Humberto Pereira estava a estudar Engenharia Eletrotécnica, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, quando fez as malas e apanhou um avião para os Estados Unidos. Foi trabalhar para a Darpa Urban Challenge, uma competição de carros autónomos na Califórnia, financiada pelo Departamento de Defesa norte-americano. Acabou por fazer investigação para o projeto final de curso durante três semanas, em 2006, e sete meses, no ano seguinte.

Regressou aos Estados Unidos em 2009 para tirar um MBA na Universidade de Harvard e foi aí que começou a perceber que o que “tinha de geek” podia interagir com a vertente de negócios que tanto queria. “Percebi que podia fazer coisas malucas até ao fim da vida”, conta. Aos 31 anos, passou por várias consultoras, depois pela EDP, até que decidiu lançar a primeira empresa, a Skin.pt, uma loja online de cosmética. Na base da escolha, esteve uma preocupação transversal: a transparência da internet.

A internet é um canal onde os negócios são construídos e destruídos por causa da informação. Sempre que uma empresa se porta mal, é pouco transparente, o negócio dura muito pouco, porque é muito difícil mentir na internet. Então, comecei à procura de indústrias onde houvesse falta de transparência e se pudesse acrescentar valor através dessa mesma transparência”, explicou Humberto Pereira.

Em 2012, lançou a Skin.pt. Acabou por sair dois anos depois para ir atrás de outros projetos e de novas ideias. Em conversa com o amigo André Duarte, percebeu que ele queria desenvolver uma aplicação móvel que lhe permitisse reservar campos de ténis, evitando ter de ligar para verificar disponibilidades. Uma espécie de Uber para o desporto.

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Com cerca de 20 mil euros em capitais próprios, em outubro de 2014, os dois empreendedores lançaram a AirCourts, a aplicação que conta com mais de cinco mil utilizadores e 200 campos de futebol, ténis e padel registados em Lisboa e no Porto. A aplicação está integrada em clubes privados nas duas cidades e em campos de instituições públicas como escolas e câmaras.

AirCourts

AirCourts conta com mais de 200 campos em Lisboa e no Porto

“Era um daqueles problemas de transparência clássicos. Quando quero saber qual é o campo mais próximo de mim com disponibilidade para um jogo de futebol na próxima quarta-feira, às 17h00, por exemplo, tenho de ligar para vários campos e perceber se são cobertos, se estão abertos, entre outros. Com a AirCourts, as pessoas podem fazer uma pesquisa automática na app e saber logo quais são os campos disponíveis”, explica.

Num ano e meio, foram feitas 22 mil reservas. O modelo de negócio é “muito simples”, explica Humberto Pereira. Os responsáveis pelos campos podem utilizar a ferramenta da AirCourts para gerir os campos gratuitamente e, quando as reservas são feitas através da plataforma, a empresa recebe uma comissão. Para o utilizador, não há custos acrescidos. Paga o mesmo que pagaria caso fizesse a reserva pelo telefone ou pessoalmente.

Em 2015, a AirCourts cresceu mais de 100% por mês, só no Porto. No final do ano, conseguiu um investimento de cerca de 68 mil euros através de investidores particulares e, para o final de 2016, os planos passam por negociar uma ronda de investimento de capital de risco que lhe permita entrar em duas geografias: Reino Unido e Alemanha, os mercados que os dois fundadores conhecem melhor em termos de desporto e de empreendedorismo.

Ao mesmo tempo que Humberto Pereira lançava a AirCourts com André Duarte, lançava também a EatFirst, em Londres, com um sócio britânico e outro alemão. “A comida é outro dos setores muito orientados pela transparência. E montámos um restaurante online verticalmente integrado [na Rocket Internet]. Temos chefes, os nossos próprios fornecedores, a nossa equipa de distribuição e entregamos a comida aos nossos clientes”, conta. A EatFirst levantou cerca de sete milhões de euros em investimento.

*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.