O secretário de Estado das Autarquias Locais, Carlos Miguel, admitiu esta sexta-feira que dois terços das 3.092 freguesias do país não têm funcionários, situação que considerou “assustadora” e que dificulta o processo de descentralização.

“Das 3.092 freguesias que existem hoje, mais de 1.900, ou seja, cerca de dois terços, não têm qualquer funcionário e isso é uma coisa que assusta qualquer um. Eu confesso que não tinha noção disso”, afirmou o secretário de Estado das Autarquias Locais, Carlos Miguel, na abertura do 12.º Encontro de Arquivos Municipais, que está a decorrer em Castelo Branco, abordou o tema da reestruturação da administração local.
“Sem funcionários, sem uma porta aberta, sem um técnico a quem se dê formação, é muito difícil descentralizar”, frisou.

Neste contexto, disse que há saltos qualitativos que têm de ser dados e adiantou que não se pode deixar de descentralizar, apenas por se saber que existem 1.900 freguesias no país sem funcionários ou técnicos e que essa situação deve ser corrigida.

Carlos Miguel sublinhou que, ao abordar o tema da reestruturação da administração local, qualquer autarca se lembra da agregação/desagregação de freguesias e adiantou que as autarquias, além da sua dimensão territorial e humana, têm outras dimensões de especificidade do território que são difíceis de catalogar, que devem ser respeitadas.

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“Enquanto cidadão, se há 20 anos pensava que um município ou uma freguesia deve ter um número de pessoas e deve ter um mínimo de quilómetros quadrados, hoje penso que essa matemática não pode ser assim e tem que se olhar muito e bem, para a especificidade de cada um dos territórios”, sustentou.

Isso, segundo o governante, torna as coisas mais difíceis: “Fácil é criar um padrão e depois as coisas estão dentro ou fora, é a lei”.

Neste sentido, referiu que quando se fala em restruturação, uma das questões que se coloca é se se fala de uma reestruturação territorial ou funcional.

Recordou, ainda, que recentemente o país passou por uma reestruturação da administração local que pretendia ser para as freguesias e concelhos, mas que acabou por residir só nas freguesias.

“Não houve um único concelho que se agregasse e a agregação de concelhos era de livre iniciativa. E, havendo esta agregação de freguesias, aquilo que aconteceu é que houve uma agregação territorial, porque ao nível da funcionalidade e das competências elas são rigorosamente as mesmas”, disse.

O governante entende que essa reestruturação não foi boa, porque foi imposta e porque se falou apenas de território e não de funcionalidades.

“Hoje as freguesias têm rigorosamente as mesmas competências que tinham antes desta reestruturação”, concluiu.

Carlos Miguel disse que aplicar uma fórmula e impor uma redução percentual, sem olhar aos territórios nem à funcionalidade, é um erro que não se deve cometer.

Assim, entende que o processo deve ser muito dialogado e deve começar pela funcionalidade e depois passar ao território.

“Se as coisas correrem normalmente, em 2018, no próximo ciclo autárquico, temos aqui um leque de competências muito alargado para as autarquias locais, leia-se para as câmaras e para as juntas de freguesia”, concluiu.