Ernesto Driesel Schröter. Fixe este nome se quiser fazer um brilharete na próxima vez que for ou passar pelo Tamariz, no Estoril. E porquê? Ora, rezam as crónicas que é a este empresário austríaco, que chegou a ser ministro da Fazenda de Portugal no início do século XX, que se deve o nome Tamariz: quando transformou o arruinado Forte de São Roque no seu chalet pessoal, Schröter terá plantado árvores de tamarindo nos respetivos jardins. Como chamar-lhe Palacete Schröter não era prático nem agradável ao ouvido — daria para coçar a garganta, contudo — alguém terá optado por se inspirar nos tamarindos para batizar o edifício. E Tamariz ficou, até hoje, designação que se alargou à praia em frente.

Por esse mesmo Tamariz, entretanto transformado em salão de chá e restaurante de luxo, passariam, sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial, os espiões em que Ian Fleming se inspirou para criar James Bond, a par de alguma realeza europeia exilada. Já na viragem da década de 80 para 90 instalar-se-ia ali um dos primeiros restaurantes japoneses em Portugal, o Furusato. Ou seja, ao edifício não lhe faltam pergaminhos. E são esses pergaminhos que o novo Villa Tamariz Utopia quer honrar.

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Um edifício com história que agora ganha um novo conceito.
(foto: © Ricardo Polónio)

Antes de mais, é importante não confundir o espaço com o bar/discoteca homónimo que, de há muitos verões a esta parte, tem permitido aos púberes cascalenses e respetivos pares descobrir as coisas boas da vida adulta. Ao Villa Tamariz, que pertence ao Casino Estoril mas é gerido pelo Penha Longa Resort, corresponde apenas o histórico edifício amarelo nascido pela mão do tal Schröter e a respetiva esplanada. E mesmo aí há diferenças. Esmiucemos.

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A zona exterior, que inclui mesas altas e baixas, sofás, cadeiras e cadeirões, funciona o dia inteiro, logo a partir das 10h. A respetiva carta aposta em refeições leves — hambúrgueres, wraps e saladas –, com alguns petiscos pelo meio, como forma de complementar uma vasta oferta de bebidas. Afinal, junto à praia é importante manter a hidratação. As sangrias e os mojitos ganham o campeonato da variedade: há mais de uma dúzia de cada disponíveis. Uma maquia generosa, conseguida através de variações criativas das receitas originais.

Destaque, entre o leque de sangrias para uma que homenageia as tabernas de outros tempos por juntar ingredientes que nelas também se casavam com frequência: grenadine, cerveja, gasosa, Martini e Porto Seco. Ao resultado final, vermelho vivo, chamaram-lhe 35, o que é outra homenagem — esta menos unânime, quiçá — ao número de títulos nacionais de futebol do Sport Lisboa e Benfica.

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Sai uma 35 (19€/jarro) com vista para o mar.
(foto: © Tiago Pais / Observador)

Como se leu em cima, o conceito foi desenvolvido pelo Penha Longa Resort. “Fomos contactados pelo Casino [do Estoril] que é quem detém o espaço e decidimos avançar”, explica Marta Santos, diretora de Vendas e Marketing da unidade hoteleira. Apesar de ser inevitável falar nessa associação, a ideia dos responsáveis é que o Villa Tamariz funcione de forma autónoma, sem estar ligado à marca Penha Longa. Portanto, esqueça este parágrafo. Ou não.

No interior há um aproveitamento distinto dos dois pisos. Em baixo funciona o restaurante, que só abre aos jantares. Já lá vamos. Subindo as escadas em caracol, encontra-se uma sala que pode ser alugada para eventos e servir como uma extensão do bar. E é esta sala que, espera Marta, vai permitir “que o espaço funcione o ano inteiro”, mesmo quando a meteorologia pedir mais lareira e menos mar.

Escrito isto, voltemos, então, ao restaurante propriamente dito, que fica no piso térreo. Aqui, apesar das janelas amplas para o mar, com uma vista que, esta sim, faz por merecer o desgastado adjetivo privilegiada, os responsáveis não ficaram a dormir à respetiva sombra. Assim, apostaram num conceito específico, que até está muito em voga: o arroz. O desafio de o concretizar ficou a cargo do chef Mário Cruz, que já estava ligado ao Penha Longa (e que trabalhou anteriormente com Luís Baena e Marlene Vieira, entre outros). “Tínhamos uma vontade grande de inovar, dentro do que é português. E o arroz é uma parte grande disso”, explica Mário.

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Mário Cruz tem no currículo passagens pelas cozinhas de Manifesto e Avenue, com, respetivamente, Luís Baena e Marlene Vieira. (foto: © Ricardo Polónio)

Não quer isto dizer, porém, que tudo seja arroz no Villa Tamariz. Para começar, há uma série de entradas criativas. Destaque, por exemplo, para o ceviche de choco (7€), em que o dito é marinado como se de um ceviche peruano se tratasse, mas chega à mesa em tiras (e não em cubos) sem a quantidade habitual de leche de tigre. Outra entrada curiosa envolve uma desconstrução do bacalhau à Brás (7€), que inclui um crocante feito com a sames (o estômago) do bicho.

Já quando o chef dá o arroz, fá-lo em diferentes contextos. Primeiro, dá-o à grande, ou seja, para duas pessoas, servido na paella, na fidéua (a parente valenciana da paella) ou no tacho. Aqui varia, sobretudo, a matéria-prima que acompanha o arroz: são opções o marisco, o pato, o carabineiro, o choco ou o lavagante, entre outras. Depois, dá-o no prato, “cremoso e voluptuoso”, como lhe chama, em doses individuais. Neste caso as propostas variam entre o arroz de ostras da Ria de Aveiro (15€), o de abóbora com queijo de cabra e rúcula (13€) ou o de bacalhau de coentrada com tártaro de tomate e alho (15€). “A nossa cozinha é, inevitavelmente, muito focada no mar“, comenta Mário. O cenário justifica a opção.

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Um dos arrozes da carta, o de pato neste caso.
(foto: © Ricardo Polónio)

A complementar esta oferta há ainda uma seleção de outros pratos principais, quatro de peixe e quatro de carne. Quatro são também as sobremesas, umas mais doces, outras mais frescas. “Queremos ter uma ementa o mais sazonal possível, usar sempre os produtos de época”, garante o chef, que prevê alterações trimestrais à oferta. Já o que se vê da janela não se prevê que venha a mudar. E ainda bem.

Nome: Villa Tamariz Utopia
Morada: Praia do Tamariz (Estoril), Cascais
Telefone: 91 012 7990
Horário: O lounge e o bar funcionam das 10h às 02h. O restaurante funciona das 19h30 às 23h. Encerra ao domingo e segunda-feira ao jantar.
Preço: Há dois menus degustação, de 35€ (7 passos) e 55€ (13 passos). O serviço à carta, no restaurante, fica entre os 30 e os 50€ por pessoa. No bar, onde se servem refeições leves, o preço médio andará pelos 15€.
Reservas: Aceitam
Site: www.penhalonga.com/pt/Gastronomia/Villa-Tamariz-Utopia