Jacques Rivette morreu esta sexta-feira aos 87 anos, avança a France 24. O realizador de Paris Nous Appartient, L’Amour Fou e La Belle Noiseuse foi uma das figuras mais destacadas da Nouvelle Vague, que abrilhantou as décadas douradas de 50 e 60 do cinema em França. O Guardian informa que o realizador sofria de Alzheimer.

Em 1953, Rivette juntou-se a François Truffaut, Eric Rohmer e Claude Chabrol na revista Cahiers du Cinéma, onde acabaria por ganhar relevo. Truffaut disse, aliás, que a Nouvelle Vague começou “graças a Rivette”. O grande sucesso chegou com Paris Nous Appartient, uma obra de 1961. A sua carreira, no entanto, começou dez anos antes, no início dos anos 50. Na retina ficaram curtas como Aux Quatre Coins (1950), Le Quadrille (1950) e Le Divertissement (1952).

Um texto de David Thomson no Guardian, de abril de 2006, fala num homem que viveu para celebrar a mulher, a luz e Paris no verão. Na altura, Rivette tinha 78 anos. “Ele é um dos que pertence àquele grupo de críticos-escritores-que-se-transformam-em-realizadores conhecido pela Nova Vaga francesa [Nouvelle Vague], embora seja bem menos famoso do que Godard ou Truffaut (…). Rivette nunca mostrou o mais pequeno interesse nisso”, escreveu Thomson.

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No El País, pode ler-se um texto de 1991, de Ángel Fernández-Santos, alguém que considerou que Rivette “alcançou a perfeição com La Belle Noiseuse“.

Jacques Rivette, impulsionador da Nouvelle Vague

Pierre Louis Rivette nasceu a 1 de março de 1928 em Seine-Maritime, em França, numa família onde todos eram farmaceuticos.  Na universidade, estudou literatura para “se manter ocupado”. Mais tarde, inspirado pelo livro de Jean Cocteau sobre a filmagem de La Belle et la Bête (1946), decidiu ser realizador e começou a frequentar clubes de cinema. Começou a sua carreira como assistente de vários realizadores franceses consagrados, como Jean Renoir e Jacques Becker.

Em 1953, começou a escrever para a revista Cahiers du Cinéma, fundada por André Bazin, Jacques Doniol-Valcroze and Joseph-Marie Lo Duca dois anos antes. Criada a partir da Revue du Cinéma, Cahers du Cinéma foi responsável por reinventar os princípios básicos da teoria e da crítica do cinema. Em 1958, no seguimento da morte de Bazin, tornou-se editor da revista. No mesmo ano, começou a gravar a sua primeira curta-metragem, Le Coup de Berger.

A esta, seguiu-se Paris Nous Appartient, a primeira de muitas longas-metragens. Nela, Rivette estabeleceu aquelas que seriam as características distintivas de todos os seus filmes — “o complot como mundo de possibilidades ficcionais, sempre à beira do fantástico e do delírio lúdico e nocturno, o teatro e o ensaio como metáfora da aventura humana”, sintetizou o Público. Quando chegou aos cinemas, em 1961, conquistou a crítica.

Em 1966, terminou aquele que seria o seu filme mais célebre — La Religieuse, uma adaptação da obra homónima de  Denis Diderot sobre uma noviça que é sujeita a torturas em diversos conventos mas que, apesar das dificuldades, não renega à sua fé. Inicialmente proibido devido ao seu teor anticlerical, o filme acabou por ser exibido nos cinemas um ano depois, graças à intervenção de Charles De Gaulle e da pressão exercida pelo meio intelectual francês.

A La Religieuse, seguiram-se os filmes experimentais L’Amour Fou (1968), com uma duração de quatro horas, e Céline et Julie Vont en Bateau (1974), uma comédia surrealista sobre uma bibliotecária que é transportada para um mundo de fantasia. Na altura, Rivette começou a ficar conhecido por fazer filmes excessivamente longos. Out 1, de 1971, tinham um total de 12 horas de gravação.

Em 1991, realizou o filme La Belle Noiseuse, que lhe valeu o Grande Prémio do Júri de Cannes desse ano, um dos muitos galardões que recebeu ao longo da vida. Entre eles, inclui-se o Prémio Fipresci, do Festival de Berlim, e o Prémio Méliès, atribuído pelo Sindicato de Críticos de Cinema Franceses. O último filme do realizador, Haut bas fragile, é de 1995.