Luís Portela é presidente não executivo da Bial, a única farmacêutica portuguesa com um produto patenteado à venda nas farmácias europeias e norte-americanas, o Zebinix, indicado para o tratamento da epilepsia. No início de 2016, a farmacêutica portuguesa esteve envolvida em polémica, depois de vários voluntários terem sido hospitalizados e um ter morrido na sequência de um ensaio clínico a uma molécula para o tratamento da dor. Agora, Luís Portela surge ligado ao polémico caso dos “Panama Papers”, mas o médico já veio negar que tenha participado em offshores.

Neto do fundador da Bial, foi Luís Portela quem liderou o processo de internacionalização da farmacêutica. Foram precisos 15 anos de investigação e um investimento superior a 300 milhões de euros para chegar ao antiepilético Zebinix. Em 2011, passou a pasta da presidência executiva ao filho, António Portela, que tinha 36 anos quando assumiu o cargo.

Numa entrevista ao Jornal de Negócios, em 2009, disse que nunca lhe tinha passado pela cabeça “meter-se no mundo dos negócios”, que a sua história é a de “um jovem que queria sobretudo ser útil ao outro, e que pensou em formas diferentes de ser útil ao outro. Pensou ser frade, monge tibetano e médico”.

Licenciado em Medicina pela Universidade do Porto, onde deu aulas de Psicofisiologia durante seis anos, Luís Portela teve também formação em gestão e praticou Medicina no Hospital de São João. Começou a liderar a farmacêutica do avô aos 27 anos. E foi o responsável pelo lançamento de dois Centros de Investigação, um na Trofa e outro em Bilbau.

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Além da Bial, Portela liderou o Conselho Geral da Universidade do Porto, a Health Cluster Portugal, foi vice-presidente da Fundação de Serralves e membro da Direção da Cotec. Conta na mesma entrevista que foi “trabalhador-estudante e estudante-trabalhador”. Foi ele quem lançou a Fundação Bial, juntamente com os Laboratórios Bial e o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, que atribui um dos maiores prémios europeus de na área da saúde.

Na entrevista que deu ao Jornal de Negócios, Luís Portela conta que quando era jovem “tinha muita curiosidade sobre o que é o Homem” e o que estava a fazer na Terra.

Nunca achei muita graça a aliar-me a um grupo, a ser um ‘ismo’ qualquer. Eu levantava questões e gostava de ler de tudo um pouco, procurando perspetivar onde é que estava a verdade, onde é que estava a mentira, encontrando bocados de verdade e de mentira em tudo”, afirmou.

Na mesma entrevista admitiu que assumir a liderança da Bial, aos 27 anos, “se calhar foi uma loucura”, porque não tinha formação de base que o ajudasse.

“Não era economista nem gestor, mas conhecia a empresa relativamente bem. Desde os 16 anos que o meu pai me obrigava a ir à empresa uma hora ou duas por dia para me pagar uma boa mesada”, conta.

A história da Bial começa em 1924, na Farmácia do Padrão, no Porto, com Álvaro Portela – avô de Luís – o self-made man que passeou de Cadillac descapotável amarelo pelas ruas do Porto. Filho de um merceeiro, foi ele que teve a ideia de construir um laboratório por cima da farmácia onde trabalhava, juntamente com o patrão, o senhor Almeida. É por isso que a empresa se chama Bial, porque se repete o “Al” – “Al” de Álvaro e “Al” de Almeida”.

Sobre o avô, Luís Portela contou na mesma entrevista que era “um homem narcisista, um novo-rico, que deixou imensas fotografias, que tinha uma atitude exuberante perante a vida”. Cerca de 92 anos depois, a Bial tem produtos disponíveis em 56 países e filiais em Espanha, Itália, Reino Unido, Alemanha, Suíça, Angola, Moçambique, Costa do Marfim e Panamá.

“Nego qualquer relação com offshores”

Luís Portela é um dos nomes divulgados esta sexta-feira pelo Expresso e pela TVI – os dois órgãos de comunicação social portugueses que fazem parte do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) – por estar ligado ao polémico caso dos “Panama Papers”.

