Através de uma carta e sem um retrato final de três encapuzados, como ficaram conhecidos durante décadas, os membros da ETA anunciaram esta quarta-feira a sua dissolução oficial.

O grupo Euskadi Ta Askatasuna, conhecido pela sigla ETA, foi criado em 1959 e protagonizou durante anos a luta armada pela independência do País Basco, tendo os seus ataques matado mais de 800 pessoas desde que o grupo evoluiu para uma organização paramilitar em 1968. É considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia, e, desde que anunciou um cessar-fogo em 2010, tem caminhado para a dissolução — agora tornada oficial.

Numa carta enviada a várias instituições e agentes políticos, o grupo anunciou o seu “ciclo histórico” chegou ao fim e garantiu que dissolveu “completamente todas as suas estruturas”. Em 2017, a ETA tinha anunciado o seu desarmamento. Agora anuncia o fim da sua organização em todas as vertentes: “A ETA dissolveu completamente todas as suas estruturas e dá por terminada a sua iniciativa política”, pode ler-se na carta, a que a agência de notícias EFE teve acesso.

Fontes próximas do processo tinham garantido à agência que a dissolução seria anunciada a cinco de maio, numa cerimónia em Bayona, no País Basco francês. Agora, após ser conhecido o conteúdo da carta, a Agência France Press cita “um alto funcionário do governo basco” que garante que o anúncio definitivo será feito esta quinta-feira, através de um vídeo divulgado pela BBC.

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ETA pede desculpa, vítimas não aceitam

Na missiva, os etarras mencionam o “sofrimento” sentido por “todas as partes” e assumem “o sofrimento provocado como consequência da sua luta”. A 20 de abril, noutra carta, a ETA já tinha ido mais longe ao pedir perdão aos familiares das suas vítimas — mas não a todas, apenas às que foram atingidas indiretamente pelos seus atos. “Estas palavras não vão resolver o que aconteceu, nem mitigar tanta dor. Dizemos isto com respeito, sem querer causar nenhuma nova aflição”, escreveram à altura.

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Agora, como há duas semanas, os familiares das vítimas reagiram com desagrado. Consuelo Ordóñez, irmã do político do PP assassinado pela ETA em 1995 Gregorio Ordóñez, disse esta quarta-feira que este “não é o final que as vítimas mereciam”. A declaração foi feita na apresentação do manifesto “ETA quer pôr o contador a zeros”, um documento que condena “a história de terror” do grupo e pede que sejam apuradas responsabilidades nos crimes por resolver que dizem ter sido levados a cabo pela organização independentista. O documento conta com mais de 40 mil assinaturas.

Em reação à carta dos etarras, o ministro do Interior espanhol, Juan Ignacio Zoido, garantiu que as forças de segurança “continuarão a perseguir os terroristas onde quer que se encontrem”. “O Governo mantém a mesma posição que sempre teve”, disse, citado pelo El Mundo. “Os membros da ETA não obtiveram nada por deixar de matar e nada vão obter por fazer uma declaração a que chamam de dissolução”, afirmou. Mais de 300 etarras estão atualmente a cumprir penas de prisão, incluindo antigos dirigentes como Francisco Mujika Garmendia, José Luis Santacristina e José María Arregi Erostarbe, conhecidos como “a cúpula”.

Depois de anunciar o cessar-fogo e o desarmamento, a ETA anuncia agora a sua dissolução formal, mas sublinha que “o conflito” que o País Basco mantém com Espanha e França não acabou. “O conflito não começou com a ETA nem termina com o final da ETA”, escreve a organização, que admite a existência de “feridas profundas” que necessitam “da cura adequada”. Para isso, “com toda a humildade”, o grupo arrisca dar “uma última opinião”: “A solução do conflito e a construção de Euskal Herria [nome basco para o País Basco] precisa de todos vós, porque o futuro é responsabilidade de todos.”