O Papa Francisco quer maior inclusão de todos os tipos de família na Igreja, pedindo aos bispos que os católicos divorciados sejam mais integrados na Igreja, tendo em conta fatores “mitigantes e outras situações”. A abertura a estas exceções não muda a regra, mas Francisco pede que o número de exceções aumente e defende que “os efeitos de uma regra não têm necessariamente de ser sempre os mesmos”.

Divorciados

Segundo a doutrina católica, os divorciados que voltam a casar ou vivam maritalmente não são autorizados a receber a comunhão durante a missa, a não ser que consigam anular o casamento anterior. Esta é uma questão que divide os bispos mais conservadores da Igreja, que defendem que esta regra se deve manter. O Papa, na exortação apostólica ‘Amoris laetitia’ ou “A Alegria do Amor”, dá as suas conclusões de três anos do Sínodo da Família e pede maior integração de todas as famílias, adaptando a doutrina católica à nova conceção de família.

“Um pastor não pode sentir que deve aplicar simplesmente as regras morais, como se fossem pedras que se atiram às vidas das pessoas”, escreveu o Papa, pedindo que fossem abertas exceções entre os divorciados católicos, mas também que se aceitem homossexuais no seio da Igreja e que haja maior abertura para as famílias modernas. “Temos de evitar juízos que não tenham em conta a complexidade das diversas situações e é necessário estar atento ao modo em que as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição”, refere ainda o pontífice.

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O texto do Papa Francisco

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O Papa explica que é importante fazer sentir aos que estão numa nova união que “fazem parte da Igreja, que ‘não estão excomungados’ nem são tratados como tais, porque sempre integraram a comunhão eclesial”. Assim, pede que se promova “a sua participação na vida da comunidade”. O Papa lembra que os divorciados podem viver em situações diferentes e que não devem ser catalogados ou encerrados “em afirmações demasiado rígidas, sem deixar espaço para um adequado discernimento pessoal e pastoral”. No entanto, Francisco insiste que “o divórcio é um mal, e é muito preocupante o aumento do número de divórcios”, mas que o “discernimento” deve ser feito pelos pastores, já que não existem “receitas simples”.

Homossexuais

Quanto à aceitação pela Igreja de homossexuais, o Papa diz que, à semelhança de Jesus, “que, num amor sem fronteiras, se ofereceu por todas as pessoas sem exceção” examinou “a experiência das famílias que têm no seu seio pessoas com tendência homossexual”, algo que diz não ser “fácil nem para os pais nem para os filhos”.

“Desejo, antes de mais nada, reafirmar que cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito, procurando evitar qualquer sinal de discriminação injusta”, afirmou, mostrando que discriminação contra homossexuais não será aceite na Igreja.

Ao mesmo tempo, quando se fala na possível equiparação ao matrimónio das uniões entre pessoas homossexuais, o Papa defende que “não existe fundamento algum para assimilar ou estabelecer analogias, nem sequer remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimónio e a família”. Francisco considera, por isso, “inaceitável” que as Igrejas locais sofram pressões nesta matéria, tal como condena que “organismos internacionais condicionem a ajuda financeira aos países pobres à introdução de leis que instituam o matrimónio entre pessoas do mesmo sexo”.

Aborto

O aborto continua a ser uma prática inaceitável para a Igreja católica, assim como a contraceção. “A mentalidade antinatalista e promovida pelas políticas mundiais de saúde reprodutiva, não só determina uma situação em que a sucessão das gerações deixa de estar garantida, mas corre-se o risco de levar, com o tempo, a um empobrecimento económico e a uma perda de esperança no futuro”, refere a exortação conhecida esta quinta-feira.

Para além dos avanços da biotecnologia ou da sociedade de consumo, que dissuadem as pessoas de ter filhos “para manter a sua liberdade e estilo de vida”, os Estados contribuem também para esta mentalidade, refere o Papa. “A Igreja rejeita com todas as suas forças as intervenções coercitivas do Estado a favor da contraceção, da esterilização e até mesmo do aborto”, escreve o chefe da Igreja católica.

Educação

O papa Francisco recomendou aos pais que evitem “uma invasão nociva” da vida pessoal dos filhos porque, garantiu, “a obsessão não é educativa”, embora faça “sempre falta alguma vigilância”. “A obsessão não é educativa e não se podem controlar todas as situações pelas quais poderá passar um filho”, lembrou na exortação apostólica “Amoris Laetitia”

Francisco sublinhou que “a família não pode renunciar a ser um lugar de apoio, de acompanhamento, de guia” dos filhos e recomendou que “não se deve deixar de questionar quem oferece entretenimento e diversão, quem entra nos seus quartos pelos ecrãs”, mas que “se um pai está obcecado em saber onde está o filho e controlar todos os seus movimentos, apenas procura dominar o seu espaço”.

No capítulo intitulado “Sim à educação sexual”, Francisco considerou ser “difícil pensar a educação sexual numa época em que a sexualidade tende a banalizar-se e a empobrecer-se”. Por outro lado, a mesma “só pode ser entendida no marco de uma educação para o amor”.

“A educação sexual deve dar informação, mas sem esquecer que as crianças e os jovens não atingiram uma maturidade plena. A informação deve chegar no momento apropriado e de maneira adequada à etapa que vivem”, recomendou.

A nova perspetiva da família

O Papa considera ainda que, nestes dois últimos anos, foi possível analisar a situação das famílias no mundo atual e “alargar a perspetiva” da Igreja. Reconhecendo a existência de novos tipos de família, o Sínodo fala das famílias monoparentais e o Papa reconhece que estas famílias são resultado de diferentes situações, nomeadamente “mães ou pais biológicos que nunca quiseram integrar-se na vida familiar, situações de violência em que um dos progenitores teve de fugir com seus filhos, morte de um dos pais, abandono da família por um dos progenitores”. Francisco considera que estas famílias têm de ser apoiadas pela Igreja.

Quanto às mulheres que não podem ter filhos, o Papa lembra que a maternidade não é uma realidade exclusivamente biológica, mas expressa-se de diversas maneiras, nomeadamente através da adoção. “A adoção é um caminho para realizar a maternidade e a paternidade de uma forma muito generosa […] Nunca se arrependerão de ter sido generosos”, considera o Papa.