O passe sai com muita força e a bola foge ao pé que a devia amparar. A baliza estava deserta, sem um homem a guardar-lhe as redes, mas o avançado, também ele sozinho, inventa um remate que não acerta no golo. Errar é coisa de jogador, de quem passa hora e meia a tocar na bola — raro, muito raro, é o futebolista que chega ao fim de uma partida sem errar no que seja. Não são os únicos. “Vai errar como todos erramos, mas esperamos que seja isento”, dizia Leonel Pontes, o homem que ordena no Marítimo, sobre João Capela, o homem do apito que iria ordenar sobre o jogo.

Errar, pronto, é coisa de humano. Todos o fazem. Maicon fê-lo, logo aos 5’, quando um livre de Ricardo Quaresma, transformado em cruzamento, encontrou o brasileiro que, ao invés de rematar, usou a cabeça para tentar passar a bola a alguém azul. Ninguém apareceu. Casemiro, aos 12’, também exagerou na força e na mira calibrada para cima quando, após um corte de Rúben Ferreira, rematou de primeira uma bola para a bancada, quando estava dentro da área. Ninguém acertava na baliza.

FC Porto: Fabiano; Danilo, Maicon, Indi e Alex Sandro; Casemiro, Óliver Torres e Hector Herrera; Ricardo Quaresma, Juan Quintero e Jackson Martínez.

Marítimo: Salin; João Diogo, Patrick Bauer, Raúl Silva e Rúben Ferreira; Danilo, Fernando Ferreira e Bruno Gallo; Edgar Costa, António Xavier e Maazou.

Os dragões, até chegarem à baliza, erravam pouco. A bola circulava, os passes entravam, Quintero fingia-se de extremo à direita para ter espaço para ao meio ir tabelar e, na esquerda, Quaresma extremava nas fintas e dribles junto à linha. Até aí, tudo bem, mas depois os cruzamentos não encontravam Jackson e os remates não acertavam com a bola na baliza. Erravam nisso. Porque o Marítimo conseguia errar muito pouco a defender. João Diogo e Rúben Ferreira, os laterais, cobriam espaço como não o fizeram contra o Benfica, os centrais cortava passes atrás de passes e Danilo, diante da defesa, tapava o que sobrava.

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A atacar era outra coisa. Os madeirenses, sempre encolhidos para defenderem, não conseguiam contar até três quando tentava sair a jogar com a bola na relva. A pressão que o FC Porto acionava após ficar sem a bola funcionava. E bem. Maazou, o avançado dos anfitriões, mal tocava no bem redondo. Era uma questão de ver quem começava a errar mais, e primeiro. Aos 26’, talvez farto de passar a bola e esperar por espaço, Quintero, a uns 25 metros da baliza, disparava um remate. Nem ele acertou.

Logo depois, um contra-ataque que acabava em Quaresma, na esquerda, deu-lhe a bola para fintar João Diogo e dar ao jogo um pontapé na bola que acertava na baliza — ou nas mãos de Salin, que agarrou a bola. Primeiro remate, primeira parada. Algo que não aconteceria do outro lado. Aos 31’ o Marítimo lá conseguiu, com um ataque, chegar à baliza de Fabiano, quando Edgar Costa, na direita, cruzou a bola à procura de Maazou. Não o encontrou porque Bruno Martins Indi lhe tocou com a cabeça para a tirar dali. Não para longe, pois o corte transformou a bola num balão que caiu sobre o pé esquerdo de Bruno Gallo — que dentro da área, de primeira, rematou. E marcou.

Erro de Indi, golo do Marítimo. Uma causa, uma consequência. 1-0 e os madeirenses aproveitavam a única hipótese para marcar que tiveram até ao intervalo. Após o golo o Marítimo continuou igual: fechado e unido junto à sua área a defender. Encolhido, sim, mas fazia-o bem e inventava uma arma para lutar contra as várias que o FC Porto tinha. Como a trivela de Ricardo Quaresma, que aos 41’, dentro da área, rematou para Salin se esticar e impedir o empate, após o português se livrar de Rúben Ferreira com uma finta bonita na primeira vez que se fez de extremo no lado direito do ataque.

