Camisolas feitas com fio de cortiça, único no mundo. Sapatos e ténis de homem com pele de peixe — que tanto pode ser carpa ou salmão. Capas contemporâneas e malas de burel, como as dos serranos das terras altas. Ou roupa que parece vinda da estreia de uma peça no Teatro Nacional Dona Maria II. Todas estas peças a conviverem lado a lado, no mesmo espaço, com um único objetivo: crescerem juntas. Joalharia, calçado, malas, acessórios, roupa e produtos de decoração. Tudo português. Tudo emergente. Tudo à procura de internacionalização.
Sandrina Francisco, Sofia Peralta e Adelaide Nunes são as caras do projeto que nasceu a 9 de fevereiro, em Lisboa, (ao qual também se juntou Nuno Brito) para mostrar “que em Portugal também há moda” nova, inovadora e a querer cativar os consumidores lá fora.
A Start’Ups Design Room é uma “comunidade de designers”, como explica Sandrina Francisco, que desde 2007 apresenta o Moda Portugal, na RTP Internacional, e que também foi o rosto da rubrica Espelho Meu, na Praça da Alegria, transmitido na RTP1. Em 2002, lançou a Fashion Studio, agência de produção de moda. O que querem? Divulgar marcas nacionais. Porquê? Porque “juntas têm mais potencial de vingar”.
“Uma marca sozinha, se calhar não tem tantas hipóteses de ter um comercial a trabalhar para si ou alguém a trabalhar em marketing. E juntas conseguem”, explicou Sandrina. No Design Room, na zona de Chelas, em Lisboa, estão 14 marcas residentes, mas há mais a caminho. A seleção passa por escolher os projetos que já tenham algum know-how, “pessoas talentosas” e que “acrescentem valor”, por exemplo, em termos de matérias primas.
Sandrina e Sofia conhecem-se há cerca de 15 anos. Com um percurso profissional marcado pela assessoria de imprensa na área da moda, Sofia Peralta trabalha com Sandrina desde então. Adelaide Nunes juntou-se mais tarde, há cerca de três anos. Foi entrevistada pela apresentadora no Moda Portugal, porque decidiu mudar de vida quando tinha cerca de 40 anos. Deixou o emprego que tinha na L’Oréal, onde era responsável pela formação do segmento premium da marca, para fazer uma formação em consultoria de imagem e dedicar-se à moda.
A ideia de criar um design room nasceu quase por acaso, quando Sandrina foi convidada pelo Hotel Fonte Cruz, na Avenida da Liberdade, a produzir a animação da Vogue Fashion’s Night Out, em outubro de 2014. “Decidimos fazer uma produção só com marcas nacionais e quatro mil pessoas entraram no hotel para vê-las”, conta. Daí a perceberem que juntar as marcas era uma estratégia de divulgação, foi um passo.
Na Start’Ups, as peças dos diversos criadores estão em exibição permanentemente, para que as produtoras de moda possam ir lá escolher os artigos que querem para produção, para que as lojas possam ir lá diretamente fazer negócio ou para que os jornalistas também as possam conhecer.
“O objetivo do design room é ser uma montra de todos estes designers nacionais”, diz Sandrina. No dia da inauguração, fizeram negócio com duas lojas e agendaram uma produção com a atriz Marta Andrino, para o primeiro número da revista que a apresentadora de televisão, Cristina Ferreira, lança em março.
Quem mora na Start’Ups Design Room?
Ana Sabino
Nasceu em 2009, pelas mãos da criadora com o mesmo nome da marca e assume-se como “romântica, feminina e intemporal”. E é clara: não segue tendências. As coleções são desenvolvidas em atelier e baseiam-se numa procura de exclusividade. Peças únicas que lembram figurinos de uma peça de teatro, onde o glamour e a irreverência se juntam numa mistura de padrões e tecidos.
Griffe Fca
A paixão de Fátima Capucho nasceu em 2010 como hobby, mas cresceu até se tornar na Griffe Fca, uma marca de acessórios que está direcionada para o público feminino clássico e romântico. Pérolas, penas e pendentes em colares statement, feitos para preencher o outfit.
Grigi
Mónica Gonçalves anda desde 2010 a vencer prémios com malha de cortiça. Primeiro, a vitória no campeonato europeu Euroskills, em 2010, e dois anos depois a vitória do concurso EcoFriendly, do Portugal Fashion. Depois de ter vencido este último, ficou durante quase dois anos a desenvolver o fio de cortiça que utiliza nas suas peças, juntamente com outros materiais tipicamente portugueses, como o burel. O fio, com espessura até um milímetro, está patenteado e é único no mundo. Moda que lembra a tradição.
