O deputado socialista Sérgio Sousa Pinto afirmou, em entrevista ao Público e à Renascença, que “é difícil ao PS chegar a uma maioria absoluta” e lembra que o partido “sempre teve condições para governar” em governos minoritários “porque sempre reconheceu o princípio de que o partido que tem mais votos é o que tem direito a governar“. Sérgio Sousa Pinto — que saiu da direção do PS em rutura por não concordar com a formação de um Governo com o apoio da esquerda — sugere assim que o PS só não tem condições de governação garantidas em 2019 porque rompeu com a tradição política em Portugal em 2015.

Sobre o caso Sócrates, Sérgio Sousa Pinto diz que o Estado de direito não lhe atribui “a responsabilidade nem de julgar, nem de condenar ninguém“, mas constata que em Portugal “o entusiasmo pelo funcionamento do Estado de direito continua a ser mais pequeno do que o entusiasmo pelos apedrejamentos e pelos autos-de-fé“. E, naquilo que é uma crítica aos socialistas que se demarcaram de Sócrates — César, Costa, Galamba, entre outros — Sérgio Sousa Pinto atira: “Em 500 anos continuamos a apreciar uma boa fogueira no Rossio, com as pessoas em labaredas, e pouca gente preza verdadeiramente o que é mais importante. E o mais importante é que o Estado de direito português dá sinais de maturidade, aparentemente oferece razões para que nele confiemos.”

Sérgio Sousa Pinto expôs ainda a fragilidade do acordo à esquerda, dizendo que Rui Rio chegou apertou a mão a António Costa que apareceu “ladeado de figuras da chamada ala esquerda do PS, que tanto batem palmas a um acordo com a esquerda, como batem palmas a acordos com a direita.” O socialista destaca que bastou este momento e a “coreografia do frentismo começou a rachar por todo o lado”. É, por isso, que acredita que após as legislativas  “as circunstâncias que vamos viver são inteiramente novas e em larga medida imprevisíveis”.

Questionado sobre se moção de Pedro Nuno Santos — um dos rostos da chamada “ala esquerda” — é um posicionamento para o futuro, Sérgio Sousa Pinto concorda que o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares quer marcar terreno “e abanar dizendo: ‘não se esqueçam de mim, estou aqui na cadeia de montagem‘.”

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A nível de ideologia, Sérgio Sousa Pinto avisa que é preciso dizer aos portugueses que “não há nada fora do socialismo democrático e das sociedades de tipo ocidental. Só há um dilema: ou trair, como fez o Syriza e se converteu num partido do socialismo democrático, ou “venezuelizar” o país e a economia. Não há mais nada, tudo o resto são aldrabices, são fantasias, são ilusões.

O socialista diz que muitas vezes reflete sobre quem será a direita do PS e pensa que pode ser ele próprio por ser crítico da solução à esquerda, mas admite que possa ser o próprio primeiro-ministro: “Também já pus a hipótese de ser o dr. António Costa a direita do partido. Isso é tudo uma grande questão lá dentro do Governo que eu não estou em condições de poder…”

Sérgio Sousa Pinto, que preside à Comissão de Negócios Estrangeiros, criticou ainda o facto do Parlamento português ter elogiado a continuidade da União Europeia no acordo com o Irão ao invés de criticar os EUA e a Administração Trump. O socialista criticou ainda o facto de Marcelo e Costa terem demonstrado estar felizes com a decisão da justiça portuguesa enviar o processo do vice-presidente angolano Manuel Vicente para Angola. “Os tribunais decidiram, não compete ao poder político português andar a celebrar uma decisão do poder judicial”, critica Sousa Pinto.