God save the Queen, que o país tema que a Casa da Música, no Porto, escolheu para 2017 foi o Reino Unido. O diretor artístico António Jorge Pacheco explicou que a escolha está a ser preparada há três anos e “nada teve haver com o Brexit”, mas sim com a vontade de “partilhar uma música de primeira dimensão que talvez seja pouco conhecida do público, e que está por explorar em Portugal”. Haverá mais de 30 concertos de música britânica para ver em 2017, mas não só. Adriana Calcanhotto e Arthur Nestrovski, Brad Mehldau, Al Di Meola e o coletivo jazz de Brooklyn Snarky Puppy são alguns dos nomes que também vão pisar a Sala Suggia.

Em janeiro, um dos grandes momentos da temporada será precisamente “God save the Queen”, o festival de abertura do ano britânico, que se prolonga durante quatro dias (19 a 22 de janeiro) com ensaios, workshops e visitas guiadas de entrada livre. A programação fará um percurso que vai desde a primeira Idade do Ouro, com John Dowland, Thomas Tallis ou John Taverner, até ao melhor da composição britânica contemporânea, com obras encomendadas pela Casa da Música a Julian Anderson e Rebecca Saunders, e estreias nacionais de Sir Harrison Birtwistle, o compositor em residência (“a voz mais proeminente da composição britânica atual”, defende a Casa) pelo Remix Ensemble e Orquestra Sinfónica.

O concerto de abertura terá “Rule, Britannia!”, de Thomas Arne com a Orquestra Sinfónica e um coro comunitário reunido para a ocasião. O festival inclui ainda a conferência “O impacto do Brexit na vida musical britânica“, a 21 de janeiro. Sir Nicholas Kenyon, diretor do Barbican Centre e antigo responsável pelos BBC Proms, e Cathy Graham, diretora de Música do British Council em Londres, são algumas das figuras ligadas à música que vão discutir as suas dúvidas e anseios sobre o que implica para a vida musical a saída do Reino Unido da União Europeia.

Ao programa, que foi apresentado publicamente na quarta-feira à noite, acrescenta-se um novo ciclo, chamado “Humor na Música“, reservado para setembro. De regresso estão ciclos como o “Outono em Jazz“, “Ciclo de Piano“, “À Volta do Barroco“, o “Invicta.Música.Filmes“, que em fevereiro mostra a música para o cinema com cine-concertos em estreia nacional, e o “Música & Revolução“, que entre 24 e 30 de abril mostra obras como “Panic”, de Harrison Birtwistle, que em 1995 foi tocada na noite de encerramento dos Proms e se transformou em escândalo nacional.

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Também se mantém o “Verão na Casa“, com vários concertos gratuitos e ao ar livre na esplanada, e que encerrará em setembro, na Avenida dos Aliados, com uma noite de rock alternativo em que o Remix Ensemble irá mostrar a sua versão de temas dos Mão Morta junto da histórica banda de Braga, e outra noite com a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música.

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A estreia em Portugal do “Concerto para Violino” do escocês James Dillon é um dos destaques do Ano Britânico. Ilustração de Ana Torrié.

Ao Observador, o diretor artístico, António Jorge Pacheco, explicou que o orçamento para 2017 ronda os três milhões de euros, tal como o de 2016. Desde 2013, quando entrou a Lei Quadro das Fundações, que a Fundação Casa da Música mantém um corte de 30% no financiamento. Na proposta de Orçamento de Estado para 2017, o Ministério da Cultura promete fazer “um esforço de estabilização que se estende às fundações culturais (…) com o objetivo de iniciar a reversão gradual dos cortes ao financiamento instituídos em 2013”, mas a administração da Casa ainda não tem novidades quanto a esse assunto. “Temos esperança”, disse António Pacheco. “Mas enquanto o orçamento não estiver fechado na especialidade não temos nenhuma garantia a esse nível.”

O orçamento apertado tem também levado à diminuição dos eventos Clubbing. Este ano, por exemplo, só houve um. António Jorge Pacheco garantiu que o Clubbing “não acabou de vez”, sendo anunciado sempre mais tarde devido à agenda dos artistas. Mas reconheceu que devido às “limitações orçamentais” com que vive a instituição, não se voltará “a tempos áureos com oito eventos por ano“.

Sobre os aumentos de preços de bilhetes na Sala Suggia o diretor artístico reconheceu que houve um “ajuste para cima” em 2017, ainda que ligeiro: “um ou dois euros”. “Ao contrário do que gostaríamos, não podemos financiar ainda mais do que já financiamos o preço dos bilhetes.”, explicou. Em simultâneo, foram criados descontos de 50% para menores de 25 anos nos concertos de música erudita.

Boas notícias: está a ser criado um Coro Infantil Casa da Música, a partir do Serviço Educativo da instituição, no qual estarão envolvidas cerca de quatro escolas. “É um velho desejo”, disse António Jorge Pacheco, que revelou que a primeira apresentação pública será no dia 1 de outubro de 2017, Dia Mundial da Música.

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Na agenda de concertos, destaque para Adriana Calcanhotto e Arthur Nestrovski (5 fevereiro), Rita Redshoes (22 de fevereiro) e Brad Mehldau que, no dia 25 de fevereiro, transformará êxitos de rock em composições de jazz contemporâneo. O compositor e pianista vem acompanhado por Jeff Ballard e Larry Grenadier.

Destaque ainda para o guitarrista norte-americano Al Di Meola, que traz a digressão “Elysium & More Unplugged” à Casa, no dia 31 de maio, e para o regresso do coletivo jazz de Brooklyn Snarky Puppy, a 26 de abril.