A ministra da Justiça acusou os representantes sindicais de estarem presos a interesses salariais, numa entrevista ao jornal Público e à Rádio Renascença, onde tece ainda rasgados elogios a Passos Coelho e recusa responsabilidades nos problemas com o Citius.

“Eu não estou na época pós-Passos. Eu estou na época Passos e, o que quer que aconteça a seguir a estas eleições, estarei na época Passos”, diz Paula Teixeira da Cruz. A grande entrevista dada ao Público à Renascença começa com críticas aos responsáveis sindicais do setor.

A ministra acusa os representantes de porem em causa a aprovação dos estatutos das carreiras por estarem presos a interesses salariais, diz que a agitação acontece porque se aproximam eleições e da necessidade de afirmação da liderança das associações – “porque não são pessoas infelizmente com a visibilidade que tinham os anteriores líderes das associações sindicais”.

Paula Teixeira da Cruz garante depois que nunca teve a perspetiva de vir a liderar o PSD e tece rasgados elogios ao primeiro-ministro, garantindo o seu apoio condicional ao primeiro-ministro.

“Apoio incondicionalmente e apoiarei, em qualquer circunstância, uma pessoa profundamente honesta, profundamente convicta, que sabe ouvir. (…) Eu não sei o que é que vai acontecer daqui a uma semana. Mas, conhecendo o primeiro-ministro como conheço, tenho por ele uma consideração como tenho por muito poucos agentes políticos. E tenho-a pela sua seriedade de carácter, em primeiro lugar, isso para mim é essencial. Tenho pela sua capacidade de ouvir, ao contrário do que muitos pensam. E tenho pela sua capacidade de admitir a liberdade em Conselho de Ministros que admite, que é uma coisa que é pouco conhecida”, diz.

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Sobre os problemas no arranque da plataforma informática de gestão dos processos Citius, Paula Teixeira da Cruz recusa responsabilidades, dizendo que teve garantias dos responsáveis que “estava tudo operacional”, que nunca teve um relatório a indicar problemas no Citius e chega mesmo a dizer que o Citius “não colapsou”.

Juízes acusam ministra da Justiça de não assumir responsabilidades

A presidente da Associação Sindical dos Juízes, Maria José Costeira, acusou hoje a ministra da Justiça de não assumir as suas responsabilidades e acusou-a de não ter cumprido o mandato, nem o programa do governo.

Em declarações à agência Lusa, Maria José Costeira, reagia à entrevista da ministra da Justiça ao jornal Público e à Rádio Renascença, considerando que Paula Teixeira da Cruz continua numa atitude “indesculpável num político a querer não assumir as suas responsabilidades”

“Como é bom de ver é mais uma tentativa de desviar a atenção do verdadeiro problema que é o da ministra não ter cumprido o mandato, nem o programa de governo e o que a senhora ministra se esquece de referir, ou parece querer fugir à questão, é que para nós não há conflitos na justiça, não são partidários”, afirmou Maria José Costeira.

A ministra da Justiça atribuiu, em entrevista concedida em conjunto ao Público e à Rádio Renascença, a proximidade das eleições e as mudanças nas direções de associações de magistrados e juízes às relações conflituais existentes, que levaram aquelas organizações a cortar relações com Paula Teixeira da Cruz.

“Eu vivi quatro anos de muita tranquilidade, como é reconhecido, com todas as associações sindicais. Aproximam-se eleições e percebo que haja necessidade de agitação”, disse a ministra, em entrevista.

“A Associação Sindical dos Juízes é uma associação de juízes. Os juízes não fazem política partidária e os juízes não estão em eleições. Como é bom de ver, as críticas da ministra de que está a avizinhar-se um processo eleitoral passam completamente ao lado da associação. A senhora ministra, eventualmente, é que está a querer entrar no jogo politico partidário eleitoral não os juízes”, frisou a responsável.

Maria José Costeira avança que os juízes sempre acreditaram na boa-fé da ministra até ao dia em que perceberam que esta não existia.

“A senhora ministra insiste sempre no mesmo argumento que é uma demagogia populista que fica mal. As pessoas devem assumir as suas responsabilidades e os políticos mais ainda. Querer agora dizer que [o problema] é a nova direção da associação porque sempre conviveram bem com os juízes. Sempre conviveu bem porque os juízes acreditaram que a ministra estava de boa-fé até que, de repente, se chega ao momento em que se percebe que não há boa fé e que andou a enganar os juízes e a atitude teve de mudar necessariamente”, explicou.

Maria José Costeira frisou também que os juízes “estão numa função que é uma profissão, não passam por um cargo” e, os que estão na associação, “estão temporariamente, a exercer um mandato”, e de seguida, regressam aos tribunais a que pertencem e a lugares de onde, aliás, numa saem pois não estão em exclusividade na associação, explicou.

A Associação Sindical dos Juízes Portugueses e o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público cortaram relações institucionais com a ministra da Justiça, em junho, por causa da não aprovação do novo estatuto profissional dos magistrados, que consideram fundamental para a nova reforma do mapa judiciário.

Maria José Costeira lembrou ainda que a ministra continua a repetir “argumentos absolutamente falaciosos, com dados falsos” relativamente à questão de uma proposta de que os auditores de justiça “conforme lhes chamou” iriam receber quatro mil euros.

“Desafio a ministra a mostrar quem lhe fez tal proposta, pois essa nunca foi feita.A senhora ministra pretende com argumentos falaciosos colocar a população naquele patamar de julgar que se há problemas na justiça se devem aos juízes e aos magistrados do ministério publico e isso é completamente falso”, afirmou.