Não, não é exagero dizer que em outubro já se preparam os looks das celebridades para a gala mais importante da indústria cinematográfica, sobretudo se estivermos a falar das nomeadas para o Óscar de Melhor Atriz Principal. E quando falamos de looks, falamos, em primeiro lugar, do vestido, aquela coisa que convém arranjar com antecedência. “É um trabalho que começa a ser feito quatro ou cinco meses antes”, afirma Mónica Lafayette, que, em Londres, já trabalhou com algumas das maiores equipas de styling desta área. “Na realidade, nem é preciso estares a vestir um nomeado. Basta teres um cliente que vá passar pela red carpet para 95% das marcas quererem trabalhar contigo”, continua a stylist.

As marcas e os designers são os primeiros a mostrarem-se disponíveis e das três uma: a convidada pode usar uma peça de pronto-a-vestir, naturalmente de uma estação que ainda não tenha chegado às lojas, poderá vestir um modelo de um desfile de alta-costura, podendo a peça sofrer alterações para se adaptar ao corpo de quem a vai usar, ou, se for de facto uma figura de peso do cinema, ter um vestido feito de raiz, respondendo a um breafing discutido com a equipa de styling e com a própria atriz. E os Óscares são o culminar de uma temporada, por isso, também convém pensar na coerência entre os vários looks usados nas passadeiras vermelhas anteriores.

Gwyneth Paltrow e o vestido branco com capa Tom Ford, nos Óscares de 2012 © Ethan Miller/Getty Images

Mas e quais são as opções? Parece que, para uma única estrela de Hollywood, o primeiro levantamento nunca fica abaixo de 35 vestidos e só para uma gala. É essencial assegurar que, uma vez sinalizado para aquela convidada, mais ninguém leva aquele vestido. Se for feito à medida ou uma peça de alta-costura, é fácil dormir descansado, mas com o pronto-a-vestir a coisa já não é assim tão fácil. Bem basta quando os vestidos são de designers diferentes e, ainda assim, perigosamente parecidos. Lembra-se dos vestidos quase iguais de Tina Fey e Reese Witherspoon em 2016? Ao menos em 2013, Anne Hathaway conseguiu resolver tudo a tempo. Na altura, a atriz estava unha com carne com Valentino (que, inclusive, lhe desenhou o vestido de noiva), mas a minutos de sair para a red carpet, percebeu que o Alexander McQueen de Amanda Seyfried era demasiado idêntico ao seu. Conclusão? Houve uma troca de última hora e Hathaway acabou por receber o Óscar de Melhor Atriz Secundária com um Prada cor-de-rosa (bem lindo, por sinal).

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Eis a importância de ter um plano b e um plano c, não vá o diabo tecê-las e uma das peças não ser entregue a tempo ou haver já um vestido demasiado parecido. Além disso, é preciso garantir um outfit à altura também para a after party, tal como relembra Mónica Lafayette. Ainda assim, há exceções, como a que Elizabeth Saltzman contou ao Telegraph, no ano passado. Em 2012, a atual stylist de Saoirse Ronan marcou a passadeira vermelha dos Óscares com aquela que terá sido uma das suas mais brilhantes cartadas: o vestido branco Tom Ford de Gwyneth Paltrow. “Sabendo o quão arriscado era — o vestido não tinha lantejoulas nem uma saia rodada, tinha uma capa –, tomei nota das piores críticas que poderiam surgir. Não tinha um vestido de back-up, não havia outra silhueta. Mas tem sido relembrado todos os anos desde então. Em todos os Óscares, ligo a televisão no E!, enquanto ajudamos toda a gente a arranjar-se, e esse vestido aparece sempre”, afirmou.

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Para um stylist, o processo de escolha dos vestidos equivale a umas quantas piscinas olímpicas. Depois de estabelecer o contacto com as marcas, é preciso apresentar opções à atriz e aos respetivos agentes. Preparar um moodboard e fazer a ponte com sapatos, joias, cabelo e maquilhagem. A roupa é importante, mas o look final depende de todos estes elementos. “Um vestido pode ser lindo na fotografia do desfile, mas e ao vivo? E na red carpet? É esvoaçante? Tem movimento?”, relembra Mónica Lafayette.

