Em 2008, Kamila Skolimowska e Anita Wlodarczyk fizeram a primeira prova em conjunto no Grande Prémio do Catar. Kamila ganhou, Anita ficou com o bronze. Estava ali o passado, o presente e o futuro do lançamento do martelo polaco e mundial. Mas nunca saberemos por que ordem: num estágio da equipa polaca em Vila Real de Santo António, em fevereiro do ano seguinte, Skolimowska sentiu-se mal enquanto fazia exercícios na sala de musculação, perdeu os sentidos e acabou por falecer, vítima de uma embolia pulmonar, com apenas 29 anos. Foi um choque, sobretudo para Wlodarczyk, que tinha na compatriota a principal referência na vida e na modalidade. Oito anos depois, ainda usa as suas luvas. As mesmas que garantiram mais um título.
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Kamila Skolimowska tinha um currículo de peso, contando com o ouro olímpico em Sidney, em 2000, com apenas 17 anos, como o grande momento de uma carreira onde ganhou ainda Europeus e Mundiais de Juniores e Sub-23. Quando não ganhava, andava lá perto: ficou em quarto nos Mundiais de 2001, ganhou a prata nos Europeus de 2002, ficou em quinto nos Jogos de 2004, acabou em sétimo nos Mundiais de 2005, conquistou o bronze nos Europeus de 2006, terminou em quarto nos Mundiais de 2007. Em 2008, nos Jogos de Pequim, não passou do 12.º lugar. Anita foi quarta.
Em agosto de 2009, seis meses depois da morte de Skolimowska, Anita Wlodarczyk fez aquela que descreveu como “a melhor homenagem a Kamila”: sagrou-se campeã mundial em Berlim batendo o recorde mundial (77,96). Foi a primeira de seis vezes que estabeleceu um novo máximo da disciplina. Porque, nesse ano, passou a dominar por completo o lançamento do martelo, numa era que ainda hoje de mantém.
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Aos 31 anos, entre Jogos Olímpicos, Mundiais e Campeonatos da Europa, Wlodarczyk só não ganhou três vezes entre 2009 e 2017: em 2010, quando ficou com o bronze nos Europeus atrás da alemã Betty Heidler e da russa Tatyana Lysenko; em 2011, onde falhou o pódio nos Mundiais (quinto lugar); e em 2013, onde terminou os Mundiais com a prata a 44 centímetros de Lysenko. Em tudo o resto, ganhou. Ou seja, somou dois ouros em Jogos, mais dois em Mundiais além do supracitado em 2009 e três em Europeus. Isto ao mesmo tempo que melhorava o recorde mundial: 78,30 em 2010, 79,58 em 2014, 81,08 em 2015, 82,29 em 2016 e 82,98 também em 2016, duas semanas depois dos Jogos do Rio de Janeiro.
“Nunca conseguirei esquecer aquela primeira prova que fizemos juntas em 2008. Quando entrei nos Estádios Olímpicos de Londres e do Rio de Janeiro, pedi a Skolimowska para estar comigo. Ganhei a medalha graças a ela e dedica tudo do fundo do coração a ela. Costumava dizer que iria terminar a carreira após os Jogos de Londres, em 2012, mas a vida trouxe uma volta inesperada. A presença dela está sempre comigo, nos sapatos e nas luvas que uso”, comentou numa entrevista no final do ano passado, após ter batido pela última vez o recorde mundial no Memorial Kamila Skolimowska, em Varsóvia.
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Anita Wlodarczyk venceu com 77,90 no quinto ensaio, numa prova onde estava fora das medalhas no final da terceira tentativa. A chinesa Zheng Wang (75,98) e a compatriota polaca Malwina Kopron (74,76) completaram o pódio, mas a campeão olímpica e europeia não ficou totalmente agradada com o desempenho em Londres. “Não foi a prova que queria, mas ainda assim fui campeã mundial outra vez que era o mais importante. Queria lançar acima dos 80 metros e talvez atacar o recorde mundial, mas tive alguns problemas técnicos na final. A lesão que sofri no dedo no primeiro treino em Londres foi dolorosa e tive problemas musculares durante a noite. Estou chateada comigo mesmo, mas feliz por ter conquistado o ouro”, comentou após a prova, em declarações reproduzidas pela Reuters.