No verão, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos pediu ao FBI para evitar tornar públicas informações relativas a duas investigações em curso que poderiam abalar a campanha presidencial, com impacto para os dois candidatos. De acordo com o New York Times, o FBI concordou em não desenvolver ações que poderiam tornar públicas as investigações, mesmo em cima da corrida presidencial.

Em causa estão processos que investigam o então responsável pela campanha de Donald Trump, Paul Manafort, por envolvimento em negócios secretos com a Ucrânia; e as relações entre Hillary Clinton e os doadores da fundação da família Clinton.

O esforço para não perturbar a campanha acabou por revelar-se inconsequente. Na semana passada, o diretor do FBI, James B. Comey, enviou uma carta ao Congresso sobre o relançamento do inquérito ao uso da conta privada de email de Hillary Clinton quando era secretária de Estado. Esta decisão colocou o FBI e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos no olho do furacão das eleições presidenciais, um resultado que é precisamente o oposto do que pretendiam os responsáveis dos dois organismos. Além de representar, recorda o New York Times, um desvio em relação àquela que tem sido a política do FBI em outras campanhas.

A carta de James B. Comey foi enviada apesar das objeções do Departamento de Justiça, e desencadeou reações de ultraje nos partidos. A divulgação de uma torrente de notícias está a expor publicamente deliberações internas do governo e um clima de desconfiança entre agentes do FBI e altos responsáveis do departamento.

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Desde que foi revelada a carta, o FBI apressou-se a analisar o conteúdo dos emails encontradas no computador de uma das responsáveis pela campanha de Hillary Clinton, Huma Abedin, ainda que seja improvável que se chegue a alguma conclusão antes do dia de eleições. Os responsáveis do FBI admitem contudo que podiam divulgar alguma atualização do caso antes do dia 8 de novembro.

Esta terça-feira surgiu mais uma revelação. Um “tweet” surpresa feito a partir de uma conta pouco usada pelo FBI anunciou que a agência publicou no seu site 129 páginas de um documento interno sobre uma investigação antiga a um perdão concedido pelo ex-presidente Bill Clinton a um financeiro em fuga, Marc Rich, que foi doador do Partido Democrata.

O ressuscitar de uma história que foi um dos capítulos mais polémicos da presidência de Bill Clinton — que deixou a Casa Branca em 2001 — uma semana antes das eleições, provocou uma reação imediata da campanha de Hillary, com o seu porta-voz, Brian Fallon, a deixar a pergunta no Twitter: será que o FBI vai divulgar documentos sobre a discriminação no acesso à habitação devido à política de rendas praticada por Donald Trump nos anos 70?

O FBI justificou a publicação como uma resposta automática a um pedido pendente de acesso a relatórios públicos, refere o New York Times — mas a polémica não para de ganhar dimensão.

Os democratas insistem também para que agência de investigação divulgue informação sobre a investigação que incide sobre alegadas ligações entre a campanha de Donald Trump e a Rússia. O senador democrata, Harry Reid, acusou mesmo o FBI de ocultar informação “explosiva sobre as ligações perigosas com a Rússia que poderiam infligir um dano irreparável a dias da eleição presidencial americana.