Algo tinha que acontecer. Pelo menos para forçar, mais ainda, o Marítimo a errar quando defendia. Terá sido isto que Julen Lopetegui, treinador dos dragões, pensou quando no balneário deixou Quintero e de lá tirou Cristian Tello, o extremo que corre até mais não. Arrancadas e velocidade, era isto que o espanhol ia dar a um dos lados do relvado para, talvez, explorar o que tantas vezes correra mal aos madeirenses na semana anterior, frente ao Benfica — lidar com os metros de espaço entre os laterais e os defesas centrais.

Resultou. João Diogo passou a correr muito mais e, quase sempre, atrás de Tello. Os dragões passavam a ter dois jogadores amantes da linha em cada lado e o Marítimo encolhia-se ainda mais. Os erros começavam a aparecer mais — e a dobrar, do lado de quem perdia. Aos 54’, a bola vinda de um canto marcado por Quaresma foi rematada, de primeira, por Casemiro, na área, mas Salin, deitado na relva, defendeu. Só que deixou a bola à sua frente e para Indi que, nem a um metro dali, remataria para as mãos do guarda-redes. Ambos fizeram mesmo o mais difícil: acertar no francês.

Depois seria Tello, aos 63’, a também ele fazer o difícil e disparar um remate que acertou no poste direito, após lançar um sprint para o tal espaço entre João Diogo e Bauer e esperar pelo passe de Jackson. A jogada teria ainda um remate de Quaresma para Salin parar, depois de a bola ressaltar no poste. Três minutos antes já Gonçalo Paciência, filho de Domingos, de 19 anos, entrar em campo para se estrear na liga, se fixar na frente e deixar Jackson deambular por onde visse que conseguir criar perigo.

O Marítimo, depois, mal atacou. Os extremos eram cópias de laterais e Maazou servia para apertar Casemiro ou Rúben Neves, os médios que recuavam e pediam a bola aos centrais portistas. Fechar, defender e tentar não errar, eis as ordens que a equipa do Marítimo tinha. Até o foi conseguindo, à exceção de Raúl, que aos 77’ fez a segunda falta que fez o árbitro mostrar-lhe um cartão amarelo. Um central expulso e o jogo ainda mais complicado para os madeirenses.

E para os dragões. Com menos um em campo o Marítimo acumulou jogadores junto à sua área e encurtava os metros que o adversário tinha para fazer passar a bola. Bolas a rondar a baliza, portanto, só voltara a aparecer quando o FC Porto teve cantos a favor. Primeiro, aos 87’, quando Rúben Ferreira, com os pés em cima da linha de baliza, usou a cabeça para não deixar que a bola rematada por Rúben Neves desse o empate. Depois, aos 88’, Tello esperou à entrada da área, Quaresma passou-lhe a bola desde um canto e Salin defendeu o remate de primeira do espanhol.

O francês, ora com erro alheio ou acerto seu, parou todas as bolas que remataram à sua baliza. “Foi uma vergonha o que se passou com o Benfica. O guarda-redes precisa sempre de sorte e fiz o meu trabalho”, diria, no final da partida. Fez mesmo, pois o Marítimo venceria e os dragões sairiam da Madeira com a segunda derrota no campeonato. A equipa tentou, teve “éne oportunidades”, como lembrou Quaresma, ou “inacreditáveis”, aos olhos de Lopetegui. “Se te marcam à primeira oportunidade é uma dificuldade que tens de superar”, defendeu o treinador, após o encontro.

O FC Porto não foi capaz. Atacou, foi dono da bola e rematou muito, mas também errou. Nos remates que podiam ter dado golo e na jogada que deu ao Marítimo o dele. A derrota deixa os portistas à mercê de ficarem a nove pontos do Benfica — caso os encarnados vençam na segunda-feira o Paços de Ferreira. E o Sporting, assim, já só está com um ponto a menos que os dragões.