Cinco anos depois da publicação de Poesias Completas, a Assírio & Alvim vai publicar uma nova edição da poesia de Alexandre O’Neill. Com organização de Maria Antónia Oliveira e revisão de por Luis Manuel Gaspar, o extenso volume, Poesias Completas & Dispersos, inclui os 11 livros de poemas publicados em vida pelo poeta, entre 1951 e 1986, reunidos anteriormente em outras edições, e ainda algumas novidades.

Na prática, Poesias Completas & Dispersos trata-se da junção de dois livros publicados anteriormente. Um deles, também com o título Poesias Completas, conheceu duas edições em vida do autor — uma em 1981, com chancela da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, incluía o até então inédito As Horas Já de Números Vestidas, e a outra, em 1983, com uma nova versão de Dezanove Poemas. O outro, com o título Anos 70 — Poemas Dispersos, foi editado em 2005 pela primeira vez pela Assírio & Alvim.

A grande novidade da presente edição é, portanto, a inclusão de 42 textos dispersos, publicados em jornais, revistas, discos e catálogos de arte, como a Relâmpago ou A Phala. Do espólio do autor, foram retirados outros sete. A nova edição da Assírio & Alvim inclui ainda um posfácio assinado por Maria Antónia Oliveira, responsável pela organização do livro, intitulado “A Doença das Palavras”, no qual a especialista na obra de O’Neill fala da paixão do poeta pelos dicionários e pelas palavras, procurando descrever o estilo do poeta que dizia não ter estilo nenhum.

“Poesias Completas & Dispersos” chega às livrarias a 6 de abril. Custa 33 euros

“O meu estilo é não ter estilo”

Alexandre O’Neill nasceu a 19 de dezembro de 1924, em Lisboa, e morreu a 21 de agosto de 1986 na mesma cidade. Trabalhou como escriturário até 1952 e, a partir de 1959, como redator de publicidade. Fundou o Grupo Surrealista de Lisboa, juntamente com Mário Cesariny, António Pedro e José-Augusto França, desvinculou-se deste a partir de 1951, ano em que publicou Tempo de Fantasmas, o seu primeiro livro de poesia. Começou a escrever prosa e poesia para vários jornais a partir de 1957, tendo sido também autor de guiões para filmes e peças de teatro.

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O novo volume, com mais de 700 páginas e em capa dura, inclui todos livros de poesia publicados em vida pelo autor, entre 1951 e 1986:

  • Tempo de Fantasmas (1951),
  • No Reino da Dinamarca (1958),
  • Abandono Vigiado (1960),
  • Poemas com Endereço (1962),
  • Feira Cabisbaixa (1965),
  • De Ombro na Ombreira (1969),
  • Entre a Cortina e a Vidraça (1972),
  • A Saca de Orelhas (1979),
  • As Horas Já de Números Vestidas (981),
  • Dezanove Poemas (1983),
  • O Princípio de Utopia, o Princípio de Realidade Seguidos de Ana Brites, Balada Tão ao Gosto Popular Português & Vários Outros Poemas (1986).

O reconhecimento enquanto poeta chegou-lhe em 1958, ano em que publicou No Reino da Dinamarca. A este, seguiram-se as obras Abandono Vigiado (1960), Poemas com Endereço (1962) e muitas outras, mantendo um ritmo regular de publicação até ao ano da sua morte, 1986.

Descrevendo o seu estilo como “não ter estilo”, dizia-se “parecidíssimo” com a sua poesia. “Mesmo no dia-a-dia, no próprio trabalho. Entre a minha expressão coloquial e a minha expressão poética, não há distância. A diferença será de intensidade, ou ao que se pode chamar de intensidade”, afirmou em 1968. Ou seja: “Sabia, portanto, o que fazia e como o descrevia, e que demónios enfrentava”, escreveu Maria Antónia Oliveira no posfácio de Poesias Completas & Dispersos, acrescentando:

“Como a sombra que foge se perseguida mas se avoluma atrás de nós quando nela nos afastamos, a posteridade acabou por alcançá-lo. Aqui estamos nós, os tais ‘vindouros’, a ler-lhe a poesia, a editá-la e principalmente a citá-la. Em vida do escritor, porém, a obra de O’Neill era resistente ao cânone.”

E ele tinha consciência disso, “sendo homem do mundo e leitor muito atento”. “Só esta dupla condição aliada ao seu desamor ao óbvio lhe permitem produzir uma poesia tão discretamente culta, tão pouco ostentatória de referências”, escreveu ainda a especialista. “Contaminações e apropriações poéticas são frequentemente subterrâneas, muito escondidas a olho nu ou a uma leitura apressada. Por isso, e jogando em diferentes níveis a sua poesia se nos revela simultaneamente popular e invulgarmente erudita.” E, talvez por isso, eternamente atual e atenta.

Pelas suas Poesias Completas, recebeu em 1983 o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários. A nova edição da Assírio & Alvim chega às livrarias a 6 de abril.