Milhares de militares norte-americanos que afirmam ter sido dispensados depois de denunciarem agressões sexuais veem recusado o acesso aos benefícios dos veteranos e a novos empregos, concluiu um relatório da Human Rights Watch divulgado esta quinta-feira.

“Muitas vítimas de violação, traumatizadas, foram injustamente dispensadas por ‘perturbação de personalidade’ ou outros problemas de saúde mental, o que lhes impede o acesso aos benefícios”, afirmou a organização de defesa dos direitos humanos num comunicado.

“Outras receberam ordens de dispensa ‘não honrosa’ por má conduta relacionada com a agressão, o que as mantém fora do sistema de saúde do Departamento de Assuntos dos Veteranos e sem acesso a um vasto leque de assistência educativa e financeira”, acrescentou.

A Human Rights Watch frisa que as consequências deste tipo de dispensa são abrangentes, tendo impacto “no emprego, guarda de menores, cuidados de saúde, pensões por incapacidade, direitos por morte — praticamente todos os aspetos da vida”.

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A organização entrevistou 163 militares dos Estados Unidos que foram vítimas de agressão sexual desde a Guerra do Vietname até à atualidade.

O relatório é divulgado depois de o Pentágono ter anunciado medidas para “erradicar as agressões sexuais” nas forças armadas e as retaliações contra quem as denuncia.

Segundo o Pentágono, em 2015 foram apresentadas 6.083 denúncias de agressões sexuais, que correspondem a cerca de quatro casos por cada 1.000 militares.

O secretário da Defesa, Ashton Carter, apresentou em abril uma estratégia de prevenção da retaliação contra vítimas de agressão sexual, afirmando que tanto as agressões como a retaliação são contrárias aos valores militares.

“As vítimas de agressão sexual não devem temer as repercussões associadas à denúncia do crime”, lê-se no documento do Pentágono.

“Todavia, estudos do departamento mostram que muitas vítimas de agressão sexual que denunciaram o caso percecionaram algum tipo de retaliação associada”, acrescenta.

A Human Rights Watch reconhece que as Forças Armadas norte-americanas aplicaram medidas de proteção dos militares que denunciam este tipo de casos, mas destaca que “nada foi feito para reparar o mal feito àqueles que foram injustamente dispensados”.

O Pentágono questionou contudo as conclusões da HRW e a metodologia utilizada na investigação.

“Não há qualquer indicação de que tenham consultado registos militares, registos de dispensas ou normas de serviço para avaliar objetivamente se a dispensa foi justa ou injusta”, disse o porta-voz do Pentágono, major Ben Sakrisson.

“É um pouco como pôr em causa um diagnóstico com base na versão do paciente, sem consultar análises, radiografias ou protocolos de tratamento e sem examinar o paciente no momento”, acrescentou.