É encantado por David Beckham. “No campo tinha classe. Fora dele, estava sempre impecável. Lembro-me nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012: ele chegou num barco e o cabelo nem mexia!”, contou Antoine Griezmann à GQ, a dois dias do arranque do Euro-2016. “Sou um verdadeiro fã. Eu jogo com as mangas compridas porque ele também joga, eu também uso o seu número, o sete.” O avançado do Atlético Madrid, neto de um português que jogou no Paços de Ferreira, marcou dois golos à Alemanha e meteu a França na final contra Portugal. Esse duelo especial joga-se domingo, em Paris, às 20 horas.

Franceses e alemães juntavam-se num campo de futebol pela primeira vez depois daquela noite terrível dos atentados de Paris. Era um particular, mas ficou particularmente alojado na mente de todos. Hoje jogava-se o orgulho, por uma história, a luta contra a História. É que os franceses perderam nas meias-finais dos Mundiais de 1982 e 1986. A última vez a doer foi no Brasil, em 2014, nos quartos-de-final do Campeonato do Mundo também. Voltaram a vencer os germânicos, com golo de Hummels, ausente esta noite por estar suspenso.

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Os franceses entraram melhor, com aquela pedalada de quem tem muitos milhares nas bancadas a soprar-lhes nas costas. O primeiro a assustar Neuer foi precisamente aquele que seria o melhor em campo: Antoine Griezmann. O avançado chutou, mas o super-guarda-redes alemão parou. A partir do minuto 15 a Alemanha pegou na bola. Mostrou que era melhor equipa, empurrou os franceses para trás. Deu um murro na mesa.

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Os primeiros 20 minutos passaram a correr. A Alemanha conseguiu baixar a crista do galo e tinha neste momento mais bola, jogava com outro requinte, com outro acerto. Era delicioso ver esta gente investir em passes pelo corredor central, com a coragem de quem não treme. Hugo Lloris teve de voar mais do que uma vez para o marcador continuar sossegado, a ver o jogo nas calmas.

Caminhava-se para o intervalo, minutos depois de Umitit inventar um lance espetacular para a França, quando o árbitro apitou uma grande penalidade para a equipa da casa. À imagem de Boateng contra a Itália, embora menos descarado, Bastian Schweinsteiger tocou com a mão depois de um gaulês cabecear. Griezmann assumiu e marcou o primeiro, 1-0. Por esta altura, o avançado com sangue português alcançava nomes como Van Basten, Alan Shearer, Milosevic, Kluivert e Milan Baros como os únicos homens com cinco golos numa edição de um Europeu. O árbitro italiano apitou logo a seguir para o intervalo.

No arranque do segundo tempo, aquele brilhantismo e frieza alemães haviam esvanecido. Os homens que vestem de branco e preto sentiram o golo de Griezmann e baixaram das nuvens, começaram a questionar-se. A duvidar deles próprios, investindo em mais bolas longas.

Joachim Low tentava ajudar a equipa, dar-lhe mais peso no ataque e mais frescura no cérebro, mas seria a França a marcar novamente. Por quem? Ora essa, Antoine. Tudo começou na esquerda, com Paul Pogba, mais discreto nesta meia-final, a trocar os olhinhos a Kimmich. Depois cruzou e Neuer sacudiu… para a frente. Na recarga, Antoine Griezmann marcou o segundo e quase sentenciou a passagem da França à final, 2-0.

Nesta altura, Griezmann ultrapassava aquela gente toda com nome no futebol, ao marcar seis golos numa edição. Mais importante que isso: era o primeiro a marcar seis golos numa edição do Campeonato da Europa depois de Michel Platini, que fez nove em 1984. Ou seja, este rapaz de 25 anos corre para o recorde de Platini… e Cristiano Ronaldo. Bom, okay, mais uma: apenas três jogadores bisaram duas vezes em Europeus — Gerd Muller (1972), Michel Platini (1984) e Wayne Rooney (2004).

A Alemanha ainda faria o poste de Hugo Lloris tilintar, por Kimmich. O guarda-redes do Tottenham também seria obrigado a voar para fechar a rota da bola para as suas redes, novamente. Ponto final: França, dois, Alemanha, zero. O povo festejou e até imitou os islandeses, com aquele grito viking mais a palma ruidosa.

Quem esfrega as mãos são os portugueses, que lembram as desilusões causadas pelos gauleses nas meias-finais de 1984, 2000 e 2006. França foi e é a besta negra. Será que Portugal vai saber matar o borrego? Logo se vê. É domingo, às 20 horas, no Stade de France, em Paris. Bonne chance