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Silas já pode sorrir: o "seu" futebol ganhou (a crónica do Belenenses-FC Porto)

Este artigo tem mais de 5 anos

Na sequência de uma denúncia anónima por suspeitas de corrupção em torno do Belenenses-FC Porto, Silas teve um monólogo para todos ouvirem no sábado e ganhou para todos verem na segunda-feira (2-0).

Silas festeja o segundo golo do Belenenses com Maurides, avançado que tinha lançado poucos minutos antes em jogo
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Silas festeja o segundo golo do Belenenses com Maurides, avançado que tinha lançado poucos minutos antes em jogo

LUSA

Silas festeja o segundo golo do Belenenses com Maurides, avançado que tinha lançado poucos minutos antes em jogo

LUSA

Belenenses e FC Porto fecharam esta noite a 28.ª jornada da Primeira Liga e, de forma surpreendente, os azuis do Restelo conseguiram vencer os dragões por 2-0. Com isso, o Benfica, que tinha ganho no sábado ao V. Guimarães, subiu à liderança do Campeonato, com mais um ponto do que os azuis e brancos. Mas este foi sobretudo o triunfo do futebol, daquele futebol puro que se joga apenas dentro das quatro linhas com três resultados possíveis, sobre tudo o que de mau gravita em torno desta indústria. E com uma espécie de herói desconhecido: Silas.

FC Porto perde com o Belenenses no Restelo por 2-0 e Benfica é líder isolado da Liga

Vamos recuar um pouco filme, mais ou menos duas décadas, para contextualizarmos tudo isto: depois de ter passado pelo Domingos Sávio e pelo Sporting, o então médio ofensivo acabou a formação no Atlético e foi no conjunto de Alcântara que fez as primeiras temporadas como sénior. E agora, um inside que ninguém se recorda: sabe como era conhecido Jorge Manuel Rebelo Fernandes (nome do Cartão de Cidadão do antigo ’10’)? Pelas ‘cuecas’ (bola por baixo das pernas do adversário) que conseguia dar no futebol de rua, quando de vez em quando jogava com os amigos e tinha aquela ginga de artista da bola que faz maravilhas em espaços mais pequenos do que cabines telefónicas. Passou depois por Espanha (Ceuta e Elche), jogou na U. Leiria, esteve um ano em Inglaterra (ao serviço do Wolverhampton), voltou ao Marítimo, assinou pelo Belenenses, andou pelo Chipre (AEL Limassol, AEP e Ethnikos Achnas), rumou ao Atlético, teve a última experiência no estrangeiro pelos indianos do NorthEast United e acabou no Cova da Piedade. Sofreu e viveu um pouco de tudo, sempre com aquela paixão pelo futebol.

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Esta temporada, teve a primeira possibilidade de orientar uma equipa da Primeira Liga e começou logo com um empate com o Marítimo e outro na receção ao Benfica. Em nove jogos, somava duas vitórias, quatro igualdades e três derrotas, destacando-se sobretudo pela forma como conseguiu dar consistência à organização defensiva dos azuis, que se tornaram a equipa menos batida logo depois dos quatro primeiros classificados. Por isso, e na antecâmara deste clássico, Silas explodiu porque lhe beliscaram aquilo que mais gosta: o futebol, puro como o que jogava no bairro da Bela Flor, em Campolide, ou nos campos pelados, já como federado.

Em resumo, na quinta-feira passada terá dado entrado uma denúncia anónima no Ministério Público por alegadas suspeitas de corrupção no Belenenses-FC Porto, com uma suposta confissão entretanto desmentida pelo agente Luís Alves (que avançou com uma queixa-crime contra desconhecidos) sobre um alegado encontro com Luís Gonçalves e Joaquim Pinheiro, dirigentes dos azuis e brancos, no sentido de contactar dois ou três jogadores do Restelo para facilitarem. Denúncias anónimas depois dos jogos já tinham existido; denúncias anónimas antes dos jogos, foi a primeira (que se saiba). E Silas teve um longo monólogo a reagir a tudo isso na conferência de imprensa de antevisão do passado sábado, que aqui deixamos na íntegra.

