a capacidade de cumprir as funções que mantinham naquele tecido, mas mostram-se capazes de produzir outro tipo de moléculas que vão influenciar o funcionamento das células e tecidos que as rodeiam ou mesmo do órgão onde estão inseridas. Um dos passos fundamentais no desenvolvimento do cancro é a capacidade de aumentar a formação de vasos sanguíneos que fornecem alimento às células cancerosas e permitem que estas se dispersem pelo organismo.

Os investigadores confirmaram que o fator responsável pela formação de vasos sanguíneos (fator de crescimento do endotélio vascular, VEGF na sigla em inglês) vai sendo ativado ou desativado à vez numa situação normal, mas que, em caso de cancro, estas células apenas ativam a formação dos vasos sanguíneos, sem nunca haver inibição. Analisando o cancro da próstata humano os cientistas verificaram que a molécula SRPK1 aumenta à medida que o cancro se torna mais agressivo.

A equipa injetou os ratos doentes três vezes por semana com uma droga capaz de inibir o funcionamento da molécula de SRPK1 e o crescimento do tumor diminuiu, segundo o Telegraph. “Verificámos que a inibição da atividade de SRPK1 poderia parar a progressão do cancro. De facto, com este trabalho mostrámos que ao diminuir os níveis de SRPK1 em células de cancro de próstata, ou em tumores enxertados em ratos, éramos capazes de mudar a ação do VEGF, logo inibir a vascularização e crescimento do tumor”, disse em comunicado o coordenador do estudo Sebastian Oltean, investigador na Faculdade de Fisiologia e Farmacologia da Universidade de Bristol.

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Reduzir a formação de vasos sanguíneos pelas células cancerosas foi também a proposta de uma equipa de estudantes portugueses, mas neste caso usando a hipergravidade. A experiência, realizada nas instalações da Agência Espacial Europeia no âmbito do programa educativo ESA Spin your thesis, produziu uma grande quantidade de resultados que serão analisados até ao final do ano.

No Reino Unido são diagnosticados 40 mil novos casos de cancro por ano, dos quais 10 mil acabam por morrer, o que motivou as instituições Prostate Cancer UK, Conselho de Investigação de Biotecnologia e Ciências Biológicas (BBSRC, na sigla em inglês) e o Fundo de Investigação para VEGF Richard Bright a financiar este estudo. Em Portugal, o cancro da próstata atinge anualmente 3.500 a 4 mil portugueses, segundo um comunicado de imprensa da Sociedade Portuguesa de Urologia. Embora, seja a segunda causa de morte por cancro no homem nos países ocidentais – em Portugal morrem 1.800 pessoas por ano -, a sua possibilidade de cura é de 85% quando detetado precocemente.

Apesar de as causas do cancro da próstata ainda serem desconhecidas, os fatores de risco são sobretudo a hereditariedade e a idade. Uma análise ao sangue pode mostrar o aumento de uma substância libertada pela próstata – um indício da doença -, mas o diagnóstico deve ser complementado com o exame do toque retal, refere o comunicado. “O estigma e o medo associados aos exames realizados para despistar as doenças da próstata, após os 45 anos, deverão ser combatidos pois que, controvérsias à parte, só dessa forma é que se consegue combater este tipo de patologias e diminuir o número de mortes que elas provocam”, disse Arnaldo Figueiredo, Presidente da Associação Portuguesa de Urologia.