desilusão

O jogo está renhido, o resultado parecia não desatar do nulo e, de repente, por fim, há um golo. Faltam quatro minutos para o árbitro deixar o apito em paz e a equipa que o marcou pensa: ok, vamos aguentar isto, a vitória não pode fugir. Não é uma questão de fechar tudo a sete chaves ou de perder tempo, mas antes de fazer com que não haja mais jogo, e ponto final. Como? Colocar a bola nos pés de quem melhor a sabe segurar, mandar um chutão para a frente sempre que a pressão aperta ou até ser matreiro irritar o adversário para ganhar faltas.

O importante, nestas alturas, é adormecer o jogo. Impedir a equipa que está do outro lado de, sequer, ter condições para reagir. O Sporting não o fez. A minutos do golo encarnado, por exemplo, recuperou uma bola junto à área, colocou-a em Carlos Mané, que tinha metros para galgar à frente e, ao invés de correr devagar, esperar por um adversário e, talvez, virar-se de costas e guardar a bola, preferiu arranca um sprint, tabelar com Nani e continuar a correr sozinho contra os centrais contrários. Perdeu a bola.

É um exemplo que mostra como os leões não se quiseram encostar à área e fechar tudo. Depois, numa jogada em que Pizzi está de costas para a baliza e chuta para trás um balão que cai perto de si, a sensação é que os jogadores do Sporting preocuparam-se todos em correr para saírem da área e colocarem os adversários em fora de jogo. Só Paulo Oliveira terá olhado em volta para ver por onde andavam os jogadores encarnados — é o único que não é apanhado em contrapé.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Depois houve o ressalto, o pontapé de Jardel e o golo. Marco Silva queixou-se que a sorte não bateu à porta da equipa. Talvez. Mas esta falha de concentração e a forma como, depois de marcar, não abrandou as coisas e tornou feio o jogo, deixaram que o Benfica ligasse o tal modo “tudo por tudo” e fosse à caça do empate. O anti-jogo é feio, sim senhor, mas só é anti para os adeptos da equipa que perde e corre atrás do resultado. E por alguma razão se abafam as críticas quando, mesmo jogando mal, se ganha. Porque o importante é, e sempre será, o resultado, mesmo que a forma como é alcançado importe para a sensação com que depois se fica do encontro.

E a sensação neste dérbi foi a de um Sporting melhor. Não teve mais bola, mas teve-a muito tempo na metade do campo do Benfica e, mesmo sem inventar mais do que uma hipóteses das grandes para marcar (além do golo), não deixou que a equipa da Luz montasse jogadas com mais de quatro passes seguidos e conseguiu suster a velocidade que os encarnados costumam dar aos momentos em que procuram chegar à baliza contrária.

destaque

O Benfica entrou em Alvalade como se entrasse no Dragão — cauteloso. Por isso Talisca viu mais de uma hora de jogo sentado no banco, enquanto André Almeida ficou no relvado quase até ao final e acabou por ser dos melhores da equipa. Jorge Jesus não queria perder e, mesmo tendo-o evitado apenas na última jogada da partida, conseguiu-o.

Este empate fez com que o Sporting voltasse a passar uma época sem perder com o rival, para o campeonato. Algo que já não acontecia desde 2007/2008, quando Paulo Bento ainda dava ordens nos leões e, em Alvalade, também empatou por 1-1 (os golos, já agora, foram de Simon Vukcevic e Óscar Cardozo, dois que já não moram em Portugal). E mais: nunca antes o Estádio de Alvalade se enchera tanto. Os leões registaram a melhor assistência de sempre graças às 49.076 pessoas que estiveram nas bancadas.

Quem, com este empate no dérbi, ainda reside na corrida pelo título, é o FC Porto. A equipa de Lopetegui fez o que terá de fazer até ao final do campeonato — ganhar. Jackson Martínez chegou aos 16 golos na liga e a vitória (2-0, contra o Moreirense) reduziu para quatro os pontos que separam os dragões das águias. Ainda não chega para dependerem apenas de si, mas a pressão que o Benfica sentirá antes de cada partida, deste modo, ficará um pouco mais apertada.

frase

“O 3-3 foi um pontapé nas partes baixas.” Pedro Emanuel arranjou uma maneira subtil para dizer algo que representasse dor. A mesma que Marco Silva terá sentido, pois também o Arouca sofreu um golo quando escassos minutos restavam para se fechar o encontro: ao suposto golo da vitória de Roberto, aos 84’, seguiu-se o do empate de Mário Rondón, do Nacional da Madeira, no minuto seguinte.

Sofrer assim, às últimas, custa. E Marco Silva bem lembrou que “os golos nos últimos minutos têm custado pontos” ao Sporting. Ou empates. Entre os cinco primeiros classificados, os leões são a equipa com mais empates (sete), de nada lhes servido o facto de serem a que menos derrotas já somou — são a única equipa que ainda só perdeu uma vez neste campeonato, frente ao Vitória de Guimarães.

resultados

Moreirense 0-2 FC Porto
Vitória de Setúbal 0-0 Académica
Vitória de Guimarães 0-1 Belenenses
Marítimo 1-2 Gil Vicente
Arouca 3-3 Nacional da Madeira
Paços de Ferreira 2-1 Penafiel
Estoril Praia 0-2 Sporting de Braga
Sporting 1-1 Benfica
* o Boavista-Rio Ave joga-se a partir das 20h desta segunda-feira.

Umas palavras para o Paços de Ferreira, única equipa que, nesta vigésima jornada, conseguiu vencer um encontro em casa. Até ver, pois o Boavista também o pode conseguir frente ao Rio Ave, esta segunda-feira. As vitórias forasteiras foram muitas, e até inesperadas.

Porque o Gil Vicente, que apenas tinha uma vitória na liga, foi à Madeira ganhar ao Marítimo e avivar a lutar pela permanência. O Belenenses viajou a Guimarães para confirmar o momento tremido do Vitória e abrir a porta para que o Braga saltasse para o quarto lugar, com a vitória contra o Estoril.