O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, não desiste da ideia de reintroduzir a pena de morte no país. Em entrevista à CNN, o líder turco admite que a decisão pertence agora ao Parlamento turco, mas insiste que esse deve ser o castigo aplicado aos alegados autores da tentativa de golpe de Estado.

“Existe um claro crime de traição e o pedido [de reintrodução da pena de morte] não pode ser rejeitado pelo nosso Governo”, começa por dizer o Presidente turco, antes de admitir que a decisão cabe ao Parlamento turco. “Os líderes [partidários] terão de se reunir e discutir essa medida. Se eles aceitarem fazê-lo, eu, enquanto Presidente, vou aprovar qualquer decisão que saia do Parlamento”.

Uma eventual reintrodução da pena de morte por parte da Turquia seria uma clara violação dos estatutos da União Europeia e reduziria a zero as possibilidades de os turcos se virem a juntar ao clube dos 28 — 27 com o Brexit.

Foi isso que se apressou a dizer a responsável das relações exteriores da UE, Federica Mogherini. Em declarações à agência Reuters, Mogherini deixou claro que a Turquia jamais se poderia tornar “Estado-membro da União Europeia se introduzir a pena de morte”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Além disso, insistiu Frederica Mogherini, se a Turquia avançar com essa medida, estaria a violar a Convenção Europeia dos Direitos Humanos — de que é signatária — e os estatutos do Conselho da Europa — de que faz parte. “A Turquia é uma parte importante do Conselho da Europa e está ligada à Convenção Europeia dos Direitos Humanos, que é muito clara relativamente à pena de morte”, recordou Mogherini.

Nessa mesma entrevista à CNN, Erdogan garantiu que vai mesmo avançar com um pedido formal de extradição do líder religioso Fethullah Gulen, acusado pelas forças governamentais turcas de ser o homem que orquestrou a tentativa falhada de golpe de Estado.

Fethullah Gulen vive exilado na Pensilvânia, Estados Unidos, desde 1998, e tem dedicado toda a vida ao estudo da teologia islâmica, como explicava aqui o Observador. Aquele que é um dos líderes religiosos mais admirados do Mundo, chegou a ser aliado do Presidente turco, mas um escândalo de corrupção em 2013 afastou-os. Erdogan acredita que, desde aí, Gulen não tem poupado esforços a tentar derrubar o regime turco. Para Erdogan, o golpe de Estado falhado foi a derradeira tentativa de Gulen.

Por isso mesmo, o pedido formal de extradição estará por dias, confirmou Erdogan, que colocou a pressão do lado das autoridades norte-americanas. “Nós temos um acordo mútuo de extradição de criminosos. Se tu, enquanto meu parceiro estratégico, me pedes para extraditar alguém, eu obedeço. Se não fizeres o mesmo [quando eu te peço], então, claro, deverá existir reciprocidade neste tipo de coisas”, sublinhou o Presidente turco.

Esta foi a primeira entrevista de Erdogan depois da tentativa de golpe de Estado falhada, que fez pelo menos 308 mortos e já levou à detenção de 7.500 pessoas. Mar o Presidente turco continua a exigir a cabeça de Fethullah Gulen.