Os bancos controlados por espanhóis ou com maioria de capital espanhol valem mais de um quarto da banca portuguesa em termos de ativos, detendo uma quota de cerca de 28%, segundo cálculos efetuados pela Lusa baseados em dados da APB.

O ativo total do sistema bancário português (aplicações noutras instituições de crédito, instrumentos de capital e de dívida e créditos, entre outros) era pouco mais de 400 mil milhões de euros em junho de 2015, segundo os balanços consolidados de 17 instituições financeiras disponíveis no ‘site’ da Associação Portuguesa de Bancos (APB).

O banco estatal Caixa Geral de Depósitos ocupava o lugar cimeiro em termos do valor de ativos, representando um quarto do total (cerca de 100 mil milhões de euros), surgindo em segundo lugar o maior banco privado português, o Millenium BCP (quase 79 mil milhões de euros), que tem como acionistas de referência a angolana Sonangol (17,8%) e o grupo espanhol Sabadell (5%).

Em terceiro surge o Novo Banco (62 mil milhões de euros), controlado pelo Fundo de Resolução bancário (do Banco de Portugal e participado pelos bancos).

Desde 2015 que os bancos nacionais têm vindo a perder quota a favor da expansão espanhola: além do britânico Barclays (com ativos avaliados em 14 mil milhões de euros) adquirido em setembro pelo Bankinter, também o Santander Totta, o agora quarto maior banco do ‘ranking’ com ativos de mais de 40 mil milhões de euros tem vindo a ganhar força em território português, depois de ter adquirido o Banif. O banco do Funchal, cujos ativos estavam calculados em 12 mil milhões de euros em junho de 2015, foi alvo de uma resolução em dezembro de 2015.

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Já o BPI, que tem como principal acionista o grupo bancário espanhol La Caixa com 44,1% do capital, seguido da ‘holding’ de Isabel dos Santos Santoro Finance com 18,6%, valia cerca de 41 mil milhões de euros, em junho de 2015, o que correspondia a uma quota de cerca de 10%.

Também do universo espanhol faz parte o BBVA, com ativos ligeiramente superiores a cinco mil milhões de euros, mas que fez um percurso contrário ao do Santander no ano passado, com o encerramento de 26 agências em Portugal.

No total, Bankinter [ex-Barclays], Santander Totta, BPI e BBVA, bancos controlados por espanhóis, detêm ativos no valor aproximado de 112 mil milhões de euros, ou seja uma quota de 28%.

O Novo Banco deverá ser vendido em julho e os espanhóis BBVA, Santander, Popular e CaixaBank têm sido apontados na imprensa como potenciais interessados, o que, a acontecer, significaria que o peso dos acionistas espanhóis no mercado financeiro português passaria de 28% para quase 44%.

Da lista dos bancos com maior peso no mercado nacional, fazem ainda parte o Montepio, com ativos avaliados em mais de 22 mil milhões de euros, e o Crédito Agrícola, aproximadamente 14 mil milhões de euros. Juntos detêm uma quota de mercado de cerca de 9%.

O comentador da SIC e ex-líder do PSD, Luís Marques Mendes, anunciou no domingo que está a ser preparado um manifesto sobre a “eventual espanholização da banca”, apontando o Presidente da Fundação Batalha de Aljubarrota Alexandre Patrício Gouveia como um dos mentores da iniciativa que, segundo o Diário de Notícias, conta já com 50 subscritores entre economistas e empresários.

No centro das preocupações, que se agudizaram desde a compra do Banif pelo Santander Totta, está a venda do Novo Banco e a venda da participação de Isabel dos Santos no BPI ao CaixaBank.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, transmitiu, na semana passada, ao rei de Espanha em Madrid a sua posição sobre a crescente entrada de entidades financeiras espanholas em Portugal, salientando que “uma presença significativa é diferente de ser exclusiva”.

“Quando eu falei das relações económicas, é de imaginar que o sistema financeiro é uma componente importante. É conhecida a minha posição sobre essa matéria – segundo a qual é importante uma presença significativa espanhola em Portugal, o que é diferente de haver um exclusivo. Não é uma posição exclusiva a um país, é uma posição de fundo”, disse Marcelo Rebelo de Sousa numa conversa com os jornalistas após o encontro e jantar com Felipe VI. A 18 de março iniciou operação mais um banco em Portugal, o Banco CTT.