A Caixa Geral de Depósitos (CGD) registou um resultado líquido negativo de 348 milhões de euros no ano passado, o que implica uma melhoria face ao prejuízo de 579 milhões de euros apresentado pelo banco público em 2013. Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a instituição financeira refere que o progresso se verificou “num contexto de reforçada liquidez e de favoráveis níveis de adequação dos capitais próprios”. A Caixa revela que, no final de dezembro de 2014, o recurso a financiamentos do Banco Central Europeu (BCE) se situava em “3.110 milhões de euros em termos consolidados”, valor inferior aos 6.335 milhões de euros que se verificavam no fecho de contas de 2013.
O balanço da Caixa indica que o resultado bruto de exploração “cresceu cerca de 32% totalizando 410,8 milhões de euros” e que, para este desempenho, contribuíram a atividade internacional do Grupo estatal e os negócios realizados no âmbito das atividades de banca de investimento, “que aumentaram no ano, respetivamente 59% e 40,1%”.
Apesar dos números divulgados, a Caixa reconhece que a rendibilidade foi afetada “negativamente”, durante os segundo e terceiro trimestres de 2014, “pelo reconhecimento de custos de imparidades associadas à exposição ao Grupo Espírito Santo (GES) e no último trimestre pelo esforço de provisionamento ocorrido na sequência do AQR” (asset quality review) realizado pelo BCE, “bem como pelo impacto líquido da anulação de impostos diferidos decorrente da redução da taxa de IRC”, no valor de 85 milhões de euros.
“Margem financeira, diferença entre juros pagos e juros recebidos, “registou, apesar da redução das taxas Euribor, uma evolução positiva no ano, tendo terminado 2014 com um crescimento de 15,7%.”
As situações identificadas forçaram o banco a fazer um reforço das provisões, o que afetou os resultados, embora os custos “associados a provisões e imparidades” tenham registado, de acordo com os dados revelados pela Caixa, “uma redução de 15,6% face ao ano anterior, totalizando 949,6 milhões de euros”. Quanto à “cobertura do crédito vencido superior a 90 dias por imparidades registou um reforço, aumentando de 99,9% para 102,3% em dezembro de 2013 e 2014, respetivamente”.
A margem financeira, diferença entre juros pagos e juros recebidos, “registou, apesar da redução das taxas Euribor, uma evolução positiva no ano, tendo terminado 2014 com um crescimento de 15,7%”. Em relação às comissões cobradas, atingiram 515 milhões de euros em termos líquidos, valor superior em 0,3% ao que foi registado em 2013. A valorização dos títulos de dívida soberana portuguesa deu uma ajuda nos resultados financeiros obtidos com operações financeiras, que “totalizaram 201,7 milhões de euros, em resultado da negociação e de gestão das carteiras de ativos, num contexto de valorização, em particular na componente da dívida pública portuguesa”.
A administração da Caixa assinala, também, que o processo de racionalização da instituição conduziu a uma redução de 5,4% nos custos operacionais, entre os quais se verificou um recuo de 8% nos encargos com pessoal. A relação entre os custos suportados pelo banco e as receitas alcançadas baixou para 75,5%, em comparação com os 81,6% que se verificaram em 2013. O banco considera que esta circunstância ficou a dever-se, também, ao aumento do produto bancário, que se situou “em 1.738,4 milhões de euros”, com uma “variação positiva homóloga de 1,4%”.
“Esperamos continuar a ter uma redução de efetivos. Tem sido feito por reformas. Vamos tentar acelerar mais esse processo com o recurso às pré-reformas para a racionalização dos nossos recursos humanos”, avançou José de Matos, presidente da Caixa.
O plano de racionalização da rede de agências no mercado doméstico levou ao encerramento de 19 balcões no ano passado, de acordo com a Lusa, reduzindo o quadro de pessoal em 232 funcionários, revelou o presidente da Caixa, José de Matos. O líder do banco público destacou que, só nos dois primeiros meses de 2015, serão fechadas mais 21 agências, fruto do trabalho desenvolvido no ano passado, e que os números relativos aos trabalhadores dizem respeito aos efetivos. “Esperamos continuar a ter uma redução de efetivos. Tem sido feito por reformas. Vamos tentar acelerar mais esse processo com o recurso às pré-reformas para a racionalização dos nossos recursos humanos”, avançou.
Ainda assim, José de Matos disse que deve ser um processo natural, “sem ruturas e conflitos desnecessários, porque não é altura para isso”. “As condições da atividade bancária em Portugal são muito desafiantes e muito exigentes. Temos feito um esforço para racionalizar a nossa rede de agências e a mão-de-obra que usamos”, afirmou durante a divulgação das contas de 2014.
O responsável considerou que “os trabalhadores da CGD têm feito um trabalho notável em condições particularmente difíceis. Isto, porque a CGD tem estado imposta a constrangimentos do ponto de vista do Orçamento do Estado”, que disse compreender, mas que criam “dificuldades para uma entidade que atua num cenário de concorrência”. Mas, realçou, “esses aspetos também vão normalizar, porque a economia está a normalizar”. E concluiu: “Não obstante as condições muito difíceis de funcionamento, a CGD desempenhou o seu papel com muita competência nestes últimos anos”.
A instituição refere ter conseguido reforçar a liderança nos depósitos com uma quota de mercado que avançou de 27,6% no final de 2013 para 28,6% em novembro de 2014.
No crédito concedido a clientes houve uma redução, em termos líquidos, de 4,5% e, de acordo com o documento divulgado no site da CMVM, deveu-se, em parte, a amortizações antecipadas de empréstimos concedidos a unidades do setor empresarial do Estado no valor de 900 milhões de euros. O banco refere, também, ter começado a verificar-se “um maior dinamismo nos fluxos de crédito às empresas não financeiras privadas, excluindo construção e atividades imobiliárias”, com a “nova produção de crédito à habitação” a registar “um aumento de 16,4% face a 2013”.
Os recursos de clientes, adianta a Caixa, tiveram um crescimento de 3.291 milhões de euros, que correspondem a uma subida de 4,9%, “atingindo um saldo de 71 134 milhões de euros”. A instituição refere ter conseguido reforçar a liderança nos depósitos com uma quota de mercado que avançou de 27,6% no final de 2013 para 28,6% em novembro de 2014, “com especial destaque para a quota de mercado do segmento de particulares que era, em final de novembro, de 32,4%”, situação a que não terá sido estranha a crise no Banco Espírito Santo (BES), que culminou com a medida de resolução que lhe foi aplicada a 4 de agosto de 2014.
A informação divulgada pela Caixa acrescenta que “a atividade internacional apresentou o expressivo contributo de 334,3 milhões de euros para o resultado bruto de exploração do Grupo”, assinalando um crescimento de 59,0%. As operações em Espanha geraram lucros, através do Banco Caixa Geral (BCG), de 20,1 milhões de euros, contra perdas de 57,3 milhões em 2013, enquanto a sucursal da CGD reduziu os prejuízos de 113,9 milhões de euros para 66,1 milhões. Na Ásia e em África os resultados foram positivos em 46 e 44,8 milhões de euros, respetivamente, mas, uma vez mais, a exposição ao GES impediu que as operações desenvolvidas fora do território nacional dessem um “contributo positivo” para o respetivo resultado consolidado, que ficou em 2,8 milhões de euros negativos.