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O homem que faz da vida andar a correr atrás de bola e, quando decide escrever uma autobiografia, escolhe o título “Penso, logo jogo”, só pode ser especial. Esse homem é Andrea Pirlo e ele é especial por muitos e bons motivos. Aos 36 anos ainda está aí para as curvas e, quando muitos pensavam que já estava a ser tramado pela idade, trocou o Milan pela Juve e, de lá para cá, ja vai em quatro campeonato conquistados. Depois, e por mais cansada que esteja a analogia, temos de a ir buscar só mais uma vez — Pirlo é como um vinho que melhor fica com a idade a passar.

Às vezes parece que tem calma a mais para a urgência que tem à volta, quando muitos são os jogadores que lhe estão a morder os calcanhares. Aí mostra como tem a cabeça a pensar tão rápido como um computador dos mais potentes. É rara a situação de aperto onde uma simulação de corpo ou um olhar-para-ali-e-passar-para-acolá não safe Andrea Pirlo. As pernas e o corpo podem já não responder tão rápido como a cabeça pensa, mas é nos seus pés que a bola passa cada vez que a Juventus a tem. Como passou em 2006, quando a seleção italiana empatou a final do Mundial quando um passe que só ele viu colocou a bola em Fabio Grosso.

https://www.youtube.com/watch?v=IkyC9ZdHjaU

Pirlo parece ver espaços e passes que mais ninguém imagina e, nisso, a idade não toca. Hoje o médio regressa à capital alemã. Da última vez que ali esteve levou para casa um Campeonato do Mundo. Agora pode agarra-se à terceira Liga dos Campeões da carreira. Mas ele que se livre de pensar em dizer basta ao futebol.

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Lendo o que escrevemos em cima, quem é que poderia estar aqui? Pois é. Mesmo alguém que não perceba nadinha de futebol só precisará de estar cinco minutos a ver um jogo da Juventus para reparar que, der por onde der, a bola vai sempre parar aos pés do mesmo. De Andrea Pirlo, claro. Isso é claro como a água: os defesas, sobretudo eles, mas também os médios da equipa, levantam a cabeça para ver onde ele anda. Basta o homem com cara de pintor (as barbas e cabelos compridos) aproximar-se e dar a entender que quer a bola para alguém a passar.

Esta é a regra a atacar. Toda e qualquer jogada tem de pagar portagem nos pés de Pirlo. Mas, a defender, também se nota que as coisas giram um pouco em sua função. Porque à sua volta e frente andam sempre três homens — Paul Pogba, Arturo Vidal e Claudio Marchisio — que correm muito, por muitos metros e com muita intensidade. São eles que compensam o facto de as pernas do italiano terem de ser poupadas para quando ele pensa no que fazer à bola e não para a roubar aos adversários.

Face às novidades, terá de ser Andrea Barzagli. O centralão de 34 anos vai jogar a final de início porque uma lesão pregou uma partida a Giorgio Chiellini — o italiano a quem Luis Suárez dera uma mordidela no ombro no Mundial 2014 — e tirou o capitão da final. Não que ele seja um defesa dos fracos ou trapalhão, nada disso. Até porque Barzagli sabe o que faz e não é tão bruto quanto o próprio Chiellini. Mas, olhando para os dez jogadores que terá ao lado, e tendo em conta que esta época passou mais tempo lesionado do que a jogar, a escolha recai em si.

Ao lado tem Leonardo Bonucci, o central que a classe e a calma mais visitam. À esquerda está Patrice Evra, senhor canhoto que já sabe há muito o que é isto de finais da Champions, e à direita tem Lichsteiner, o trator que não se cansa. No meio campo é só homens com muito jeitinho para jogar à bola e, na frente, além do goleador Carlos Tévez, há um Álvaro Morata que não para de escrever desde que trocou o Real Madrid pela Juventus.

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É uma sina do futebol. São os que marcam golos até mais não, os que fintam tudo até parecer que têm uma bola só para eles ou os que estão sempre a inventar passes que, sozinhos, descobrem passes. São esses que costumam ter o nome nas camisolas compradas pelos adeptos, porque eles preferem gastar dinheiro em craques. E quem tem dado show, golos e remates que decidem jogos é Carlos Tévez. Ui, se tem.

O argentino, já nos 30, resolveu há dois verões sair de Inglaterra e ir dar uma espreitadela a Itália, onde havia um clube que ganhava tudo dentro e cambaleava fora. Esse clube era a Juventus e, mesmo com Carlitos, não foi a época passada que começou a ganhar coisas na Europa — culpa do Benfica, que despachou o clube nas meias-finais da Liga Europa. Foi este ano. Em parte porque Tévez tem marcado que se farta e, muitas vezes, dado um trela para a equipa se segurar e seguir atrás. É ele que mais finta, mais remata e mais marca na Juve. É o que dá nas vistas por inventar onde outros fazem como todos os outros. Por arriscar em jogadas em que os restantes jogam pelo seguro.

https://www.youtube.com/watch?v=kQnIdS-UXmU

Carlitos é isto e muito mais. Nota-se que sente que a equipa depende, em muito, de si. E talvez também se note que está a dar o máximo dos máximos por já estar farto de jogar longe da Argentina. Diz-se que, após a final, o avançado vai regressar ao país e ao Boca Juniores que o viu nascer. É preciso é descobrir se o fará com uma Champions na bagagem, ou não.