Alguns dos lesados que compraram papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES) enviaram ao Banco de Portugal e CMVM cartas a propor que o capital investido seja convertido “em ações da nova entidade” constituída com a venda do Novo Banco.

As cartas enviadas aos supervisores da banca e do mercado de capitais por parte de um grupo de pequenos investidores, que no total representam 2,0 milhões de euros investidos em papel comercial do GES, referem que a solução que prevê “que os investidores consigam reaver menos de metade do capital investido numa aplicação a dez anos, mas com um corte entre 60% e 70%”, não é a melhor.

Nuno Vieira, advogado da Vieira & Amilcar Associados e representante destes investidores, refere à agência Lusa que o modelo que este este grupo propõe agora “seria uma solução em que todos sairiam a ganhar”, uma vez que “não compromete a liquidez do Novo Banco, não põe em causa a hierarquia dos credores e pode representar perdas muito menores para os investidores”.

Nas cartas que a sociedade de advogados enviou aos supervisores é referido que os clientes “estão dispostos a converter todos os seus créditos em papel comercial subscrito às entidades do GES em ações da nova entidade que venha a ser constituída com a venda do Novo Banco”.

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Os investidores pedem também uma reunião “com caráter de urgência” para discussão acerca de uma solução definitiva da questão, uma vez que “esta é uma proposta geral, que não dispensa aprofundamento do tema”, mas que assumem “como preferencial”.

“Os nossos clientes pretendem ser ressarcidos dos valores que julgam ter direito, estando já a ser preparada uma ação judicial com recurso prejudicial para o Tribunal de Justiça da União Europeia”, disse.

Esta proposta nada tem a ver com as conversações entre a AIEPC (Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial) e o Novo Banco, que deverão reunir  para encontrar novas soluções para a questão.

Na terça-feira, os clientes lesados no papel comercial do GES, comprado aos balcões do BES, disseram que não receberam formalmente qualquer proposta para resolver o seu problema, mas realçaram que as notícias divulgadas apontam apenas para um “início de negociação”.

“A proposta que ontem [segunda-feira] saiu para a imprensa não nos foi formalizada, é apenas um abrir de portas e um início de negociação para uma solução. Não levamos a sério sequer o conteúdo que lá vem”, declarou Nuno Lopes Pereira, da AIEPC.

O responsável falava aos jornalistas no parlamento, onde se encontrou com o presidente da comissão de inquérito à gestão do BES e do GES, Fernando Negrão, e fez, através do deputado do PSD, chegar uma missiva ao governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, que estava a ser ouvido pelos parlamentares.

Uma suposta proposta que visa o pagamento apenas parcial das verbas aplicadas pelos clientes de retalho do BES em papel comercial, aliada à obrigação de os mesmos investirem mais 10 ou 20 mil euros no banco, foi noticiada pela imprensa na segunda-feira dia 23 de março.

Nuno Lopes Pereira sublinhou que os clientes lesados nunca aceitarão menos que 100% do seu capital de volta.