Aos 26 anos, Sara do Ó lançou um negócio de contabilidade com Filipa Xavier de Basto. Eram duas pessoas, duas secretárias e 12 metros quadrados com um objetivo claro: dar cor, dinamismo e “garra feminina” ao cinzento das contas das pequenas e médias empresas (PME). Às duas empreendedoras, juntou-se Ricarda Fernandes e, oito anos depois, o Grupo Your emprega 70 pessoas, fatura 2,5 milhões de euros, ocupa um escritório com mais de 500 metros quadrados e tem mais de 500 clientes. Próximo passo: internacionalização, com Luanda, em Angola, e São Paulo, no Brasil, na manga.

À empresa inicial de Sara do Ó juntaram-se mais seis, que atuam em áreas como a comunicação de marcas, consultoria financeira, de recursos humanos, seguros ou serviços. Todas sob a designação Your. A mais recente é a Your Serpla, que disponibiliza um conjunto de atividades no âmbito da saúde e segurança no trabalho. No final de 2014, Sara do Ó prevê fechar o ano com um crescimento do volume global de negócios na ordem dos três milhões de euros. Entre os clientes do Grupo Your constam empresas como a Vodafone, Banco Atlântico, PC Clinic, Mind Source ou Hamburgueria do Bairro.

Esta quarta-feira, 19 de novembro, assinala-se o Dia Global do Empreendedorismo Feminino, como parte integrante da Semana Global de Empreendedorismo, da qual Sandra Correia, presidente executiva da empresa de cortiça Pelcor, é embaixadora em Portugal. O dia vai ser assinalado em 144 países, com uma cerimónia oficial na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque para celebrar, envolver e capacitar mulheres empreendedoras, que lançam startups, geram empregos e contribuem para o crescimento da economia.

Sara do Ó Meneses e Castro

Sara do Ó lançou a empresa que daria origem ao Grupo Your quando tinha 26 anos, em 2006

Com o Dia do Empreendedorismo Feminino, Wendy Diamond, presidente da Animal Fair Media e fundadora da iniciativa pretende que este dia seja um movimento que apoie mulheres empresárias dos vários continentes, durante todo o ano.

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“Capacitar as mulheres no mundo e investir nos seus futuros ajuda a conduzir e a promover a vitalidade e segurança da economia global e localmente. As competências de liderança do século XXI, como a cooperação, comunicação e partilha estão, regra geral, mais associadas às mulheres. Queremos celebrar os aspetos positivos inabaláveis que as mulheres empreendedoras trazem para a economia global, bem como inspirar e apoiar as futuras gerações”, explica Wendy Diamond.

Em Portugal, o número de homens empreendedores corresponde a 9,3% da população adulta masculina e as mulheres a 6,2% da feminina, de acordo com o estudo independente GEM – Global Entrepreneurship Monitor, promovido em Portugal pelo ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa e pela SPI Ventures. “Assumindo que o número total de homens e de mulheres é aproximadamente igual, conclui-se que o número de empreendedores do sexo masculino é exatamente 50% superior ao número de empreendedores do sexo feminino“, lê-se no estudo de 2012.

“Não é preciso inventar a roda”

Em 2011, o Grupo Your foi considerado uma empresa Gazela pela revista Exame por ter sido das que mais cresceu em cinco anos de atividade. Sara do Ó explica que, em 2006, sentiu alguma dificuldade em lançar a empresa pela conjugação de três fatores: ser jovem, ser mulher e estar a falar de números. “Atualmente não, porque há provas dadas. Mas antes, por ser uma área tão masculina, foi um bocadinho complicado”, conta.

Com uma filha de dois anos, dois enteados e uma equipa de 70 pessoas para gerir, a jovem de 33 anos adianta que pode ser mais difícil conciliar as duas coisas, mas gerir bem o tempo e impor regras ajuda no dia a dia. “Por exemplo, à quarta-feira, aconteça o que acontecer, eu vou buscar a minha filha ao colégio. E toda a minha equipa sabe isso“, explica.

Nos oito anos que a separam do primeiro passo que deu no negócio, Sara do Ó conta que houve muita coisa que mudou. “Houve uma evolução substancial. Isto hoje já nem é tema, com as provas que as mulheres já deram ao longo destes últimos anos”, revela. Importante é preservar a capacidade de acreditar, não desistir.

“Não é preciso inventar a roda. É preciso pegar num conceito e transformá-lo numa coisa diferente”, diz Sara do Ó, que aos 26 anos, ingressou num universo empresarial tradicionalmente masculino.

As emoções e a maternidade podem afetar o negócio? As mulheres enfrentam maiores dificuldades do que os homens no acesso capital? Têm de se comportar com os homens? Para responder a estas questões, a Sedes, Associação para o Desenvolvimento Económico e Social e a Associação Portuguesa de Business Angels organizaram um evento, dentro da Semana Global do Empreendedorismo, que vai contar com a presença da embaixatriz dos EUA, Kim Sawyer, que, em Portugal, fundou o programa “Connect to Success”, para apoiar mulheres empreendedoras.

Joana Mendonça, do grupo de empreendedorismo da Sedes, que organiza o evento, adianta que o principal objetivo de 19 de novembro é inspirar as mulheres para o empreendedorismo. “Não há grande diferença entre homens e mulheres empreendedoras. A desigualdade está na nossa cabeça. Nós temos é mais medo de arriscar e tendemos a ter mais os pés no chão”, explicou ao Observador.

Karina Costa, da Fábrica de Startups e responsável pelo pelouro do empreendedorismo na EPWN – European Professional Women’s Network, de Lisboa, adianta que apenas um em cada dez projetos que aparecem na Fábrica de Startups são promovidos por mulheres. Empreendedora, revela que, para lançar um negócio, não interessa se se é homem ou mulher. O que interessa é a “pró-atividade, audácia, capacidade de desbravar caminhos, não aceitar um ‘não’ como resposta, a ambição”, entre outras características.