Miguel Macedo treme, mas não caiu. Em seis meses, o ministro da Administração Interna viu-se envolvido em mais um caso de corrupção no seu ministério. Desta vez, o caso dos vistos Gold apanhou de surpresa o ministro, que colocou o lugar à disposição, não tendo sido aceite pelo primeiro-ministro.

Há seis meses, tinha sido detido o ex-diretor-geral de Infraestruturas, João Correia, por suspeitas de corrupção em casos de obras para o ministério em ajustes diretos. A detenção ocorreu na sequência de uma auditoria interna que o próprio Macedo enviou para o Ministério Público.

A “bomba” dos vistos Gold rebentou à hora de almoço de quinta-feira. A Polícia Judiciária entrou no ministério, antes das 13h, para fazer buscas relacionadas com a nomeação de um oficial da ligação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) em Pequim – que seria uma técnica superior deste organismo. Miguel Macedo estava ainda na reunião do Conselho de Ministros, na Teixeira Gomes, quando a polícia resolveu fazer as buscas.

Os elementos da PJ apreenderam na secretaria-geral do Ministério da Administração Interna, na rua de S. Mamede ao Caldas, o computador e documentação sobre o processo de nomeação do oficial de ligação ao secretário-geral-adjunto, Ricardo Carrilho – que, no anterior Governo de Sócrates, já tinha sido nomeado para cargos na Administração Interna tanto pelo ministro Rui Pereira como por António Costa.

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Minutos depois, começava a ser noticiado na comunicação social as detenções, 11 ao todo, relacionadas com a investigação da Polícia Judiciária a casos de corrupção na concessão dos vistos Gold.

É só ao fim da tarde, já depois desta sucessão de detenções, que Macedo volta a falar com o primeiro-ministro e coloca, então, o lugar à disposição, soube o Observador. Trata-se da primeira vez que um diretor de um órgão de polícia criminal, o SEF, é detido e altos funcionários do Estado.

Enquanto isso, as ligações de Macedo a outros dois detidos são conhecidas. É sócio de Albertina Gonçalves numa empresa de advogados, secretária-geral do Ministério do Ambiente, e trabalhou com António Figueiredo, presidente do Instituto dos Registos e Notariados, no Governo de Durão Barroso quando Macedo era secretário de Estado da Justiça.

Macedo foi ainda sócio de Ana Luísa Oliveira Figueiredo, dona da empresa Golden Vista Europe e filha de António Figueiredo. Segundo o Público, o ministro vendeu a sua quota a 29 de Junho de 2011 antes de entrar para o Governo, embora esta transação não esteja inscrita no Portal da Justiça.

A investigação aos vistos Gold está circunscrita a este Governo. A lei que cria os vistos Gold é de 2012 e o primeiro foi atribuído em março de 2013.

Há precisamente seis meses, João Correia, antigo diretor da Direção Geral de Infraestruturas e Equipamentos do Ministério da Administração Interna, era detido (permanece em prisão preventiva) por suspeitas de corrupção em obras adjudicadas.

Pedidos de ministros sucedem-se

A colocação do lugar à disposição não é uma novidade para Passos Coelho. Há algumas semanas, tinha sido a vez do ministro da Educação, Nuno Crato, por causa dos erros na colocação de professores.

O próprio Passos veio confirmar essa notícia. “Tenho muita honra em poder dizer que o senhor ministro da Educação, tendo-me colocado na altura o lugar à minha inteira disposição, para que o primeiro-ministro pudesse decidir como entendesse, nunca evitou lavar as mãos, ou melhor, nunca evitou agarrar o problema e nunca procurou lavar as mãos do assunto”, disse, a 20 de outubro.