A decisão foi “ponderada” e pensada durante muito tempo. Já sabia “há mais de seis meses” que o adeus, o oficial, seria nesta altura, quando janeiro já caminha para o fim. E foi mesmo: esta quinta-feira, Pedro Proença confirmou a sua retirada da arbitragem depois de 20 anos e 465 jogos a correr, apitar e tirar cartões do bolso. E “mesmo reconhecendo” que pode “ter errado em decisões” que tomou, o árbitro português assegurou que tentou “sempre contrariar a inevitabilidade do erro humano”.

Perante um auditório da sede da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), em Lisboa, cheio, à pinha, e com Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, e Bruno de Carvalho, presidente do Sporting (que se cumprimentaram), entre os presentes, o agora ex-oficial subiu ao palco para falar. Fê-lo com a ajuda de uma folha de papel, na qual escrevera o discurso de despedida.

Começou por admitir o “desgaste” de uma atividade “tão exigente a nível físico e mental”. A tal que, em 2012, valeu a Pedro Proença a distinção de melhor árbitro do mundo pela Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS, na sigla inglesa). Nessa ano foi ele o escolhido para com o apito mediar a final da Liga dos Campeões e do Europeu da Polónia e da Ucrânia. Dois jogos que serviram de “culminar” da carreira. “Estive em competições extraordinárias com os mais talentosos intervenientes”, sublinhou, com um sorriso na cara a servir de prova.

Tudo junto, entre partidas da UEFA e da FIFA, o já ex-árbitro português, de 44 anos, esteve presente em 101 jogos internacionais — desde 2003, anos em que Proença começou a apitar encontros fora de Portugal. Realçou que “as possíveis falhas” que cometeu “jamais colocaram em causa” a “postura de seriedade” com que tentou “sempre pautar” a sua “prestação em campo”. Lembrou que cometeu “erros” e admitiu, aliás, ter “sofrido por esses erros” — em agosto de 2011, no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, foi agredido à cabeçada e partiu dois dentes.

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Agora, arrumados o apito, os cartões e o equipamento, Pedro Proença revelou que estará “sempre disponível para contribuir, no que for necessário, para o desenvolvimento da arbitragem e do futebol português”. Mas, por enquanto, dedicar-se-á à “gestão e administração” que tem como profissão, e à “vida académica” na qual dá aulas. Foi noticiado na quarta-feira que Proença poderá em breve integrar o Comité de Arbitragem da UEFA, liderado por Pierluigi Collina, antigo árbitro italiano que, na passada semana, até defendeu a continuidade do português na arbitragem.

Desporto, Futebol, Campeonato do Mundo

Pedro Proença apitou três partidas na última edição do Mundial, no Brasil: duas na fase de grupos e uma nos oitavos-de-final, entre a Holanda e o México

Mas nada feito. Pedro Proença assegurou que particiou “em tudo o que quis”. No currículo faltaram-lhe apenas a final de um Mundial de futebol e do Mundial de Clubes — competição na qual esteve presente, em dezembro, e apitou um encontro dos quartos-de-final e o que atribuiu o terceiro e quarto lugares. “Somos sempre pessoas insatisfeitas, queremos sempre fazer mais, mas sinto-me extremamente realizado”, enalteceu, já depois de revelar que atingiu “um patamar” que o deixa “orgulhoso”. E mais: “Tenho consciência que deixo uma imagem de competência, profissionalismo e seriedade. Delego às novas gerações uma heranca de peso, num percurso sempre pautada pela máxima dedicação e entrega.”

Depois vieram os obrigados. Proença dirigiu-os a todos. Aos clubes, jogadores, associações de futebol, à UEFA e à FIFA. E também à FPF, a cujo presidente, Fernando Gomes, entregou no final uma camisola de árbitro e uma insígnia da FIFA. Após a despedida do oficial foi a vez de Vítor Pereira, líder do Conselho de Arbitragem da federação, admitir que Pedro Proença fará “falta à arbitragem” nacional. “Não reajo com alegria. Podia continuar mais algum tempo e ir acima dos 45 anos. Mas é uma decisão difícil e temos de respeitá-la”, explicou.