Imelda’Secret
Rafaela Marques Pinto nasceu em Lisboa há 42 anos. Viveu em países como os Estados Unidos e Inglaterra e foi à arquitetura que se dedicou profissionalmente. Aos 40 anos, quis mudar. Depois de ter desenhado cidades e equipamentos durante 20 anos, desenvolveu a marca Imelda’Secret em cinco meses, que já esteve exposta em feiras de moda em Paris e Londres. Hoje, exporta para o Reino Unido, França e Espanha. Por ser uma mulher alta, só faz sapatos rasos, com cores, texturas e padrões que fazem lembrar uma selva africana.
Marlene Oliveira
É a “marca com alma” que tem como missão despertar consciências. Criada em 2011, pela designer com o mesmo nome, a marca de roupa ecológica foi selecionada para desfilar num concurso em São Francisco, nos EUA, em 2010, e dois anos depois, venceu o concurso Jovens Criadores, da Artes & Ideias. Nesse mesmo ano, ficou em segundo lugar num concurso organizado pelo CITEVE. Com peças minimalistas e puristas, as coleções de Marlene têm a terra nos pés.
Marta Branco
Marta Branco passou pelo atelier do criador João Rolo antes de se aventurar com a sua marca própria, direcionada para o segmento feminino, de cariz casual, que se diferencia pela mistura de materiais, do plástico à borracha e à lã natural. Público-alvo: a mulher prática que quer estar confortável e versátil. Os produtos podem ser personalizáveis, ao gosto da cliente.
Maurizio Fer
Nasceu na Venezuela e foi já em Portugal que se dedicou ao design de mobiliário, que numa situação de desemprego se transformou numa projeto de moda feminina, para todos os gostos. A ideia nasceu da paixão da mulher por malas e sapatos. E é isto que se pode encontrar nos produtos deste criador de 31 anos. Saltos irreverentes, mais ou menos altos, sabrinas clássicas ou apostas mais arrojadas que ligam aberturas a diferentes texturas. A pensar em todo o tipo de mulheres.
Midd Design
Criada para reinventar tradições portuguesas através do design, esta marca é a única residente do design room que aposta nos produtos de decoração. Peças criadas com recurso às técnicas manuais, são arte nas obras dos artesãos. Em lã de ovelha portuguesa e na reinvenção do ferro alentejano, por exemplo, a Midd Design distingue-se pela utilização de materiais recicláveis e pelas técnicas de produção tradicionais.
Not 4 Robot
“Chapéus únicos para pessoas únicas.” É este o slogan da marca Not 4 Robot, que desenvolve chapéus e boinas com gravatas recicladas. Os padrões combinam-se numa atmosfera irreverente, produzida artesanalmente a pensar em todos os fãs deste tipo de adereço entre os 19 e os 55 anos, sejam homens ou mulheres. O resultado são peças autênticas, únicas e irrepetíveis, que aliam o design às preocupações ambientais, com enfoque para a utilização de materiais típicos portugueses.
Saccus
Paulo Pereira foi desafiado por uma amiga a criar uma mala de mão e nunca mais parou de desenvolver produtos de moda. A Saccus é direcionada para o segmento masculino e aposta na pele de peixe para se diferenciar. Carpa, salmão ou esturjão em sapatos e ténis produzidos em Portugal, numa parceria com a portuguesa Fish Skin. Pensada para criar artigos de marroquinaria com burel, em 2013, a marca integrou a pele de peixe mais tarde, depois de saber que esta já era utilizada em produtos de decoração.
Sandrine Vieira
Joalharia de autor, com peças em prata, pele e outros materiais. Sandrine Vieira vive e trabalha em Leiria. Nascida em Paris, tirou o curso de Design Gráfico, na ARCA, em Coimbra, e trabalhou em agências de comunicação em Lisboa. A 22 de novembro, lançou um novo espaço em Leiria e lançou oficialmente a marca “Jóias da Cidade”.
Tânia Sofia
Designer angolana, de 32 anos, veio para Portugal em busca de uma carreira na moda. Estava em Luanda quando ouviu na rádio informação sobre um curso de styling que Sandrina Francisco daria na cidade. Foi o ponto de partida para fazer as malas e rumar a Lisboa, para participar num novo curso. Já não voltou à terra-mãe mas um tom de África nos padrões das suas peças, personalizadas e indicadas para um ambiente de glamour e elegância.