Os CTT apresentaram esta terça-feira um plano de redução de custos que implica o corte de pelo menos 800 postos de trabalho a tempo inteiro, o fecho de lojas com pouca procura, a redução substancial da remuneração variável dos trabalhadores dos correios já referente a este ano. A administração também vai ver os seus salários cortados – o do presidente em 25% e da restante administração em 15% – e não terão direito a remuneração variável. Empresa ainda quer pagar dividendos este ano.

No Plano de Transformação Operacional que os Correios enviaram esta terça-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a empresa justifica as decisões com a transformação do negócio postal, em relação ao qual a empresa tem vindo a adaptar-se com uma diversificação do seu negócio “mas com atraso face ao setor”.

“A contínua substituição eletrónica está a impactar os rendimentos operacionais uma vez que os CTT estão ainda muito dependentes do Correio”, explica o plano tornado público esta terça-feira pela empresa.

Para melhorar a rentabilidade, a empresa liderada por Francisco Lacerda decidiu avançar com um reforço das poupanças que já tinha vindo a implementar, mas agora com uma redução ainda mais pronunciada do número de trabalhadores dos Correios e limitações na administração.

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Depois dos 200 trabalhadores – a tempo inteiro – que estão negociações para saírem já este ano (dos quais 140 já acertaram as condições com a empresa), os CTT preveem que saiam ainda mais 800 trabalhadores nos próximos três anos.

Os trabalhadores verão ainda a remuneração variável que teriam direito referente ao ano que está agora a acabar ser alvo de uma “forte redução” e os aumentos salariais que não sejam obrigatórios no próximo ano sujeitos a limitação.

A administração também será alvo de cortes. A remuneração fixa do presidente da empresa será cortada em 25%, a dos restantes membros da administração (sejam executivos ou não não executivos) em 15% e os membros da comissão executiva não terão direito a remuneração variável no próximo ano, como já não terão este ano.

A empresa diz ainda que pretende fechar lojas que tenham pouca procura e converter algumas lojas em postos de correio, como forma de poupar custos, poupando com isso cerca de 15 milhões de euros, mas garantindo “a manutenção dos postos de acesso, assegurando a proximidade com os cidadãos, qualidade dos serviços e as obrigações regulatórias”.

Segundo o Plano, a empresa pretende ainda redesenhar a arquitetura e a cobertura da sua rede de distribuição, ajustar a dimensão e tipologia da frota.

Mas, mesmo com estes cortes, a administração mantém que quer pagar um dividendo de 0,38 euros por ação relativamente ao exercício deste ano, que, a concretizar-se, será pago no próximo ano.

Debate sobre nacionalização “nem por sombras está encerrado”

O PCP vê no plano operacional dos CTT conhecido esta terça-feira “uma nova vaga da mesma ofensiva” que a administração da empresa já revelou no passado recente, quando tentou avançar com a rescisão de contratos com centenas de trabalhadores. Ao Observador, o deputado Bruno Dias garante que, para o PCP – que na semana passada viu chumbada, com os votos do PS, uma proposta de nacionalização dos CTT –, “esta discussão nem por sombras está encerrada”. E pede uma “resposta política dos restantes órgãos de soberania”.

Bruno Dias recorda que, há um ano, foi a própria ANACOM quem denunciou “o incumprimento e as violações do serviço público dos CTT”. O plano operacional agora divulgado é “mais uma prova” do projeto que a administração tem para a empresa.

Tudo isto, a degradação da qualidade do serviço, a destruição de postos de trabalho, a continuação da política de encerramento de serviços e o ataque brutal aos direitos dos trabalhadores” revela uma posição relativamente ao serviço público “como algo que, claramente, não é prioritário, mais parece obstáculo”, diz Bruno Dias.

Chumbado o projeto de resolução do PCP que defendia a renacionalização (também o BE e o PEV apresentaram diplomas nesse sentido), o deputado garante que o assunto “não está encerrado”. Mas “a luta” passa agora para outras mãos. “Neste momento, o mais mais importante e premente, e isto não é apenas uma consideração simbólica, é as pessoas deste país que estão preocupadas com a importância do serviço público postal, assumirem uma postura de grande solidariedade e valorização pela luta dos trabalhadores da empresa que estão a defender os seus direitos mas, desde logo, o interesse nacional e público”.

Como? Assinando o abaixo-assinado que defende a nacionalização. Ao mesmo tempo, o PCP pede, ainda que sem concretizar destinatários, uma “resposta política do Governo e dos restantes órgãos de soberania relativamente a este processo”.