À TVI, avançou que ele e a Bial sempre cumpriram com as regras fiscais e que “é público que a Bial tem uma filial no Panamá que coordena toda a atividade do grupo na América latina”. O presidente não-executivo da farmacêutica disse ainda que “nega qualquer relação com offshores“. Segundo a TVI, o médico “controlava indiretamente” uma empresa no Panamá.

Em julho de 2015, a Polícia Judiciária entrou nos laboratórios da Bial no âmbito de uma investigação a burlas ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), por suspeitas de corrupção ativa e passiva e falsificação de documentos que podem envolver altos quadros da farmacêutica. Foram constituídos 17 arguidos e as buscas foram feitas na sede da empresa, na Trofa, e em delegações da empresa em Lisboa e Coimbra.

Na altura, Luís Portela avançou ao Diário de Notícias que tinha ficado surpreendido com a ação, mas que a empresa tem “estado a colaborar com a PJ em tudo o que o que é necessário”.

A Bíblia, o yoga e a parapsicologia

“Homem de uma mulher só” e “menino de ouro” da mãe, Luís Portela também dedica parte da sua vida à escrita, tendo já publicado vários livros — “Para Além da Evolução Tecnológica”, “À Janela da Vida”, “Esvoaçando” e “Serenamente”. Afirmou, na entrevista que deu em 2009 ao Jornal de Negócios, que para si, “todas as religiões são verdade, e que essa verdade será total quando todas as religiões confluírem nela”.

No livro que lançou em 2013, “Ser espiritual – Da evidência à Ciência”, Luís Portela explora temas como a harmonia, consciência, vidas passadas, sensibilidade, sexto sentido, intuição, livre-arbítrio, valores universais, reencarnação ou a transmissão de pensamento. Para o presidente da Bial, é preciso que as descobertas na área da espiritualidade deem “ao homem uma outra dimensão à superfície da Terra”.

“Aparentemente, a Humanidade tem feito uma grande progressão no domínio tecnológico, mas, mantendo-se embriagada com a exploração material e distraída com um mar de futilidades, tem deixado para segundo plano a descoberta do espiritual. O ter tem-se sobreposto ao ser. E, recentemente, parece que já nem faz falta ter, basta parecer”, escreveu no livro, citado pela agência Lusa.

Numa entrevista ao Dinheiro Vivo, contou que se questiona em relação à espiritualidade e à existência do homem desde jovem. “É uma paixão que vem desde essa altura. Por isso, fui para medicina e especializei-me em psicofisiologia. Achava que cabia à ciência desbravar terreno”, referiu, acrescentando que pensou desenvolver investigação na área da parapsicologia.

“Lembro-me que aos 14 ou 15 anos fiz uma leitura comparada da bíblia católica e da bíblia protestante, que é uma coisa que não há muita gente que faça. E lia coisas do yoga, budismo e espiritismo. Gostava de ler porque sentia que em todas as áreas encontrava coisas de verdade, que me enchiam a alma. Mas é verdade que também encontrava coisas que achava secundárias, desinteressantes e que não aceitava, como as que eram relacionadas com mistérios, milagres e algumas ideias tabus”, lê-se na entrevista.

Luís Portela foi condecorado pelo Presidente da República, Mário Soares, como Comendador da Ordem do Mérito aos 40 anos e aos 50 com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito, por Jorge Sampaio. Em 1998, foi distinguido com o Prémio de Neurociências da Louisiana State University, nos EUA, e em 2007 recebeu a Medalha Municipal de Mérito da Câmara Municipal do Porto e a Medalha de Honra da Associação Empresarial de Portugal. No ano seguinte, foi distinguido como Empresário do Ano pelo Rotary International.

Em dezembro de 2015, foi distinguido com o prémio Lifetime Achievement, atribuído pelo Lide Portugal (Grupo de Líderes Empresariais), organização que distinguiu Adriano Moreira, em 2014, Francisco Pinto Balsemão em 2013 e Alexandre Soares dos Santos, em 2012.