Há pessoas em Portugal a tomar medicamentos para prevenir o VIH/sida sem controlo médico, uma situação que preocupa a associação Abraço, que lamenta a falta de um plano para medicar preventivamente pessoas mais vulneráveis.

Gonçalo Lobo, presidente da associação Abraço, diz ter conhecimento de pessoas em Portugal que tomam um medicamento para prevenir o VIH/sida, recorrendo a conhecidos residentes no Reino Unido e que recebem encomendas feitas online através da Índia.

Embora defenda que não existe um mercado negro, Gonçalo Lobo reconhece que são casos de pessoas que recorrem a esse medicamento – usado para tratar o VIH e que funciona também como uma prevenção da infeção – sem qualquer acompanhamento médico.

A profilaxia pré-exposição (PREP) consiste na toma de um medicamento que é um antirretroviral usado para tratar pessoas que vivem com VIH e que tem demonstrado resultados como método de prevenção.

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Há já países que estão a usar esta forma adicional de prevenção em grupos de maior risco, como os Estados Unidos ou França.

“O que nos preocupa é pessoas estarem a recorrer sem acompanhamento médico. Porque as pessoas têm de ser previamente testadas, tem de ser analisada a sua função renal e precisam de ser monitorizados outros indicadores clínicos”, referiu Gonçalo Lobo à agência Lusa em vésperas do Dia Mundial de Luta Contra a Sida.

António Diniz, médico e antigo coordenador do Programa Nacional para a Infeção VIH/sida, afirma que os estudos têm demonstrado que o recurso à PREP diminui de forma substancial o risco de adquirir a infeção.

Mas o médico salienta que fazer a medicação profilática não significa abandonar as outras medidas preventivas, nomeadamente a utilização do preservativo.

O especialista admite que o facto de haver pessoas que acedem a medicação para prevenção sem acompanhamento médico lança pressão para que os países tomem uma decisão quanto à utilização da profilaxia para o VIH.

“Se não decidimos em tempo útil podemos estar a cometer dois pecados. O primeiro é não estar a disponibilizar uma coisa que se sabe que é eficaz. O outro é estar, eventualmente, por omissão, a deixar que as pessoas façam aquisição via Internet, que não é permitida em Portugal, podendo estar a adquirir medicação que sai fora do controlo de qualidade. E são pessoas que não estão a ser clinicamente avaliadas”, afirmou António Diniz à Lusa.

Os estudos que avaliam a eficácia da PREP têm sido feitos sobretudo em populações de homens que têm sexo com homens, o que não significa que toda aquela população deva ser abrangida pela profilaxia pré-exposição.

“Há uma percentagem de pessoas dentro desse grupo que beneficiaria da sua utilização e que são as pessoas que estão em maior risco. Também outras pessoas podiam beneficiar, como trabalhadores do sexo ou casais sero-discordantes (um seropositivo e outro negativo)”, exemplifica o antigo coordenador do Programa Nacional para o VIH/sida.

António Diniz lembra que a PREP requer que as pessoas sejam submetidas a um conjunto de exames laboratoriais, nomeadamente para verificar se têm alterações que as excluam da utilização da medicação, lembrando que há reações adversas a ter em conta.

Há várias questões que os países têm de definir para avançar com a profilaxia para o VIH/sida, nomeadamente quem prescreve a medicação, quem faz a monitorização das pessoas ou quem as segue e, no limite, quem paga.

Chegou a estar planeado um projeto piloto em Portugal para fazer a PREP, em conjunto com uma organização de base comunitária, mas por enquanto não avançou.

A associação Abraço lamenta que as autoridades portuguesas não reconheçam ainda a profilaxia pré-exposição como um dos métodos de prevenção, sublinhando que é preciso estudar a realidade portuguesa e definir estratégias.