Antes de começar a ler este artigo, olhe para o seu smartphone. Quantas aplicações tem instaladas? Quantas utiliza diariamente? Melhor: quantas descarregou só para testar e não voltou a abrir? Anotou as respostas? Então, agora, regresse ao texto. E não estranhe quando Alexandre Vaz explicar que a maioria das pessoas utiliza as apps que descarrega uma ou duas vezes e depois se esquece delas. Foi assim que nasceu a Liquid.

Alexandre Vaz, João Soares, Miguel Almeida e André Sousa (e os outros seis elementos que compõem a equipa da Liquid) querem ajudar as empresas a reter os utilizadores nas aplicações móveis – querem evitar que os utilizadores se esqueçam delas. E se para Alexandre Vaz é “um pesadelo” explicar como propõem resolver o problema de engagement (interação entre o utilizador e o produto) de algumas apps, para as empresas pode ser um sonho saber como os utilizadores se comportam individualmente na aplicação. E antecipar o seu comportamento.

“Primeiro, temos uma ferramenta de análise, onde segmentamos os clientes. Imagina que tens uma app e queres saber quem são os utilizadores, com mais de 30 anos, que fizeram uma compra em Berlim, ontem. Na Liquid, conseguimos descobrir isto. Entramos na base de dados de cada utilizador e vimos o que é que ele andou a fazer, em que dia e a que hora. Conseguimos ver do mais pequeno detalhe à visão completa que vai permitir gerir o negócio”, explica o CEO e fundador, Alexandre Vaz, ao Observador.

Depois de desenvolver a plataforma analítica, que permite traçar o perfil de cada um dos utilizadores, a equipa da Liquid apostou em criar fórmulas “mágicas” predefinidas, que permitam às empresas antecipar comportamentos. Ou seja, “num par de minutos”, os publishers podem acionar campanhas de marketing direcionadas. “Era crítico para nós pormos magia por cima” da plataforma analítica, explica Alexandre.

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Uma das fórmulas predefinidas pela Liquid serve, por exemplo, para alertar sobre quem pode estar prestes a abandonar a aplicação.

“Temos um algoritmo que identifica os utilizadores que estão em risco elevado de abandonar o produto, porque percebemos que o comportamento deles está a ficar semelhante ao dos que já abandonaram o produto. O algoritmo identifica-os e avisa o publisher. Se ele quiser reter estes utilizadores, pode escolher enviar-lhes uma notificação e, até, escolher qual é a melhor hora para enviá-la. Através do histórico, conseguimos perceber qual é a hora que garante que o utilizador reage à app“, explica Alexandre.

Liquid de Portugal ao Japão

Foi quase por acaso que Alexandre Vaz, João Soares, Miguel Almeida e André Sousa lançaram uma empresa juntos. Alexandre, que é licenciado em engenharia e gestão industrial, tinha trabalhado em várias consultoras e feito um MBA, quando decidiu lançar um negócio próprio de importação de cervejas. Quando percebeu que não podia escalá-lo, vendeu.

“Percebi que não queria um negócio que dependesse de um produto físico. Preferia ter um que escalasse rápido e que fosse digital”, conta.

Em conversa com Alexandre Barbosa, administrador da Faber Ventures, percebeu que a ideia de desenvolver um produto que pudesse analisar e mudar uma app em tempo real já existia. Miguel Almeida estava, na altura, a desenvolver o protótipo analítico da capital de risco. Juntaram-se João Soares e André Sousa. Numa das paredes do escritório, há uma pintada pelo artista Roger Paulino, para mostrar a identidade da Liquid. Queriam mostrar que cada um “era muito importante à sua maneira” e que a “informação pode vir de qualquer lado”.

Lançada no início de 2014, só no final desse ano é que surgiu a primeira versão do produto da Liquid, que atualmente, conta com 150 clientes espalhados por países como Portugal, Brasil, Japão ou China, e onde surgem nomes como a Wetransfer ou a Intercom. Foi em 2014 que chegou o investimento semente: 750 mil euros em capital de risco da Faber Ventures e Portugal Ventures. Agora, estão a negociar uma segunda ronda de cerca de um milhão de euros. Objetivo: “Crescer, crescer, crescer”. E é por isso que estão a reforçar a equipa de vendas e marketing.

Quem quiser subscrever o produto da Liquid e tiver uma app com menos de 5.000 utilizadores mensais ativos, pode fazê-lo gratuitamente. A partir daí, a subscrição começa a ser paga e oscila entre 150 e 500 euros por mês, consoante o número de utilizadores. Alexandre explica que, atualmente, a percentagem de utilizadores que paga o serviço ronda os 30%.

*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.