A agência de rating decisiva para Portugal, a canadiana DBRS, diz que o IGCP fez bem em avançar já para a emissão de dívida desta quarta-feira e não parece preocupada, apesar de a taxa ter ficado acima de 4%, ou seja, acima do nível a partir do qual a agência disse em outubro, ao Observador, que ficaria menos confortável com o rating que atribui a Portugal. Contactada, a agência diz que “foi só uma operação“, lembrando que a subida dos juros nos últimos meses é uma subida que partiu de níveis muito baixos. Ainda assim, com Mário Centeno a garantir que os juros mais altos são um “efeito temporário”, a DBRS diz que “é difícil prever se as taxas vão continuar a aumentar”.

Contactada pelo Observador, a analista principal para Portugal, Adriana Alvarado, comentou que a DBRS “já esperava uma subida da taxa de juro” na emissão de dívida a 10 anos realizada na quarta-feira, isto depois de nas últimas semanas e meses os juros terem subido no chamado mercado secundário, ou seja, onde os investidores trocam entre si títulos existentes. Nesta quarta-feira, a subida dos juros no mercado teve um impacto prático — o Estado teve de pagar 4,2% para emitir dívida a 10 anos, o custo mais elevado desde a saída da troika e mais do que o dobro do que se pagava no início de 2015 com o mesmo prazo.

“Já era expectável uma subida das taxas de juro, tendo em conta os desenvolvimentos recentes nos mercados de dívida europeus e refletindo os receios dos investidores em relação a uma possível retirada mais rápida do que se previa do programa de compras de dívida por parte do Banco Central Europeu (BCE)”.

O custo da emissão saiu mais elevado do que a taxa média da dívida portuguesa (3,4%, segundo os últimos dados do IGCP), mas a DBRS diz que “foi apenas uma operação”, ou seja, não tem um impacto muito significativo dada a grande quantidade de dívida que existe, a juros mais baixos. Mas é preciso “continuar a monitorizar os desenvolvimentos nos mercados obrigacionistas e avaliar o impacto na dinâmica da dívida pública portuguesa“.

Repetindo uma declaração que já tem proferido nos últimos meses, a DBRS diz que a taxa de juro é “uma das variáveis” a que está atenta. As outras variáveis são o saldo orçamental (“que continua a melhorar”, diz a DBRS) e a evolução da economia (“que continua a crescer”, diz a agência).

Os custos da emissão foram elevados mas a agência diz que a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) tomou uma boa decisão ao avançar com uma operação que garantiu 20% do financiamento em obrigações do Tesouro em 2017. “2017 pode ser um ano com muita volatilidade nos mercados obrigacionistas, tendo em conta os eventos políticos incluindo eleições em vários países europeus e tendo em conta potenciais alterações na política monetária caso a inflação suba mais rapidamente do que o previsto“, afirma a DBRS — mas a agência sublinha que “os desenvolvimentos em Portugal também podem afetar a perceção dos investidores“.

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