No dia 31 de março de 1990, Dionísio Castro correu em La Flèche, França. A organização contratou-o para ser ‘lebre’ na prova dos 20 mil metros. Uma ‘lebre’ é um atleta contratado pela organização de uma prova para marcar o ritmo da corrida até um determinado ponto, ajudando desse modo os outros atletas a conseguir melhorar as suas marcas e tentar bater um recorde. E foi com este estatuto que Dionísio se apresentou na corrida em terras gaulesas.

Optei por fazer 10 quilómetros. Depois pediram-me a ver se eu conseguia ir até aos 15 e eu disse que sim. Só que depois vi que tinha forças e que estava muito bem disposto — posso dizer que ia mesmo a brincar com aquilo — optei por ganhar a corrida e acabei por bater o recorde do mundo”, disse numa entrevista ao Domingo Desportivo.

O atleta completou a prova em 57 minutos e 18 segundos, batendo o anterior recorde, do holandês Jos Hermans por uma margem de seis segundos. Em 1991, o recorde do português caiu, tendo sido batido pelo mexicano Arturo Barrios.

Tem 54 anos, nasceu em Fermentões, uma freguesia no concelho de Guimarães, no dia 22 de novembro de 1963. Tem um irmão gémeo, Domingos, com o qual formou a famosa dupla dos Gémeos Castro. Dionísio começou a praticar atletismo no Lameirinho, em 1982. Dois anos mais tarde, em 1983, foi para o Grundig. Os bons resultados convenceram o professor Moniz Pereira — o ‘Senhor Atletismo’ — a levá-lo para o Sporting em 1985. O irmão já lá estava há um ano, depois de ter saltado diretamente do Lameirinho para o clube de Alvalade.

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Quando Moniz Pereira morreu, em 2016, Dionísio disse que devia ao professor tudo aquilo que tinha alcançado: “Tudo aquilo que eu sou como homem e tudo aquilo que eu tenho devo ao professor Mário Moniz Pereira, foi um pai para nós. Lembro-me de quando chovia muito e nós dizíamos uns para os outros: ‘Hoje ainda bem que não vamos treinar, está muita chuva.’ E quando entrávamos no estádio do Sporting estávamos na expectativa de que o professor Moniz Pereira estivesse em casa e lá estava ele com um capote à nossa espera no meio do campo.”

Ajudou o Sporting a conquistar seis Campeonatos Nacionais de Corta Mato, um Campeonato Nacional de Estrada e sete Taças dos Clubes Campeões Europeus de Corta-Mato, tendo mesmo sido o vencedor da prova por uma vez. Participou duas vezes em Jogos Olímpicos, mas as coisas nunca correram bem. Nos jogos de Seoul, em 1988, desistiu na prova dos 10 mil metros e, quatro anos depois, em Barcelona, o destino foi o mesmo na maratona. “Se for à maratona em Barcelona ou quero fazer um grande brilharete, ou então penso em não ir, quero ir aos 10 mil metros”, dizia Dionísio Castro na entrevista ao Domingo Desportivo que se seguiu ao recorde em La Flèche.

Foi precisamente no ano do recorde (1990), que Dionísio conseguiu a sua melhor classificação de sempre em grandes competições ao serviço de Portugal. Nos europeus de Split, na Croácia, ficou em quarto lugar na prova dos 5000 metros. Até começou a última volta em primeiro e só caiu para quarto a 200 metros do final, quando foi ultrapassado pelo polaco Slawomir Majusiak. Ainda acusou o vencedor da prova, o italiano Salvatore Antibo, de o ter empurrado para fora da pista antes de perder o último lugar do pódio, mas o protesto da Federação Portuguesa de Atletismo não foi aceite.

Em 1998 abandonou o Sporting e foi para os brasileiros do Pão de Açúcar. Um ano depois, abandonou a carreira na sequência de uma lesão. Mais tarde criou com o irmão a equipa Gémeos Castro, que ganhou o Campeonato Nacional de Corta-Mato em 2003. As parcerias com o irmão não se ficaram por aqui e os dois fundaram a empresa “Castro Brothers”, que se dedica a eventos desportivos e à representação de desportistas. Entre outros atletas, Dionísio foi agente do futebolista Maurício, que passou pelo Sporting entre 2013 e 2014.

Atualmente vive em Luanda e esta sexta-feira anunciou que será candidato à presidência do Sporting no caso de o clube avançar para eleições depois da Assembleia-Geral Extraordinária para a destituição no dia 23 de junho marcada esta quinta-feira por Jaime Marta Soares. “Se houver eleições, e espero que haja, vou ser um forte candidato. Já me comecei a movimentar em Lisboa para que seja uma candidatura séria e para todos os sportinguistas”, disse em declarações à Bola TV.

Mais tarde, à SportTV, disse que pretende unir de novo os sportinguistas: “Tenho estado muito atento a estas últimas notícias e ontem, depois de ouvir o presidente do Sporting numa conferência de imprensa, fiquei triste porque achava que Bruno de Carvalho ia demitir-se. Não o fez e algo está a passar-se, há algo que os prende ao Sporting. Sou um candidato para que possamos unir todos os sportinguistas e patrocinadores, infelizmente já perdemos alguns e estamos em vias de perder também jogadores.”