Miguel Ferreira, Daniel Carvalho, Teresa Araújo e Guilherme Aresta, todos estudantes do mestrado integrado de Bioengenharia da Universidade do Porto, entre os 20 e os 22 anos, ganharam a oportunidade de ver a sua experiência ser enviada na missão Lander, que, em 2018, fará uma viagem ao “planeta vermelho”, e procuram agora mais apoios para começar a desenvolver o protótipo.

“A Mars One [fundação holandesa sem fins lucrativos] paga a viagem até Marte. Nós vamos ter de pagar o desenvolvimento, a construção e a validação do nosso protótipo”, lembra Daniel Carvalho à agência Lusa, explicando que apesar de já terem vários parceiros a nível técnico e científico, faltam entidades que ajudem no “grande suporte financeiro que o projeto requer”. Até porque, sublinha Miguel Ferreira, este trabalho requer “imensos testes” e “material e pessoal especializado da área da aeronáutica”, pelo que o custo poderá, no limite, atingir o milhão de euros.

Quanto ao protótipo, que terá apenas o tamanho de uma “caixa de sapatos”, com pequenas caixas dentro, passará por um sistema que assegure a água e a energia elétrica necessárias à germinação das sementes, que partem da Terra congeladas.

“Quando a sonda aterra em Marte, os painéis solares vão ser ativados e vão dar energia elétrica para o funcionamento do sistema. Haverá uma membrana onde as sementes vão ser aderidas, depois vai ser injetada água e fornecido calor para que a planta possa germinar”, descreve Daniel Carvalho.

Isto, ressalva Miguel Ferreira, respeitando as regras da preservação planetária: “Tem de ficar tudo isolado através de uma caixa exterior e temos de esterilizar as sementes para tirar todos os micro-organismos. Tudo o que vem da Terra não pode tocar em Marte”.

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Depois, controlarão o processo através de fotografias de satélite, o que lhes permitirá verificar o crescimento da planta “arabidopsis thaliana”, escolhida por ser “a planta mais estudada do mundo”. Ao longo de todo o processo, contarão com a supervisão de Helena Carvalho, investigadora principal no IBMC e especialista em biologia vegetal.

“Em princípio irão em condições controladas e pensamos que as sementes irão germinar, mas não é garantido, porque há diferenças de temperatura muito grandes na viagem, há radiações, a gravidade é diferente, a viagem é muito longa”, ressalva.

Sublinha, no entanto, que, caso tudo corra como previsto, poderá ser um importante passo para uma futura “colonização” de Marte, ou não aspirasse a Mars One a estabelecer a primeira base humana neste planeta ainda antes de 2030. “As plantas terão de ir primeiro, ainda que num sistema isolado, porque a atmosfera em Marte não é respirável, mas terão de existir para fornecer alimentação e oxigénio”, justifica.

Além de Helena Bastos e dos quatro jovens estudantes, a equipa conta ainda com Raquel Almeida, estudante de doutoramento do programa MIT Portugal, Miguel Valbuena, estudante de doutoramento no Centro de Investigações Biológicas, em Madrid, e Jack van Loon, professor na Universidade de Amesterdão.

Formado maioritariamente por jovens cientistas do Grande Porto, o projeto ganhou a votação pública ‘online’ da Mars One University Competition, concluída no dia 31 de dezembro de 2014, batendo nove outros finalistas.