Há um novo nome na corrida para o cargo de ministro das Finanças italiano: Luigi Zingales, um economista e professor universitário que defende a manutenção de Itália na zona Euro. A informação é avançada pelo jornal La Stampa. Isto que significa que o eurocético Paolo Savona, proposto pelos nacionalistas da Liga, pode ter ficado pelo caminho — algo que, a confirmar-se, será uma notícia bem recebida pelos mercados financeiros, já que Savona já por várias vezes defendeu que a Itália tem de preparar uma alternativa de saída da zona euro.

Para a provável saída de cena de Savona terá contribuído a influência do Presidente, Sergio Mattarella, que, de acordo com o Corriere della Sera, não quer um Governo “intocável” de Matteo Salvini (líder da Liga) e de Luigi di Maio (líder do Movimento 5 Estrelas). Segundo um responsável que esteve presente na reunião entre Mattarella e Giuseppe Conte (nome escolhido para o cargo de primeiro-ministro), o Presidente sublinhou a necessidade de Itália cumprir as regras orçamentais e de garantir a sua estabilidade financeira. “Tenho noção de que é necessário confirmar a posição de Itália na Europa”, reconheceu Conte à saída da última reunião com Mattarella.

Na sequência destas notícias, o La Stampa avança que o professor de Economia Luigi Zingales, mais próximo do M5S, é um dos nomes colocados em cima da mesa para substituir Savona — muito embora, diz o Termometro Politico, o cargo de ministro das Finanças tenha alegadamente ficado sob alçada da Liga no acordo entre os dois partidos.

A incerteza em torno da formação de governo em Itália — com especial atenção para quem fica com a pasta das Finanças — está a dominar as atenções nos mercados financeiros, provocando, também, algum contágio a outros países como Espanha e Portugal. O risco da dívida pública portuguesa e espanhola, medido pelo custo dos seguros contra incumprimento (credit default swaps), agravou-se em 60% desde os níveis mais baixos dos últimos meses.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O que está a preocupar os investidores é que “o novo governo italiano vai seguir uma política orçamental que é demasiado expansionista, num contexto de uma dívida pública que já é demasiado elevada”. Esta é a análise do Commerzbank, um dos vários bancos de investimento que estão a publicar notas de investimento em que tentam antever o risco de um ressurgimento da crise da dívida na Europa.

Esse risco “é improvável no curto prazo”, diz o banco alemão, “mas só por causa da política do BCE”, que está a “atuar como investidor-âncora e está a impedir o aumento das taxas de juro” através das compras no mercado e da taxa dos depósitos fixada num nível negativo. “Além disso, há que recordar que continua em vigor a promessa que Mario Draghi [o presidente do Banco Central Europeu] fez em 2012 de que fará ‘tudo o que for necessário’ para assegurar que a união monetária continua intacta”, remata o banco alemão.

Quem é (e como pensa) Luigi Zingales?

Zingales é doutorado em Economia pelo MIT e dá aulas na Chicago Booth School of Business, nos EUA. Das suas ideias políticas sabe-se que, ao contrário de Savona, não defende uma saída de Itália da zona Euro. “Uma saída unilateral teria consequências muito traumáticas”, declarou o economista à versão italiana da Vanity Fair em março.

Na mesma entrevista, o professor deixou claro que, no entanto, considera que são necessárias mudanças na política económica europeia. “Não podemos ignorar o facto de que mais de 50% dos italianos mostraram um grande descontentamento com a Europa. O sonho dos pró-europeus rompeu-se rapidamente, o vento sopra em direção contrária e, se a Europa quer sobreviver, precisa de mudar”, declarou Zingales.

Em termos económicos, o professor fez o que considera ser o diagnóstico dos problemas italianos num artigo de opinião publicado na Foreign Policy, no final de fevereiro, onde comparava o país ao Costa Concordia, o navio que naufragou no Mediterrâneo em 2012: “Falta de aumento da produtividade, uma perspetiva demográfica muito negra, níveis de dívida pública opressivos e um impasse político na zona Euro que deixa o país em risco contínuo de ataques especulativos.”

No mesmo artigo, Zingales deixava antever as suas convicções políticas. Criticando, no entanto, o nacionalismo e o populismo, o economista escrevia que “o anti-sistema M5S é o único partido que parece dar prioridade ao problema da corrupção e da falta de meritocracia na sociedade italiana”.

Zingales é um crítico de longa data de vários políticos italianos. Em 2011, relembra o New York Times, o italiano escreveu um artigo de opinião onde não só classificou como “assustadora” a perspetiva de Donald Trump poder vir a ser Presidente dos Estados Unidos, como comparou o milionário norte-americano a Silvio Berlusconi — um homem que, defende, foi “devastador para Itália”.

O economista deu nas vistas nos Estados Unidos no início deste ano ao convidar o ex-conselheiro de Trump e antigo diretor do site Breitbart, Steve Bannon, para uma conferência na Universidade de Chicago. “Quer se concorde com ele ou não (e eu pessoalmente não concordo), o senhor Bannon conseguiu interpretar e representar o descontentamento na América”, justificou Zingales.