“Uma atriz pode estar ligada a uma casa em particular e aí é mais simples, não nos dispersamos tanto”, afirma a stylist. Existem dois tipos de relações entre estrelas e designers, as pessoais e as contratuais. Falemos do segundo caso e do primeiro exemplo que nos vem à cabeça: Jennifer Lawrence e Christian Dior, uma parceria de três anos e 15 milhões de dólares (cerca de 12 200 000 euros). Quão ingénuo seria pensar que o contrato apenas incluía as campanhas da prestigiada maison francesa. O mesmo acontece com Emma Stone, que em outubro do ano passado se tornou oficialmente no rosto da Louis Vuitton, um contrato algures entre os 6 e os 10 milhões de dólares.

Em 2006, Charlize Theron usou um vestido Christian Dior e joias Chopard © Frazer Harrison/Getty Images

Mas as obrigações comerciais não dispensam o trabalho do stylist. No caso de uma peça feita de raiz, Mónica fala num primeiro protótipo em pano-cru, essencial para cliente e designer perceberem se o trabalho está no bom caminho ou se é melhor abortar missão e seguir por outra via. O ideal é apanhar um avião até Paris, mas Mónica acrescenta um detalhe importante: as grandes casas de moda têm equipas de atelier em Nova Iorque ou em Los Angeles e assim, a logística fica ligeiramente mais simples.

No ano passado, os ânimos exaltaram-se entre Meryl Streep e Karl Lagerfeld, nas vésperas dos Óscares. O diretor criativo da Chanel preparava um vestido de alta-costura, avaliado em 100 000€, quando a atriz lhe fez chegar a mensagem: “Não continue o vestido. Encontrámos alguém que nos vai paga”. Lagerfeld não gostou, enxovalhou Streep na praça pública e ela, por sua vez, exigiu direito de resposta, dizendo que tudo tinha sido um mal entendido e que ia contra os seus princípios receber dinheiro para usar o que fosse. Se recebe ou não, é lá com ela, mas o negócio é mais comum do que pensamos. Há marcas que, além de oferecerem as peças (dificilmente uma marca irá pedir um vestido de volta, depois de uma atriz o levar aos Óscares, a menos que seja uma peça de arquivo), pagam às estrelas para as usarem e os montantes podem chegar aos 250 000 dólares.  E isto acontece com os vestidos, mas também com as joias. Só por usar peças Chopard na red carpet dos Óscares, em 2006, Charlize Theron terá recebido 200 000 dólares.

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Mas as joias têm muito mais que se lhe diga. No grande dia, quando a preparação do look pode ir de três a 12 horas, são elas as últimas a chegar. Lafayette fala em réplicas cedidas pelas marcas para acompanhar as últimas provas. As verdadeiras chegam em cima da hora, com seguranças e, muitas vezes, com um representante da marca, ele próprio encarregado de colocar as peças na convidada. Por norma, é em suites de hotéis nas imediações do evento que tudo acontece. Facilmente, se juntam 20 pessoas no mesmo quarto, entre stylist e assistentes, cabelos, maquilhagem, unhas, especialistas em bronzeado, agentes da artista e, eventualmente, membros da marca do vestido, sempre a postos pois pode ser necessário ultimar um ou outro pormenor ou dar um pontinho aqui e ali. Roupa interior? Há muitas opções. Há quem a costure diretamente por dentro do vestido e há quem recorra a licras ninja, sem costuras e em tons que se confundem com a própria pele.

O transporte é outro ponto alto (ou não). Há vestidos que exigem que a vedeta vá sempre de pé e o que não faltam são carrinhas à altura. De volta ao vestido branco de Gwyneth, Saltzman confessou à Vogue Austrália como é que a atriz chegou aos Óscares: inclinada para trás, com a capa esticada e duas pessoas a agarrá-la. Tudo para brilhar na famosa passadeira vermelha, onde claro, convém ter um kit de costura básico. Nunca se sabe o que um movimento mais brusco pode causar.