O presidente executivo da EDP recusa a ideia de que os políticos avancem com iniciativas para travar os salários pagos aos gestores no setor privado. António Mexia, um dos administradores mais bem pagos em Portugal, considera que o tema da remuneração dos gestores diz respeito exclusivamente aos acionistas. “A EDP é uma empresa privada, não tem que ver com mais nada a não ser com os acionistas”, disse em entrevista à TSF/Dinheiro Vivo.

O gestor foi confrontado com a intenção do Bloco de Esquerda de limitar os salários dos administradores, reduzindo a assimetria face aos vencimentos dos trabalhadores da mesma empresa. Mexia avisa que no momento “em que se quiser controlar aquilo que é a capacidade de iniciativa privada em Portugal, e interferir nisso, só tem um destino: é a pobreza”.

A polémica sobre o salário dos gestores das empresas da bolsa, e, em particular do presidente da EDP, é recorrente e surge de cada vez que as empresas divulgam os relatórios anais com a remuneração dos administradores, que acompanham as contas anuais conhecidas no mês de março. Os presidentes da EDP, da Sonae, da Jerónimo Martins, da Galp e da Navigator (antiga Portucel) costumam estar no topo dos mais bem pagos, um lugar onde já não entram os administradores da banca.

No caso de António Mexia, como o próprio reconhece, o tema sobe de tom quando lhe é atribuído o prémio de gestão por cumprimento das metas. Em 2016, o presidente executivo da EDP teve uma remuneração equivalente a pouco mais de dois milhões de euros brutos, dos quais mais de metade correspondem a prémios de gestão, cujo pagamento é parcialmente diferido.

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Mexia ganhou 983 mil, mais 396 mil, mais 656 mil euros no ano passado

Nesta entrevista, o gestor diz que os valores mais altos acontecem quando conjuga o salário com o prémio anual (também há um prémio de fim de mandato), o que se verifica, “quando se atingem os objetivos, que poderiam estar ou não estar lá. Têm estado lá, porque a companhia tem ultrapassado os objetivos”.

Nos 11 anos em que é presidente da EDP, a administração liderada por António Mexia tem recebido praticamente sempre bónus de gestão por ter cumprido os objetivos definidos pelos acionistas. A maior acionista da EDP é a empresa chinesa China Three Gorges que controla 21,35%.

Questionado sobre se iria fazer mais um mandato à frente da EDP, António Mexia remete para os acionistas, mas admite que dificilmente aceitaria o cargo de presidente da See for All (iniciativa lançada pelas Nações Unidas e que envolve grandes empresas de energia) se não “tivesse uma previsibilidade mínima de ficar pelo menos mais três anos”. O mandato atual termina em 2018.