“Às 22h43 de terça-feira, acabou Munique.” Não bateu com o punho na mesa ou em lado nenhum, foi com as palavras que Rui Vitória mostrou estar farto de perguntas sobre o que tinha sido e o que ia ser o Benfica na Liga dos Campeões. No meio havia a Académica e já não era de agora que o treinador falava em finais que a equipa tinha de ganhar para ser campeã. Os encarnados iam a Coimbra e Rui não queria ouvir falar nos alemães que estariam em Lisboa dali a dias. Mas a Académica quis mostrar-lhe o que esses germânicos muitas vezes sentem quando jogam na Alemanha e contra equipas que pensam mais em não sofrer golos do que em marcá-los.

Eram 18h30 de sábado. Começou um jogo que foi dos que se percebe no primeiro minuto como vão ser os 89 que vêm a seguir. Ali haveria uma equipa dona da bola, enquanto a outra punha os 11 jogadores atrás dela e encolhidos perto da própria área. A Académica fez do jogo que se joga num campo com mais ou menos 120 metros de comprimento, um jogo para acontecer em pouco mais de 30. Porque, até ali, os estudantes tinham tantos golos marcados quanto os sofridos pelos encarnados (19) e há treinadores que encaram isto como um sinal de que o melhor é defender como nunca para impedir o adversário de atacar como sempre.

Por isso, foi raro ver um jogador da Académica à frente da linha do meio campo ou da bola. E quando assim o é — e quando há uma equipa com cinco jogadores alinhados lá atrás, na área, e os restantes não deixam mais do que dois ou três metros entre eles — as coisas tornam-se complicadas. Mais ainda quando, aos 18’, essa equipa marca um golo porque um defesa (Eliseu) corta uma bola para a entrada da área sem força, nem jeito. Pedro Nuno agradeceu e com dois toques colocou a bola perto do poste direito da baliza de Ederson. Se os estudantes já fechados estavam, mais encolhidos junto à própria área ficavam. No relógio, eram 18h49.

Nas estatísticas via-se sempre perto de 80% de bola para o Benfica e no campo estava um jogo em que, quanto mais bola se tem, mais difícil é saber o que fazer com ela. Pizzi e Gaitán começaram a fugir às linhas e a irem ao centro, pedindo a bola onde queriam, onde achavam que os adversários não estariam à espera. André Almeida e Eliseu atacavam muito, avançavam nas mesmas jogadas e arriscavam como um treinador não costuma deixar. Mas ali era preciso. Havia que desviar as atenções dos adversários, fazê-los duvidar, pensar se deviam estar ali em vez de aqui. Jogadores a mexerem-se e a bola a ser passada rápido. Os encarnados começaram a fazer isto e as jogadas com perigo apareceram. E apareceu Gaitán, Jonas e Mitroglou, juntos e a trocarem coisas ao primeiro toque.

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Depois de o argentino tentar duas vezes o remate e de o brasileiro, no meio de tanta gente, parecer ter mais espaço que os outros para jogar, apareceu o grego. André Almeida resolveu cruzar a bola de longe e Mitroglou saltou na área para cabecear com jeito. 19h11 e o Benfica muito trabalhou para empatar. Podia ter recebido mais em troca desse trabalho, minutos depois, quando Pizzi se isola com uma invenção de Jonas e Gaitán. Mas o português escolhe parar a bola em vez de a rematar para uma baliza que já não tinha Pedro Trigueira, o guarda-redes que fica deitado na relva. Rui Vitória até adivinhou ao intervalo que a maior carga de trabalhos ainda estava para vir.

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A segunda parte foi igual à primeira, porque os estudantes jogaram na mesma e os encarnados não conseguiam jogar de outra forma. As oportunidades apareceram menos e a Académica habituava-se a ter Gaitán e Pizzi na terra de ninguém, ali sempre entre os médios e os defesas. A bola chegava-lhes menos, mas ainda deu para o segundo cavar um livre para o pé esquerdo do segundo quase marcar (47’). Depois, os minutos começaram a passar e a intensidade e a rapidez a fazer as coisas a faltar.

À falta de mais soluções, os encarnados experimentaram dar um pouco da bola à Académica. Resultou, porque a equipa que era certinha sem ela não sabia como se manter organizada com a bola e, de vez em quando, passou a ser o Benfica a contra-atacar. Só que não marcou. Nem assim, nem com lançamentos laterais longos, porque a bola atirada por André Almeida, desviada por Jardel e cabeceada por Jonas foi parada por Pedro Trigueira, aos 67’. Um ponto para a Académica vale muito mais do que um pontinho para o Benfica e, a partir daqui, os de Coimbra só passaram a defender. Renato Sanches e Talisca chegavam para comer com uma dentada qualquer tentativa de contra-ataque. Só que o jogo que Rui Vitória tentou esticar com Carcela e Gaitán colados às linhas não resultava num golo.

E quando parece não haver maneira de a bola entrar na baliza, arrisca-se. Quinito dizia que é nestas alturas que se põe “a carne toda no assador” e eram 20h10 quando Rui Vitória deu à equipa um terceiro avançado. Há quem diga que o importante não é ter muita gente na área, mas sim gente que faça a bola lá chegar com qualidade. A bola que André Almeida cruzou aos 84’ até nem tinha muita — foi a meia altura e para trás da linha onde estavam os jogadores do Benfica. O que houve foi o pé direito de Raúl Jiménez, o mexicano acabado de entrar, que esticou a perna para trás para dominar a bola para a frente e rematá-la depois, à bruta, para a baliza. 20h14 e o Benfica já ganha.

O tempo que sobrou para o jogo acabar foi para o Benfica passar a ser a equipa que só defendia. Renato Sanches acabou a lateral esquerdo (já não havia Eliseu) e Jonas foi um médio que guardou a área. Era precisou proteger a vantagem que tanto trabalho dera a conquistar e garantir que a liderança do campeonato era para manter. Às 20h39 Rui Vitória pode dizer: “Sim, agora é para viver o Bayern”.

Benfica's coach Rui Vitoria looks on from the sideline during the Portuguese league football match Associacao Academica de Coimbra vs SL Benfica at the City of Coimbra stadium in Coimbra on April 9, 2016. / AFP / FRANCISCO LEONG (Photo credit should read FRANCISCO LEONG/AFP/Getty Images)

Foto: FRANCISCO LEONG/AFP/Getty Images