Discretos sobre a sua vida familiar, Pedro Passos Coelho e a família revelam na biografia autorizada, “Somos o que escolhemos ser”, lançada esta terça-feira, o dia a dia em casa, as festas familiares e como começou o romance com a atual mulher.

Nas reuniões de família na casa em Massamá, “fazem-se duelos pelo título de quem canta a melhor morna, mas todos entoam, à sorte, porque todos adoram cantar”, escreve a autora com ajuda de Laura Ferreira, personagem principal na vida de Passos. “Cada um traz um petisco africano. Há quem toque viola e cavaquinho. O meu pai e o meu tio alternam entre mornas e as músicas portuguesas que conhecem. Eu e o Pedro cantamos fado. Adoramos cantar fado! É uma animação”, conta Laura.

No livro, Laura revela também como Passos Coelho procura em Massamá a “normalidade”. “Muitas vezes quero que ele se preserve, mas ele não tem cuidado. Leva a Júlia [filha do casal] aqui ao parque, se lhe der na cabeça, dispensa os seguranças e vai de repente ao supermercado a pé. Eu fico numa ansiedade, mas ele diz-me que vai correr tudo bem porque ninguém está à espera de o ver e ninguém lhe vai fazer mal“. Aos domingos, é habitual Passos ir almoçar a casa dos sogros e dispensar motorista ou segurança.

“Sou alguém que mede o que diz, que prepara o que decide”. Passos na primeira pessoa

Na biografia, Pedro Passos Coelho não se escusa a falar de si próprio. Desafiado a comentar a imagem que muitas pessoas têm de si – de ser um político “frio” e “racional” -, o primeiro-ministro não foge à questão. “Não tenho nenhuma força que me impele para ser duro ou construir uma espécie de muralha ou capa à minha volta. Não o faço racionalmente”

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“Sou alguém que mede o que diz, que prepara o que decide, que não responde de forma irrefletida, que não é governado por impulsos. Se isto transparece na maneira como me dou a ver aos outros, corresponde à realidade”, explica.

O mesmo Passos que, conta-se na biografia, “cozinha papos de anjo no Natal e na Páscoa para oferecer aos vizinhos e que se refugia nas tarefas domésticas mais comezinhas, como estender a roupa ou pôr a loiça na máquina de lavar, para sentir um registo de normalidade”. E o mesmo que “canta quando está feliz, que adora ver filmes de animação infantil e que, sempre que pode, passa um serão romântico a beber um vinho com a mulher, sentado na mesa da cozinha, a conversar ao som de Charles Aznavour”.

A doença que recentemente foi diagnosticada a Laura Ferreira – um tumor ósseo no joelho – é abordada de forma direta no livro: “Estou a viver os dias como se não houvesse amanhã. A saborear tudo. Esta fase ainda nos fortaleceu mais. Já tínhamos uma relação muito boa, mas agora é mesmo especial”, começa por contar Laura Ferreira. O medo da morte é uma constante. “Tenho muito medo de morrer. [Mas] o Pedro consegue tranquilizar-me e dar-me uma força”, reforça.

“Foi quando o vi sentado no meu sofá, achei que ele ficava ali muito bem”

Os dois conheceram-se em Albufeira, numas férias de verão, pouco tempo depois de, tanto um como o outro, se terem divorciado. Encontraram-se num jantar em casa de um amigo de Passos, quer era familiar de Laura. As filhas de ambos tornaram-se amigas e, de regresso a Lisboa, Pedro telefonou pela primeira vez a Laura:

Na biografia, a mulher do primeiro-ministro conta como recebeu esse telefonema: “Quando oiço aquela voz de barítono a falar comigo, deixei cair o telemóvel, fiquei sem bateria. Confesso que estava com o coração aos saltos e já ligeiramente impressionada com o rapaz”.

Seguiram-se vários encontros, sempre com a amizade das filhas como pretexto – as filhas de ambos começaram a frequentar, inclusivamente, as casas de uma e de outra. É Laura que conta: Passos era “muito atento às filhas, muito preocupado em fazer programas com elas, levar ao cinema, ir ao teatro, abdicava de fazer coisas para estar com as miúdas, por causa do banho e do jantar. E eu dizia ‘este homem não existe’ (…). Foi quando o vi sentado no meu sofá, achei que ele ficava ali muito bem”.

Antes de conhecer e casar com Laura Ferreira, Pedro Passos Coelho foi casado com Fátima Padinha, uma das quatro vocalistas do grupo musical Doce. Conheceu-a em novembro de 1985 no Happening, onde foi “para fechar a noite entre alguns copos e cantorias”, como era habitual. O primeiro apartamento que dividiram, um T1 “pequeno com kitchenette”, pertencia ao músico Paulo de Carvalho, amigo de Fá.

Quando Passos aceitou o cargo de assessor de Couto dos Santos na secretaria de Estado para a Juventude, o casal decidiu arrendar “um apartamento um pouco maior na Estrada de Benfica. Nessa altura, o amigo Agostinho Branquinho, também assessor de Couto dos Santos, vivia com eles e ajudava a pagar as contas“. Na biografia conta-se como o casal tinha pouca mobília. Fá e Passos dormiam “com o colchão no chão e não havia margem para que uma cama não fosse considerada uma extravagância”.

No entanto, o período mais difícil viria depois: Passos deixa o cargo de assessor e o casal é obrigado a mudar-se para “o primeiro andar de uma vivenda pequena em Mem Martins. No rés-do-chão da casa “habitavam os donos e estava estabelecida uma mercearia”. As condições, segundo o livro, não eram as melhores. “A tinta plástica do teto da casa condensava a humidade e fazia nascer bolores e cogumelos”. É o próprio Passos que conta como decidiram mudar de casa depois de água lhes ter começado “a cair na cara”.

Nessa altura, mudaram-se para a casa de Pedro Pinto, colega de Passos na JSD. Pedro Pinto estava no Parlamento Europeu e tinha um apartamento livre na Colina do Sol, perto de Benfica. Fizeram a mudança “ao volante da colorida Ford Transit d’As Doce”. O casamento viria a terminar em 2003.