Um grupo de arqueólogos da First Colony Foundation acredita ter descoberto novas pistas sobre os habitantes da antiga colónia britânica de Roanoke, que desapareceram há mais de 400 anos nos Estados Unidos, conta o New York Times.

De acordo com Nicholas M. Luccketti, um dos investigadores envolvidos nas buscas, é provável que as 108 pessoas desaparecidas durante o século XVI naquele território tenham partido para o interior do país e acabado por se misturar com os nativos. Esta teoria é apoiada pelo facto de terem sido encontrados artefactos a 80 quilómetros de Roanoke que podem pertencer a esta população, diz o Valley News.

Já em 2012, o Museu Britânico disse à National Geographic estar na posse de um mapa onde John White – um artista que viajou até Roanoke para estabelecer novas relações de comércio com os nativos – havia desenhado marcas ocultas para assinalar uma fortaleza a 80 quilómetros de Roanoke. Foi com base nessas evidências que Luccketti viajou até lá e encontrou os referidos artefactos, todos eles de cerâmica e com inspiração inglesa do século XVI.

Da Europa para o Novo Mundo

De acordo com o ABC, Roanoke foi o nome que os descobridores britânicos deram àquela terra quando atracaram na sua costa. Conta a lenda que os marinheiros não encontraram nada senão uma palavra gravada numa árvore. Era a palavra “Croatoan”, que evoluiu para o nome hoje reconhecido.

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Croatoan

Créditos: Wikimedia Commons

Tudo isto aconteceu durante uma altura em que o mundo estava em plena expansão em busca de novos mundos. Na Europa, as rivalidades entre Espanha e Inglaterra estavam no auge: os nossos vizinhos tinham uma capacidade de frota brutal e lançavam-se ao mar sem receios. Esse era o incentivo de que os britânicos precisavam para também eles se aventurarem por mares nunca antes navegados.

Uma rota pela Virginia

A segunda metade do século XVI foi então marcada pelo expansionismo inglês. Um dos protagonistas da histórica britânica a caminho de uma América recém descoberta foi Walter Raleigh, que em 1584 organizou uma expedição em direção às Canárias, primeiro, e às Antilhas, depois. Partindo destas ilhas, os navegadores começaram a explorar a costa americana, explica o National Center for Public Policy Research.

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Walter Raleigh. Créditos: Wikimedia Commons

A certa altura encontraram-se com um grupo de nativos que lhes ofereceram provisões. A viagem tinha sido, na verdade, muito tranquila e os britânicos não enfrentaram grandes dificuldades. Regressaram a Inglaterra com as naus carregadas de produtos típicos da América e com boas notícias para a rainha Isabel I: estava descoberta a Virginia, conta a National Geographic.

O regresso a Virginia estava para breve, já que a experiência tinha corrido bem. Um dos objetivos da segunda expedição – que viria a contar com um maior número de marinheiros – era estabelecer um forte em território americano contra o avanço dos espanhóis. Vigorava a lei do “manda quem chegar primeiro” e esse era um aspeto que a Inglaterra não queria deixar escapar. Outro aspeto que interessava aos britânicos era explorar minas de ouro e prata num território virgem, inóspito e ainda assim com muito potencial, conta o Outer Banks of North Carolina.

Enquanto exploravam a América de fio a pavio, os britânicos encontraram finalmente o local mais adequado aos seus sonhos. Estava muito perto da baía de Chesapeake e era, nada mais nada menos, que a ilha de Roanoke. O navegador que encontrou estes terrenos foi Richard Greenvil, segundo enviado da rainha Isabel I e primo do primeiro descobridor britânico, Walter Raleigh, diz o Learn NC.

Fazer de Roanoke uma terra mãe

Estabeleceram-se 108 colonos em Roanoke, que começaram a erguer casas e o forte que estava nos planos da Inglaterra. Todos estes avanços foram possíveis porque os colonos tentaram desde o início estabelecer boas relações com os nativos, diz o Daily Mail.

batismo

Imagem de 1880 que representa o batismo da primeira criança de ascendência inglesa a nascer na América. Créditos: Wikimedia Commons

Mas nem tudo eram rosas. Roanoke era muitas vezes assolada por inundações e, afinal, não se demonstrara tão fértil quanto calculado. Mas sim, tinha ouro e prata suficiente para agradar aos britânicos… até certa altura. Ao fim de algum tempo, ninguém conseguia encontrar nenhum destes metais, nem mesmo depois de explorarem a terra mais para ocidente.

Por isso, os britânicos engendraram outro plano: explorar os nativos. E isso passava por lhes roubar mantimentos e recorrer à força. Claro que ao fim de pouco tempo nem os pertences dos índios podiam alimentar a ganância britânica, que fizeram as malas e seguiram para outros territórios. Todos os marinheiros foram embora, por ordem de Richard Greenvil, e o forte de Isabel I ficou abandonado aos nativos.

O mistério dos índios desaparecidos

Quando Greenvil regressou a Roanoke não viu vivalma. A terra estava completamente abandonada e ninguém sabia para onde tinham ido os nativos. Mas, enfim, Roanoke pertencia ao reinado britânico e por isso não merecia ficar ao “Deus-dará”. Por isso ficaram lá cinco dezenas de pessoas para ocupar o território.

Mas a história não acaba aqui. Em 1587, Raleigh organizou uma nova expedição encabeçada por John White, conta o Canal História. Desta vez, a tripulação não tinha apenas homens, mas também crianças e mulheres prontas para cultivar a terra e criar um novo lar junto ao forte.

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O mapa que terá pertencido a John White do território em estudo. Crédito: Wikimedia Commons

A ideia era ficar por Roanoke e restabelecer contactos com os nativos. A teimosia britânica tinha um motivo: estavam plenamente convictos que a prosperidade da inimiga Espanha vinha da América. Era uma boa forma de se afirmarem como potência mundial na área dos Descobrimentos e de resolver problemas de pobreza e desemprego.

Mas dos nativos desaparecidos, nada. Não havia sequer pistas sobre o seu paradeiro, afirma a The Library of the Congress. E os índios que ocupavam naquele momento Roanoke não estavam de braços abertos à espera dos britânicos, nem mesmo com as promessas de tranquilidade que a Inglaterra lhes dava.

John White acabou por regressar a Inglaterra, de mãos vazias. Por tempo indeterminado ficou afastado das terras americanas. Por lá ficaram alguns colonos que tinham duas ordens assertivas do descobridor: que não abandonassem o forte à mínima dificuldade e, caso surgisse essa necessidade, que desenhassem uma cruz de Malta numa árvore para que John White soubesse que estava em terras britânicas se algum dia voltasse.

Não voltou. Nem ele, nem os nativos de quem nunca mais se soube mais nenhum detalhe até aos dias de hoje.