Há que ter respeito pelos profissionais. Jogámos contra o Benfica e veio um senhor qualquer falar de antigos negócios que o Benfica teve com o Belenenses, que condicionaram o jogo. Empatámos com o Benfica, que era um resultado bom para nós e até para quem levantou a suspeição, meteram a viola no saco. Agora jogamos com o FC Porto, vem a história de denúncias anónimas que não fazem sentido nenhum. Todos jogaram contra o FC Porto, incluindo as equipas nos primeiros quatro lugares, e ninguém esteve perto sequer de ganhar, mas se não ganharmos ao FC Porto somos suspeitos de corrupção. Não cabe na cabeça de ninguém! Não faz sentido falar de jogadores como o Tiago Silva, que foi expulso contra o Benfica, para dizer que foi de propósito. Não faz sentido falar do Vagner, que fez um passe errado no jogo com o FC Porto, e dizer que fez de propósito. São jogadores que dedicam toda a vida ao futebol e depois colocam em causa a sua honra. É preciso respeito pelos profissionais! Isto é brincar ao futebol. Estes jogadores não caíram no futebol de paraquedas, trabalharam a vida inteira para estar aqui. É preciso mais respeito! Quando eu jogava, cada oportunidade destas era uma linda para um jogador poder mostrar-se. Agora não, os jogadores têm medo de errar porque são acusados de corrupção. É importante respeitarem os jogadores que fazem tudo por este desporto. Vivemos disto e temos de ser todos nós a defender um pouco o futebol. Isto assim não é nada”, disse.

Das palavras para os atos, da teoria para a prática, o David Belenenses venceu o Golias FC Porto por dois grandes fatores entre mérito próprio e demérito adversário: teve uma organização coletiva melhor do que os dragões e, em paralelo, muito maior eficácia na área. E é isso que deve ser denunciado, porque o futebol é assim mesmo.

Ficha de jogo

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Belenenses-FC Porto, 2-0

28.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Restelo, em Lisboa

Árbitro: Hugo Miguel (AF Lisboa)

Belenenses: André Moreira; Gonçalo Silva, Sasso, Persson; Diogo Viana, Yebda, Bakic (Nuno Tomás, 73′), Fredy (André Geraldes, 84′), Florent; Nathan (Maurides, 66′) e Licá

Suplentes não utilizados:Muriel, Pereirinha, Benny e Yazalde

Treinador: Silas

FC Porto: Casillas; Maxi Pereira (Paulinho, 56′), Felipe, Osório (Danilo Pereira, 72′), Alex Telles; Herrera, Sérgio Oliveira; Ricardo Pereira, Brahimi, Soares e Aboubakar (Gonçalo Paciência, 56′)

Suplentes não utilizados: Vaná, Diego Reyes, Diogo Dalot e Óliver Torres

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Nathan (10′) e Maurides (70′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Felipe (45+1′), Ricardo Pereira (58′), André Moreira (74′) e Brahimi (90+5′)

As equipas iniciais apresentaram surpresas, mais do que previsto. E são essas mexidas que permitem fazer o resumo do que se passou na primeira parte de um encontro que começou com dez (!) minutos de atraso que nem a habitual (e louvável) homenagem dos dragões junto da estátua de Pepe no Restelo consegue justificar. De forma resumida, foi mais ou menos isto: Silas fez alterações estruturais na equipa, com três centrais assumidos e duas unidades com boa caixa de velocidade a fazer os corredores (Diogo Viana e Florent), e acertou em cheio; Sérgio Conceição promoveu mudanças conjunturais, com a estreia absoluta de Osorio ao lado de Felipe (Marcano estava castigado, Reyes teve queixas físicas durante a semana) e o regresso de Alex Telles à lateral esquerda, e falhou.

