O primeiro-ministro, António Costa, considerou esta terça-feira que Portugal e o Brasil estão “num novo patamar de relacionamento” e destacou um “novo projeto muito ambicioso” sobre a construção de um carro elétrico.

António Costa falava no final da XII Cimeira Luso-Brasileira, tendo ao seu lado o Presidente do Brasil, Michel Temer, no Palácio do Planalto, em Brasília. Ambos os líderes fizeram declarações aos jornalistas, após as quais não houve direito a perguntas.

Antes destas declarações, foram assinados acordos bilaterais, um dos quais sobre mobilidade elétrica, entre a Fundação Parque Tecnológico Itaipu, do Brasil, e o Centro de Excelência e Inovação para a Indústria Automóvel (CEIIA), de Portugal.

O primeiro-ministro português começou por agradecer ao Presidente Michel Temer por “ter feito questão de logo no início deste seu mandato restabelecer as reuniões bilaterais entre Portugal e o Brasil, que não tinham lugar há mais de três anos”.

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“É muito importante que, para além de toda a história que já construímos em conjunto, nos concentremos no muito que ainda podemos fazer nos próximos anos. E hoje o patamar das relações entre Portugal e o Brasil já é muito diferente daquele que era há uns anos”, acrescentou.

António Costa salientou a evolução das relações económicas e comerciais entre os dois países: “Hoje já não falamos só de importação e exportação de petróleo, de carne, de vinho ou de azeite. Hoje podemos falar na cooperação técnica e científica ao mais alto nível”.

O primeiro-ministro considerou que “a experiência do [avião da Embraer] KC-390 é exemplar”, por ser um projeto desenvolvido “em conjunto, mobilizando o melhor da engenharia brasileira e portuguesa”, com a produção feita parcialmente em Portugal, na fábrica em Évora, e parcialmente no Brasil.

“É um projeto que já está a ser replicado agora num novo projeto muito ambicioso, que foi aliás objeto de dois acordos aqui hoje assinados, que tem a ver construção de um carro movido exclusivamente a eletricidade”, adiantou António Costa, concluindo: “Estamos por isso hoje num novo patamar de relacionamento”.

Temer quer que Portugal seja “a voz do Brasil”

O Presidente brasileiro, Michel Temer, pediu a Portugal que seja “a voz do Brasil” na Europa nas negociações sobre o acordo de associação Mercosul-União Europeia, ao que o primeiro-ministro português respondeu que será “pelo menos advogado”.

“Conversámos sobre a prioridade que ambos os países atribuem às negociações entre o Mercosul e a União Europeia. Já há um bom período que Mercosul e União Europeia tentam formalizar este acordo”, disse Temer.

Na opinião do Presidente brasileiro, Portugal “poderia ser a voz do Brasil perante a União Europeia com vista a formalizar-se o mais rapidamente possível este acordo entre o Mercosul e a União Europeia”.

“O Brasil contará sempre com Portugal, eu não diria como porta-voz, mas pelo menos como advogado, nestas negociações entre a Europa e o Mercosul”, garantiu, de seguida, António Costa.

Visitas virtuais a presos separados pelo Atlântico

Temer e Costa comprometeram-se também a pôr em prática um projeto-piloto de visitas virtuais para presos nos dois países e as respetivas famílias no país de origem.

Na declaração conjunta assinada pelos dois chefes de Governo, é assumido “o compromisso de ambas as partes em implementar, tão logo acordados os aspetos técnicos, o projeto-piloto de visitas virtuais entre detidos brasileiros em Portugal e portugueses no Brasil e suas famílias no país de origem”.

No mesmo ponto da declaração, é referido que “o programa poderá beneficiar uma população carcerária em torno de 300 brasileiros em Portugal e de 80 portugueses no Brasil” e que os dois países já “possuem programas de visita virtual dentro de seu território, podendo haver, dessa maneira, uma interligação entre os sistemas brasileiro e português”.

“Ambas as partes reconheceram o aspeto humanitário do projeto, que permite que os presos – especialmente aqueles que cumprem longas penas – tenham contato mais próximo com as suas famílias, muitas das quais economicamente vulneráveis e sem condições de deslocamento ao exterior”, lê-se no documento.