A estratégia do novo secretário-geral, António Costa, à frente do PS já está a ser questionada dentro do próprio partido. Na última reunião da bancada parlamentar socialista, alguns deputados criticaram o silêncio do PS em algumas matérias e pediram mais intervenção na praça pública. Além disso, há quem peça uma maior atividade parlamentar com a apresentação de mais iniciativas na Assembleia da República.

Segundo relatos feitos ao Observador, na reunião da bancada parlamentar, na quinta-feira de manhã, houve intervenções de deputados sobre, pelo menos, quatro assuntos em concreto em que consideram que o PS devia ter tomado posição, pedindo ao líder parlamentar Ferro Rodrigues uma tomada de posição do partido, seja no Parlamento, seja no Rato. As críticas vieram tanto de apoiantes de António Costa, eleito em novembro, como de António José Seguro.

A sondagem publicada nesta sexta-feira pelo Expresso e SIC (link para assinantes), que dá uma aproximação da maioria ao PS de Costa, já corria nos corredores da Assembleia da República nessa altura e deixou preocupados alguns deputados. E há quem acredite que esta tática de Costa de gerir com pinças a atualidade pode ser prejudicial a longo prazo… e ainda faltam muitos meses para eleições.

O deputado José Lello foi um dos deputados que questionou o silêncio do partido num caso concreto: a nomeação de Gonçalo Reis para presidente da Administração da RTP e Nuno Artur Silva para a área de conteúdos. Lello chegou a defender que se chamasse o ministro da tutela, Miguel Poiares Maduro, mas a resposta de Ferro Rodrigues foi que o partido não tinha nada a falar sobre o assunto, uma posição concertada com o secretário-geral, António Costa.

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Mas não foi o único a questionar o silêncio dos socialistas sobre temas de atualidade. Além da TAP, poucas têm sido as tomadas de posição neste início de ano. E os deputados, segundo relatos ao Observador de várias fontes presentes na reunião, fizeram saber que precisam de saber o que dizer quando confrontados com algumas perguntas, até de militantes.

Ao que o Observador apurou, houve uma deputada que questionou sobre a transferência da gestão de hospitais para as misericórdias e outro deputado que falou sobre a descentralização de competências – aprovada esta semana pelo Governo – para as autarquias. Este assunto é mais sensível aos socialistas de Costa uma vez que a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), presidida pelo socialista Manuel Machado (que foi mandatário de António José Seguro) ter dado parecer negativo ao processo.

Além destes deputados houve ainda um outro que pediu uma maior oposição em matérias de Justiça. Até a questão dos feriados veio à baila, apesar de o PS ter apresentado um projeto lei para a reposição de dois dias – aqui a dúvida tinha a ver com o facto de o PS só ter proposto a reversão de dois dias e não dos quatros feriados que foram abolidos.

A todos os deputados, Ferro Rodrigues respondeu que a intenção é que o PS seja muito cauteloso e ponderado nas reações. O mesmo quando se fala da atividade parlamentar do partido. De acordo com uma fonte parlamentar, Ferro Rodrigues pede iniciativas aos deputados, mas alerta sempre para a necessidade de terem em conta o impacto orçamental. Esta posição traduziu-se nos últimos tempos pela apresentação de projetos-lei em áreas mais sociais, como foi o caso do projeto-lei para melhorar o combate à violência doméstica ou os dois projetos desta semana da adoção por casais gay e da procriação medicamente assistida.

Certo é que desde que é líder do PS, António Costa tem tido mais cuidado nas intervenções públicas, optando muitas vezes por não falar ou remeter para mais tarde uma posição. Nesta última semana, por exemplo, os socialistas pouco falaram dos temas da atualidade, centrando sobretudo as intervenções na privatização da TAP. Esta estratégia, notada entre os socialistas, começa a criar algum “desconforto”, foi assim descrita por alguns parlamentares de todas as fações: seguristas e costistas.