Kim Jong-un, líder de um país que tem apenas um canal televisivo e uma única estação de rádio, falou ao povo através de um púlpito com sete microfones instalados. Na mensagem de início do ano, o líder da Coreia do Norte lançou uma mensagem capaz de fazer tremer as sólidas relações que os Estados Unidos e a Coreia do Sul mantêm há mais de 70 anos: em vésperas de Jogos Olímpicos na Coreia do Sul, Kim Jong-un quer abrir um canal de comunicação com Moon Jae-in, enquanto promete manter o dedo no “botão vermelho” que ameaça Donald Trump com mísseis balísticos intercontinentais.

Enquanto a Coreia do Sul apostava na diplomacia e os Estados Unidos tweetavam sobre o “botão vermelho” norte-americano, uma antiga habitante de Pyongyang revelou cartazes que a propaganda do regime norte-coreano usa para manter a população sob controlo. Agora, os cartazes estão sob a alçada da Universidade de Hong Kong e vão estar em exposição.

Conforme conta na página no site da Universidade de Stanfod, Katharina Zellweger viveu na capital da Coreia do Norte durante cinco anos quando era diretora de país pela Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação. Enquanto lá esteve, a investigadora “testemunhou modestas mudanças económicas e sociais não visíveis para a maioria dos observadores da Coreia do Norte”, afirma a universidade, mas tudo o que descobriu vai agora ser aplicado em “explorar como a intervenção humanitária pode estimular uma mudança sustentável positiva” no isolado país de Kim Jong-un.

À CNN, Katharina Zellweger explica que aproveitou aqueles cinco anos para recolher cartazes da propaganda norte-coreana. Conseguiu juntar mais de uma centena e levá-los para fora do país. Segundo ela, a maior parte dos cartazes promovem novas práticas agrícolas e falam de princípios patrióticos norte-coreanos: os cartazes anti-América ou anti-Japão são mais raros. Mas também são mais agressivos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A maior parte da propaganda do regime norte-coreano divide-se em oito temas: a adoração aos símbolos norte-coreanos, o respeito aos aliados (nomeadamente a Rússia), a crença de que os coreanos são “a mais pura das raças”, o elogio às forças militares, a devoção aos líderes, a beleza das mulheres norte-coreanas, o investimento na agricultura e o controlo social. Essas mensagens são normalmente passadas através da arte (publicando músicas de homenagem aos líderes ou filmes sobre a Guerra da Coreia) e das redes sociais: o regime de Kim Jong-un mantém um canal chamado “Uriminzok” — que significa “a nossa raça” ou “a nossa nação” — nas redes sociais e num site. Mas um dos veículos mais famosos usados na Coreia do Norte são os cartazes, como aqueles que lhe mostramos na fotogaleria.

É uma estratégia antiga e normalmente usada durante conflitos armados (como as guerras mundiais) ou em países comunistas. E tudo neles é pensado: as mensagens aparecem com o formato de slogan, sempre com letras muito garridas e cores fortes. No caso da Coreia do Norte, as cores mais usadas são o azul, o vermelho, o amarelo, o branco e o preto porque, como explica Katharina Zellweger à CNN, “o simbolismo das cores tradicionalmente coreanas é baseada em cinco elementos: madeira, fogo, terra, metal e água”. E todas elas transmitem significados: o vermelho simboliza o socialismo, a agressividade e a paixão; o azul significa paz, harmonia, devoção e integridade, por isso é muito usado em cartazes educacionais dirigidos a estudantes e a crianças; o preto representa a maldade, portanto é normalmente usado em cartazes anti-América; e o amarelo é usado em cartazes de elogio aos líderes por simbolizar a prosperidade.

Esta linguagem nunca mudou desde os anos 50: no fundo dos cartazes são postos elementos familiares ao povo, criando uma espécie de confiança no recetor da mensagem; e em grande plano aparece ilustrada a própria ideia que o regime quer transmitir. Quando o governo decide sublinhar uma determinada ideologia, torna-a pública e os artistas norte-coreanos apresentam as suas ideias a Kim Jong-un: os melhores são escolhidos, os cartazes são pintados à mão e depois colados nas ruas ou entregues às pessoas: “O que acontece é que, geralmente, o governo anuncia o assunto — por exemplo, a criação de mais coelhos — e, em seguida, vários artistas pintam cartazes. Como numa competição, um ou dois são escolhidos e então são multiplicados aos milhares”, explica Katharina Zellweger à CNN.

Veja 53 desses cartazes na fotogaleria.