A seguir ao discurso de Hillary Clinton, que chegou com meio dia de atraso, eram as palavras de Barack Obama as mais aguardadas. O ainda Presidente dos EUA, que já tinha felicitado o presidente eleito e endereçado até um convite para visitar a Casa Branca na próxima quinta-feira, fez uma intervenção curta e descontraída, onde procurou evidenciar a normalidade democrática das derrotas. É assim mesmo que funciona a política e a democracia: “Temos de convencer as pessoas de que estamos certos, depois as pessoas votam, depois ou ganhamos ou perdemos. Se perdemos refletimos, lambemos as feridos, penteamo-nos e voltamos para a arena. Seguimos em frente”.

Mas uma coisa é certa, disse, repetindo a mensagem que já tinha sido deixada pela candidata democrata derrotada: “Lutar pelo que é certo vale sempre a pena”. A lição foi de democracia e de humildade democrática, com Obama a dirigir-se mesmo aos mais jovens, que estão na política há pouco tempo e que estão a passar pelo processo da “desilusão”. “Às vezes perde-se uma discussão, outras vezes perde-se uma eleição”, disse Obama, explicando que “o caminho nunca é em linha reta” e que “às vezes andamos para a frente, outra vezes andamos para trás”. Mas “that’s ok“.

Tentando retirar alguma carga negativa à derrota de Hillary Clinton por via do humor, o ainda Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, brincou com o vice Joe Biden, num momento de descontração que motivou sorrisos da assistência. “Eu já perdi eleições…”, como quem diz que calha a todos. “O Joe [Biden] é que não”, acrescentou, entre sorrisos.

Certo é que, no rescaldo da contagem dos votos que deu uma surpreendente, e para muitos chocante, vitória a Donald Trump, Barack Obama recordou o exemplo da sua chegada à Casa Branca, há oito anos, e da forma como foi recebido pelo seu antecessor, George W. Bush, para explicar que é preciso aceitar as diferenças. “O Presidente eleito e eu temos algumas diferenças significativas. Mas recordem que há oito anos, o Presidente Bush e eu também tínhamos algumas diferenças significativas”, afirmou, garantindo que vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para garantir o “êxito de Donald Trump na tarefa de unir e liderar o país”.

Para isso, Obama garante que já deu instruções à sua equipa para fazer o mesmo que a equipa de Bush fez consigo: receber bem, com o objetivo de conseguir uma “transição pacífica” e “bem-sucedida”. “A transição pacífica do poder é uma das marcas da nossa democracia”, disse, depois de, no início da intervenção, ter recorrido à ideia de que “o sol nasce para todos” para dizer que, independentemente do lado em que cada um esteve durante a campanha e durante a eleição, o sol nasce todas as manhãs, e esta manhã não foi exceção. “Tivemos uma longa noite, eu também tive, mas o sol nasceu para todos”.

A ideia é só uma, e viria a explicá-la depois: “No dia seguinte temos de ter consciência de que estamos todos na mesma equipa. Não somos democratas primeiro, ou republicanos primeiro, somos americanos primeiro. Somos patriotas primeiro“.

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