Falar de jogos de corridas futurísticas e não mencionar WipEout é como pensar em bolas de Berlim e não imaginar comê-las na praia. WipEout é para muitos sinónimo de velocidade, música techno, PlayStation (ainda que a primeira vez que o tenha jogado tenha sido na velhinha Sega Saturn) e o símbolo do mocho da defunta companhia Psygnosis.

A tecnologia tem coisas curiosas e uma delas é a perceção que temos dela. A imagem mental que eu criava dos originais WipEout era de um realismo tremendo, aliás, dificilmente alguém conseguiria convencer-me que aqueles gráficos da segunda metade dos anos 90 em plena era dos 32 bits não eram o mais próximo do real que algum dia eu veria. Aquilo era cinema, era como ver uma nave de corridas a sério.

Só que não era. E quando é que percebemos isso? Quando comparamos os jogos originais com a coletânea de remasters do recém-lançado WipEout Omega Collection, com o esplendor visual que a tecnologia atual oferece. E de repente os óculos da nostalgia ficam embaciados e temos de os retirar para perceber que o futuro já chegou.

As versões remasterizadas de WipEout HD, WipEout HD Fury e WipEout 2048 fazem parte desta compilação que melhorou em muito o poder gráfico da série. A jogabilidade ficou quase imaculada. A realidade é que estes jogos sempre acompanharam o topo tecnológico do tempo dos seus lançamentos (respetivamente 2008 para HD e 2012 para 2048), o que inclui este último que foi lançado apenas para uma consola portátil.

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Os diversos estúdios que tiveram a série em mãos sempre souberam que o segredo do sucesso prendia-se com a velocidade e com a forma como os controlos respondiam às curvas apertadas desferidas nas pistas de gravidade zero. A sensação de velocidade era tão grande desde os primeiros jogos que ficávamos com uma sensação de borrão com tudo o que estava à volta, levando-nos quase a acreditar que seria impossível replicar em videojogo uma maior efeito de dinamismo e de velocidade.

O outro ponto que nos embrenhava em WipEout e no seu frenetismo era a banda-sonora repleta de techno e trance, com nomes como The Chemical Brothers, Kraftwerk e Orbital a assinarem as faixas ao som dos quais corríamos, num contágio sonoro que conseguia apelar até a fãs de outros géneros musicais e que, fora do contexto de WipEout, não ouviam música eletrónica.

WipEout Omega Collection consegue empacotar tudo isto para a tecnologia dos dias de hoje, onde expressões como 60 fps e 4K parecem estar na ponta da língua da tecnologia. E se muitas vezes criticamos estas “recauchutagens” de jogos antigos, tenho de admitir que jogos e séries como WipEout têm tudo a ganhar com a atualização tecnológica para os dias de hoje, fazendo-os ganharem uma segunda vida para além daquela que já tiveram.

Para além das dezenas de veículos e pistas espalhadas ao longo dos três jogos que compõem esta coletânea, é a componente multiplayer que assume um papel de destaque. Seja localmente com o ecrã dividido, no qual podemos dar uns pequenos encontrões (reais) a quem está a competir ao nosso lado no sofá, ou em multiplayer online, à mesma velocidade e sem engasgos, fruto das excelentes ligações de internet que possuímos nos dias de hoje.

Está enganado quem imagina que WipEout Omega Collection está apenas destinado a jogadores que já conhecem a série. A pensar em conquistar novos jogadores, foram adicionados alguns elementos que permitem que qualquer pessoa se ambiente à lógica e ao mundo frenético de WipEout, como as assistências em curvas, essas malfadadas estruturas que invariavelmente fazem a nossa nave fazer ping-pong entre as paredes ou que nos projetam para fora da pista.

WipEout Omega Collection pode ser o final de uma história ou um capítulo intermédio numa nova vida para a série que já ultrapassou as duas décadas. Por um lado, o substantivo grego Ómega em nada augura à continuidade, e que tem a ajudar este argumento o despedimento e extinção do estúdio de Liverpool da Sony em 2012 que desenvolvia a série e que tinha sido criado a partir da aquisição da Psygnosis pela gigante nipónica. Por outro lado, WipEout Omega Collection pode significar que a PlayStation tem intenções de aproveitar todo o seu poderio tecnológico e a franja de mercado adepta deste tipo de jogos de corrida, e sabe que tem uma franquia forte no seu portefólio, talvez até a marca com mais poder dentro do subgénero.

Mas a resposta a esta dúvida só o futuro a dirá. O que sabemos é que para fãs de racing games anti-gravidade com pequeníssimos laivos de combate e em especial para fãs e saudosistas de WipEout, este é um jogo verdadeiramente obrigatório para ser usufruído enquanto as suas faixas eletrónicas preenchem, alto e bom som, o espaço das nossas salas.

Ricardo Correia, Rubber Chicken