A Rússia está a ser acusada “barbárie” no que ao conflito sírio diz respeito. Tanto os EUA, como o Reino Unido e a França, apontaram o dedo àquele país e falaram em “crimes de guerra”.
“A Rússia argumentará hoje, sem dúvida, que estes ataques servem para combater o terrorismo, e que as pessoas que são mortas na sua ofensiva são terroristas ou simpatizantes destes. Isso é absurdo. O que a Rússia está a patrocinar e a fazer não é contra-terrorismo, é barbarismo“, disse Samantha Power, embaixadora dos EUA na ONU, na reunião de emergência das Nações Unidas marcada para este domingo.
Sobre isso, o embaixador russo, Vitaly Churkin, referiu que, agora, a paz “era uma tarefa praticamente impossível” e que o território do país estava a ser bombardeado indiscriminadamente.
As críticas, essas, também vieram do embaixador do Reino Unido da ONU, afirmando que a Rússia é parceira do regime sírio no que aos crimes de guerra dizem respeito.
De forma idêntica pensa a França, que ainda antes de a reunião de emergência começar acusou o regime e os aliados russos de prosseguirem uma solução militar na Síria e de se servirem das negociações como uma “cortina de fumo”.
O Conselho de Segurança da ONU reuniu-se este domingo para discutir a situação síria. Os bombardeamentos da aviação russa e das tropas de Bashar Al-Assad sobre a cidade de Aleppo, desde a noite de sexta-feira, levaram a França, os EUA e o Reino Unido a convocar a reunião.
A reunião foi divulgada através da conta Twitter da missão neozelandesa nas Nações Unidas.
#UNSC to hold urgent briefing on the situation in #Syria on Sunday at 11am following request from @USUN @franceonu @UKUN_NewYork #NZprez
— NZ at the UN (@NZUN) September 25, 2016
Na sexta-feira, as tropas sírias anunciaram o fim do cessar-fogo que se prolongou por toda a semana. De imediato recomeçaram os bombardeamentos sobre a cidade de Aleppo, dividida entre o território tomado pelos rebeldes, que contestam a liderança de Al-Assad, e o território livre, onde vivem um milhão e meio de civis.
Já este domingo, o secretário-geral das Nações Unidas disse que Aleppo foi alvo dos mais intensos ataques aéreos desde o início do conflito na Síria. Ban Ki-moon revelou preocupação com a situação em que se encontram os cidadãos sírios rodeados por forças rebeldes na cidade e chegou a falar de crimes de guerra.
Rússia rejeita responsabilidades e admite retomar cessar-fogo
Na mesma reunião do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador russo nas Nações Unidas afirmou que há grupos extremistas em Alepo, Síria, que usam civis como escudos humanos, e admitiu que seja retomado o cessar-fogo, desde que isso não represente um esforço isolado de Moscovo.
Vitaly Churkin, afirmou que no leste de Alepo — zona particularmente fustigada pelos intensos ataques aéreos dos últimos dias — há “muitos grupos rebeldes”, entre os quais a Frente da Conquista do Levante (antiga Frente Al-Nosra, braço sírio da Al-Qaida).
“A Al-Nosra é a principal força que se encontra ali”, disse o diplomata russo, e assegurou que este grupo radical é responsável pela “matança em massa de civis” que tentam abandonar a zona oriental da cidade síria. Os civis, acrescentou, “são um escudo humano para eles”.
A Rússia rejeitou qualquer responsabilidade no impasse da coligação internacional comandada pelos Estados Unidos, referindo que “centenas de grupos foram armados e o país tem sido bombardeado sem discernimento”. “Nestas condições, garantir a paz agora é uma tarefa quase impossível”, considerou.
O embaixador não fechou a porta, no entanto, a uma restauração da trégua, que vigorou até ao início da semana passada, após um acordo entre Washington e Moscovo em Genebra. “Esse é o objetivo que gostaríamos de alcançar, assim como a retomada das negociações”, disse Churkin, que deixou uma condição: a de que este deve ser um esforço coletivo e não partir apenas da Rússia.
Este artigo foi atualizado às 23h com a intervenção do representante russo na reunião do Conselho de Segurança da ONU