Logo no segundo minuto, Felipe deixou o primeiro aviso de cabeça, pelo ar, onde é tudo dele. Na sequência de bola parada batida por Alex Telles, pois claro (o lateral voltou e fez oito passes para finalização, um recorde na jornada). Mas o problema seria mesmo cá atrás e não lá à frente: após um passe mais longo de cabeça a explorar a profundidade, o desastrado Osorio (que quando saiu tapou a cara e colocou as mãos na cabeça, ciente da estreia azarada pelos portistas) chocou com o central brasileiro, permitiu que Nathan se isolasse e o Belenenses adiantou-se logo aos dez minutos, pelo menos jovem jogador emprestado pelo Chelsea que já tinha marcado no empate com o Benfica (e logo nos primeiros minutos no Campeonato Nacional).

Depois, o FC Porto tentou. Tentou por Brahimi de fora da área, ao lado. Tentou por Ricardo, de cabeça na área, ao lado. Tentou por Soares, de pé direito na área, por cima. Tentou por Alex Telles, de fora da área, por cima. Mesmo sem jogar por aí além e com grandes dificuldades em superar o mega povoado corredor central onde os laranjas se perdiam entre tantos azuis, tentou mas nunca conseguiu chegar ao golo que mudaria o jogo. E chegou o intervalo.

O Belenenses conseguiu sempre equilibrar o acantonamento de duas linhas muito juntas nas imediações da sua área com a possibilidade de sair em transições rápidas, sendo que, quando Fredy conseguia agarrar no jogo de frente, a chegada ao último terço era relativamente fácil (o pior era construir situações de golo, por falta de apoio, naquele que foi o capítulo onde os azuis do Restelo podiam ter feito mais). Sérgio Conceição arriscou e quis partir o jogo em busca do empate, lançando Gonçalo Paciência e Paulinho.

Durante cinco minutos, as câmaras que transmitiam o jogo nem se mexeram de um só plano: aquele que focava a área do Belenenses. Porque primeiro foi Ricardo, num remate cruzado acrobático, a obrigar André Moreira a defesa apertada para canto. Porque, logo a seguir, foi Felipe a subir mais alto num canto e a obrigar André Moreira e uma defesa muito difícil para canto. Porque, no seguimento dessa mesma jogada, Gonçalo Paciência cabeceou à queima roupa à entrada da área e obrigou André Moreira a uma defesa por instinto. André Moreira, aquele que fez exames médicos na Luz, rumou ao Sp. Braga mas teve de reforçar o Belenenses para jogar, tornou-se herói.

Pelo menos, o primeiro, a par de Diogo Viana ou Florent (que fizeram exibições monstruosas, cada um no seu flanco). O próximo chegaria do banco e decidiria o jogo na segunda vez em que tocou na bola: na sequência de um livre lateral, Maurides, irmão do ex-central e capitão portista Maicon, subiu mais alto na zona entre Felipe e Osorio e ampliou a vantagem dos azuis. Do lado do FC Porto, começou a entrar-se na espiral de mais coração e menos cabeça. Os minutos passaram e a segunda derrota seguida como visitante confirmou-se, alterando por completo o contexto com que se jogarão as últimas seis jornadas e o clássico daqui a duas semanas.

No meio de tantas incidências, houve um grande vencedor chamado Silas, o treinador que se fez ouvir para que o futebol e os jogadores voltem a ser respeitados como naqueles tempos em que era Jorge Manuel Rebelo Fernandes. Silas já pode sorrir: o “seu” futebol, aquele jogo puro, ganhou. Mas nem por isso deixou de impressionar quando admitiu, na conferência de imprensa após o encontro, que esperava mais da exibição da sua equipa.

“A estratégia que eu tinha preparado não surtiu efeito. Ao contrário da pergunta, a nossa tática não era só defender, era atacar e ter mais bola. E podíamos ter tido mais com bola, mesmo sendo contra o FC Porto. Durante os treinos preparámos muito a parte ofensiva, podíamos ter jogado melhor com bola. Alguns jogadores não estiveram tão bem nesse aspeto, mas eu também fui jogador e isso sucede. O FC Porto também condicionou. Estou muito contente com o resultado, mas não estou contente com a exibição. Devia ter sido melhor, sobretudo com bola. Quando for ver o jogo talvez mude de opinião, mas creio que o FC Porto criou várias oportunidades de bola parada, não de jogo corrido”, comentou.

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