O “pequeno herói sírio”, afinal, não era mais do que uma encenação. O vídeo, onde se podia ver um rapaz de tenra idade a enfrentar as balas para salvar outra criança durante um tiroteio na Síria, é, na realidade, uma encenação realizada por uma equipa de filmagem norueguesa, revelaram os próprios à BBC.

O vídeo, que se tornou viral em poucos dias, nem sequer foi gravado na Síria: o palco da encenação foi uma pequena localidade de Malta e foi gravado durante o verão. O realizador, Lars Klevberg, escreveu o guião depois de assistir às imagens captadas pelas câmaras de televisão e que todos os dias nos trazem cenas do conflito na Síria. O objetivo de Klevberg era promover a discussão sobre a fragilidade das crianças nas zonas de conflito.

“Se eu conseguisse fazer um filme que parecesse real, as pessoas iam partilhá-lo e reagir com esperança”, justificou o realizador de 34 anos. Mesmo quando confrontado pela BBC com a possibilidade de ter enganado milhões de pessoas, Klevberg garantiu que “não se sentia desconfortável”: “Ao publicar um vídeo que parecia real, nós tínhamos a esperança de tirar partido de uma ferramenta bastante usada durante a guerra; fazer um filme que garanta ser real, [não o sendo]. Nós queríamos ver se o filme ia conseguir atenção [mediática] e estimular o debate, principalmente sobre a questão das crianças em cenários de guerra”.

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As crianças que aparecem no vídeo, segundo revelou agora o realizador, são atores profissionais de Malta e o cenário do tiroteio já foi usado noutras produções cinematográficas conhecidas, como o filme Troia ou o Gladiador. Além disso, foi financiado pela Norwegian Film Institute (NFI) e pela Audio and Visual Fund from Arts Council Norway e foi sempre pensado para que parecesse real aos olhos dos visualizadores. De acordo com o produtor, John Einar Hagen, as imagens da criança a sobreviver às balas disparadas deveriam, ainda assim, “revelar algumas pistas sobre o facto de o filme não ser real”, garantido que tanto a equipa de filmagens como a fundação que investiu no filme “tiveram longos debates sobre as questões éticas que envolviam a realização do vídeo”.

A representante da NFI para o filme, Ase Meyer, ouvida pelo mesmo canal britânico, garantiu estar surpreendida com o facto de “as pessoas pensarem que 0 [vídeo] é real. Quando vi o filme, o pequeno rapaz é atingido e continua a correr. Não havia sangue na criança” adiantando que a “intenção [da equipa de filmagens] não era cínica, nem pretendia ser uma maneira de conseguir atenção. Eles tinham motivações honestas”.

Apesar de tudo, em poucos dias o vídeo conseguiu ultrapassar a marca das 5 milhões de visualizações e motivou diferentes reações, não só de esperança e de empatia pelo “pequeno herói sírio”, mas também de ódio para com os falsos atiradores, que muitos garantiam ser tropas afetas ao regime de Bashar al-Assad.