A compra de dólares nas ruas de Luanda completou, esta quinta-feira, a sexta semana consecutiva sem alterações, mantendo-se nos 490 kwanzas (2,75 euros), renovando o maior período de estabilidade de preços no mercado paralelo após as fortes subidas de junho.

A situação foi confirmada com a habitual ronda semanal da Lusa pelas ruas da capital angolana, mantendo-se a justificação das ‘kinguilas’ de Luanda, como são conhecidas as mulheres que se dedicam à compra e venda de divisas, pela falta de dólares e de moeda nacional.

Apesar deste período de estabilidade, que se regista desde a primeira quinzena de outubro, o mercado paralelo continua a transacionar dólares e euros ainda muito acima do câmbio oficial, sem que ninguém arrisque uma previsão para as próximas semanas, tendo em conta o período de Natal e as habituais viagens para o estrangeiro e correspondente aumento de procura de divisas.

O preço praticado no mercado de rua de Luanda permaneceu próximo dos 600 kwanzas por cada dólar em agosto e julho, depois de máximos acima dos 630 kwanzas em junho, embora com pontuais flutuações semanais.

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Na ronda semanal realizada hoje pela Lusa, a venda de cada dólar estava fixa nos 490 kwanzas nos bairros de São Paulo, Mártires de Kifangondo, Maculusso e na Mutamba, pontos centrais da capital, mas ainda cerca de três vezes acima da taxa oficial de câmbio.

A inflação também se ressente desta conjuntura e os preços a 12 meses ultrapassaram, segundo o Instituto Nacional de Estatística angolano, os 40% de aumento, até outubro.

O Banco Nacional de Angola (BNA) informou que vendeu aos bancos comerciais, na primeira quinzena de novembro, o equivalente a 739,3 milhões de dólares (700 milhões de euros) em divisas, “cobrindo as operações de caráter prioritário”.

Aos balcões dos bancos ainda persistem as dificuldades no acesso a divisas – devido à crise que afeta o país, decorrente da quebra nas receitas petrolíferas -, levando clientes a optarem pelo mercado de rua, apesar de taxas de câmbio, que são três vezes superiores à oficial.

São preços especulativos que, em muitos casos, como para os trabalhadores expatriados, é a única forma de ter acesso a divisas no atual contexto de crise económica, financeira e cambial.

O BNA revelou já em julho que está a trabalhar com os bancos comerciais numa “melhor programação na venda de divisas” para “repor de forma gradual, programada, organizada e prudente” as necessidades de todos os setores da economia.

Banco Nacional de Angola afasta qualquer nova desvalorização do kwanza

O Banco Nacional de Angola (BNA) afasta qualquer nova desvalorização do kwanza, a moeda nacional, face à “tendência de estabilidade” dos preços, contrariando uma recente sugestão do FMI.

A posição surge expressa num documento do banco central angolano, de análise à política monetária do país, com data de 30 de novembro, numa altura em que o kwanza não sofre variação, para o dólar, na taxa oficial de câmbio, há mais de meio ano.

“Tendo em conta à tendência de estabilidade do nível geral dos preços e consequentemente a desaceleração da taxa de inflação mensal, o BNA reafirma o seu engajamento na preservação do valor da moeda nacional, razão pela qual, não haverá desvalorização do kwanza”, lê-se no documento.

Angola vive desde finais de 2014 uma profunda crise financeira e económica decorrente da quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo, tendo desvalorizado o kwanza, face ao dólar, em 23,4% em 2015 e mais 18,4% ainda no primeiro semestre deste ano.

A taxa de câmbio oficial cifra-se atualmente nos 166 kwanzas (93 cêntimos de euro) por cada dólar, quando antes do início da crise das receitas do petróleo, ainda em 2014, era de 100 kwanzas.