A ex-ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues defendeu a reativação de um programa como o Novas Oportunidades e alertou para os perigos de enviar demasiado cedo as crianças para o ensino vocacional.

O alargamento do ensino obrigatório foi o tema do seminário do Conselho Nacional de Educação (CNE) que levou a ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues a debater hoje, em Lisboa, a situação atual e os desafios com que se debatem as escolas.

Saudando o momento em que passou a ser obrigatório que todos os alunos concluíssem o 12.º ano, Maria de Lurdes Rodrigues lembrou que muitos estudantes ficaram de fora porque já eram maiores de idade: “Mais de 200 mil jovens não concluíram com êxito o ensino e estão no mercado de trabalho”, disse durante a sua apresentação no auditório do CNE, em Lisboa.

Em declarações aos jornalistas, a ex-ministra defendeu a importância de retomar o programa Novas Oportunidades para que estes jovens, com menos de 24 anos, terminem os estudos: “Sim, eu falo no regresso de um programa das Novas Oportunidades”, disse, criticando a atual “escassez de oferta” formativa nas escolas para os jovens adultos.

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Outro dos assuntos abordados foi o ensino vocacional, que levou a ex-ministra a criticar a política do atual governo que entende que vai contra a lei de bases, que determina um ensino obrigatório e unificado até aos 15 anos.

Para Maria de Lurdes Rodrigues, enviar crianças mais pequenas para o ensino vocacional poderá trazer problemas no futuro para as famílias e para o país: “Não é indiferente o encaminhamento para vias vocacionais aos 12 anos ou apenas aos 15”, alertou.

“Em nenhum outro país da Europa, a não ser os países com modelo germânico, encaminham precocemente as crianças”, disse a ex-ministra, referindo-se aos modelos existentes na Alemanha, Luxemburgo e Áustria, onde as escolas enviam os alunos com mais dificuldades para o ensino vocacional.

A ex-ministra lembrou que é consensual, nos países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a ideia de que só aos 14 ou 15 anos devem ser encaminhados os alunos, como se fazia antes em Portugal, para que se possa “respeitar a fase de crescimento das crianças”.

“É muito difícil responsabilizarmo-nos pelo encaminhamento de uma criança com 12 anos, que ainda está em processo de crescimento, além de ser um risco enorme”, alertou, dando o caso alemão, onde “faltam engenheiros” e outros quadros superiores, porque “deixam as crianças ficar para trás, mandando-as para cursos vocacionais, dos quais não podem sair nem sequer transitar para a universidade”.

Em declarações aos jornalistas à margem do seminário, David Justino lembrou que o ensino vocacional “nunca pode ser irreversível” e que os alunos podem sempre regressar ao ensino recorrente.

Para a ex-ministra, a medida do atual executivo é um “retrocesso anterior ao 25 de Abril”, enquanto para o presidente do CNE o ensino vocacional pode ser uma solução para reduzir as elevadas taxas de insucesso escolar, em especial no caso dos jovens que têm dificuldades no ensino recorrente.

“Muitas vezes, muitos jovens e muitas crianças têm dificuldades naquilo a que são chamadas as disciplinas académicas, mais teóricas e mais abstratas, mas têm mais sucesso quando têm um tipo de ensino mais ligado ao saber fazer. O que temos de fazer é encontrar alternativas para que os miúdos possam ter sucesso, independentemente de ser mais profissionalizante, teórico ou abstrato”, defendeu David Justino.