Os espanhóis do Abanca não revelam quanto aceitaram pagar pela operação de retalho do Deutsche Bank em Portugal — essa informação só estará disponível quando o Deutsche Bank a divulgar, já que os compradores estão contratualmente impedidos de a tornar pública. Mas o banco galego não esconde o desejo de continuar a crescer num país cuja economia vive um “momento fantástico”, com o crescimento da economia e a descida da taxa de desemprego a criar “grandes oportunidades”.

Num encontro com jornalistas em Lisboa, esta quinta-feira, os responsáveis máximos do banco com sede na Corunha adiantaram que, depois da assinatura, a operação está a seguir o processo normal de aprovação por parte dos reguladores, que deverá ser concluída dentro de quatro a seis meses. Mas a integração completa da operação do Deutsche Bank só estará concluída no primeiro semestre de 2019.

Juan Carlos Escotet, multimilionário venezuelano que também lidera o Banesco, no seu país de origem, explicou que, uma vez concluída a aquisição, o enfoque será em expandir a área de banca privada (como já era na unidade adquirida) e banca comercial, essencialmente na forma de crédito às empresas. Os seguros são, também, uma área em que o Abanca quer participar.

“Há espaço para competir” em Portugal, garantiu Escotet, sublinhando que a aquisição agora anunciada é “perfeitamente complementar” às operações e estratégia que o Abanca já tinha. Juan Carlos Escotet, venezuelano, procurou esclarecer que apesar de liderar os grupos de acionistas controladores tanto no Banesco como do Abanca, estas são duas operações distintas e separadas.

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Deutsche Bank vende operação em Portugal a espanhóis do Abanca

Deutsche Bank continua em Portugal

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Mesmo com esta venda, o Deutsche Bank vai manter uma presença em Portugal, através da sucursal Deutsche Bank Portugal, com atividade na banca corporativa e de investimento, prestando serviços bancários às empresas nacionais e estrangeiras, instituições financeiras, ao Estado e outras entidades públicas.

Com esta aquisição, o Abanca (que já tinha quatro sucursais em Portugal) passa a ter 45 unidades, maioritariamente balcões. Aos 45 colaboradores que o banco já tinha em Portugal já se tinham juntado os 13 colaboradores do Popular Servicios Financieros (unidade que pertencia ao banco que entrou em resolução) e, agora, somam-se os 330 colaboradores do Deutsche Bank PCC Portugal. A intenção do banco, garantem os responsáveis, passa pela manutenção de todos esses trabalhadores — e a estratégia de ter uma rede de promotores externos (do Deutsche Bank) deverá manter-se, explicou o country manager de Portugal, Pedro Pimenta.

A retoma “fantástica” na economia portuguesa “nos últimos quatro anos”, com o desemprego a cair para cerca de metade do que era (e metade do que ainda hoje é em Espanha), levou os responsáveis do banco a considerar que esta era uma “oportunidade interessante”.

Questionado pelo Observador sobre há quanto tempo estava a preparar a expansão no mercado português, Juan Carlos Escotet comentou que “esta foi a primeira oportunidade que apareceu, que nos pareceu muito clara”. O Deutsche Bank era um “banco organizado, com balanço limpo”, pelo que os espanhóis do Abanca viram uma oportunidade na vontade que o banco alemão há muito demonstrou de “emagrecer” a estrutura e focar-se nos mercados principais. “Esta operação significa mais para nós do que o Deutsche Bank Portugal algum dia significou para o Deutsche Bank”, dada a proporção das duas instituições, afirmou Juan Carlos Escotet.

A estratégia que temos seguido nos mercados onde estamos é, em primeiro lugar, apostar no crescimento orgânico mas, uma vez estabelecidos, estamos sempre atentos a oportunidades de crescimento inorgânico”, afirmou Juan Carlos Escotet, notando que o Abanca “vem para crescer”.

Sobre se o grupo poderá estar atento ao Novo Banco caso, no futuro, o fundo Lone Star queira vender o controlo da instituição, os responsáveis do Abanca preferiram não comentar, sublinhando que nesta fase o enfoque está na integração dos 41 balcões e 330 funcionários que compraram aos alemães do Deutsche Bank. Juan Carlos Escotet comentou, contudo, que foi um dos bancos convidados a fazer uma oferta pelo Novo Banco, numa das fases de venda que o Banco de Portugal fez da instituição que resultou da falência do Banco Espírito Santo.

Fora do mercado português, o Abanca confirmou que é uma das muitas entidades que estão a estudar a possibilidade de comprar a operação da Caixa Geral de Depósitos em Espanha (o Banco Caixa Geral), que está no mercado desde dezembro. O banco público vai vender esta operação, apesar de manter presença no país vizinho mas apenas como sucursal.